Os clubes de futebol brasileiros são, ao mesmo tempo, heróis e vilões de si mesmos no processo de decadência que o esporte vive no País, especialmente depois do fracasso na Copa do Mundo que jogou em casa. São vilões por não terem gestões responsáveis, e heróis por conseguirem resistir há tanto tempo, como poucas instituições privadas foram capazes.
Esta foi uma das conclusões do debate “Clubes de futebol são heróis ou vilões?”, realizado na noite desta segunda-feira (11) pelo Espaço Democrático – a fundação do PSD para estudos e formação política. Este foi o 18º encontro do ciclo “Desatando os nós que atrasam o Brasil”, iniciado no final de 2011.
Veja, em vídeo, o depoimento dos participantes sobre o debate:
Participaram do encontro, transmitido em tempo real pela internet no site nacional do PSD, o vereador paulistano Marco Aurélio Cunha (PSD), que foi dirigente do São Paulo Futebol Clube; o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi; o ex-secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação do município de São Paulo Antônio Moreno Neto, que foi presidente do Esporte Clube Pinheiros, de São Paulo; e o deputado federal Guilherme Campos (PSD-SP) .
Administrar o clube com racionalidade e responsabilidade, diante das pressões de torcedores para montar times competitivos e com grandes jogadores é, segundo Marco Aurélio Cunha, uma das maiores dificuldades que os dirigentes de clubes enfrentam. Ele contou a recente conversa que teve com diretores do Flamengo, que está fazendo esforços para zerar dívidas e obter certidões negativas de débitos fiscais. “Ouvi depoimentos de arrependimento; eles dizem que estão salvando o clube, mas como têm que sacrificar o time, são taxados de péssimos dirigentes”. O ex-dirigente do São Paulo lembrou que muitas vezes nem mesmo outros diretores apoiam a austeridade de gestão.
O deputado Guilherme Campos falou sobre alguns pontos da proposta que está tramitando na Câmara Federal, para refinanciar as dívidas fiscais dos clubes. Segundo ele, uma das mais importantes alterações propostas é a da exigência da CND (Certidão Negativa de Débitos Fiscais) dos clubes no início de cada campeonato. “Quem não estiver em dia automaticamente será rebaixado de divisão”, disse. Campos disse que a ideia já foi aprovada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), federações estaduais e clubes. Mas o projeto ainda deve render muitos debates em Brasília.
Para o ex-presidente do Clube Pinheiros Antônio Moreno Neto, “os clubes investem exagerada e irresponsavelmente para atender aos torcedores, sacrificando a gestão e o cumprimento das obrigações”. Para ele, a solução passa por profissionalizar a administração.
O consultor Amir Somoggi, por sua vez, apontou a necessidade de estimular a competitividade dos clubes, e destacou que a televisão pode ter participação importante neste processo. “Na Itália, a diferença de cotas entre um grande clube e um pequeno é de duas vezes e meia a três, enquanto no Brasil chega a dez”. Moreno Neto destacou que os clubes se tornaram reféns da televisão, e lembrou o recente episódio envolvendo o Metrô de São Paulo, que teve de alterar o horário de funcionamento da linha que atende a Arena Corinthians nos dias em que os jogos começam às 22h. “Não se muda o horário do jogo por causa da novela, em prejuízo de milhares de pessoas”.
Respondendo à pergunta de uma torcedora consultada nas ruas, Marco Aurélio manifestou o temor de que o Brasil deixe de produzir talentos por falta de investimentos. A CBF, segundo ele, “deve se preocupar em repassar recursos para fortalecer as séries C e D” e os clubes que estão fora do eixo principal. “São Paulo não tem mais espaços para formar talentos, só tem escolinhas que formam atletas, sem talento”.
O debate foi conduzido pelo jornalista Sérgio Rondino e teve a participação do cientista político Rubens Figueiredo, coordenador de conteúdo do Espaço Democrático. O ciclo “Desatando os nós que atrasam o Brasil” já está em seu terceiro ano. O propósito é reunir sugestões para solucionar os grandes problemas que travam o desenvolvimento econômico e social do País. Desde o final de 2011 foram debatidos temas como saúde, educação, segurança pública, empreendedorismo, economia criativa e qualidade de vida, entre outros. O propósito da série de debates é sugerir ideias e propostas que podem ser encampadas pelo partido.