Texto Estação do Autor com DW
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Hoje indispensável, o passaporte, um simples pedaço de papel, pode influenciar fortemente a vida de seu portador. Com fotos biométricas, códigos de barras, hologramas, microchips, o passaporte moderno é quase um gadget tecnológico. Para alguns, ele abre as portas para o mundo. Para outros, é sinônimo de restrições e grandes dificuldades. Com informações de Rayna Breuer, reportagem da revista alemã DW conta a história desse documento de viagem que remete ao século 14.
Naquela época, a Europa era assombrada pela peste negra, também conhecida como peste bubônica, e cidades como Veneza buscavam soluções para conter a doença transmitida por pulgas e ratos. Nascia aí a “carta da peste”, um atestado obrigatório para viajantes. Quem vinha de uma região com casos da doença era barrado na entrada de Veneza. O documento não era associado à nacionalidade, e sim ao local de residência, considerando que a criação de Estados-nação só aconteceria alguns séculos mais tarde. A associação entre passaporte e nacionalidade só veio no século 20.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial surgiu a ideia de criar um padrão internacional para passaportes e a tarefa coube à Liga das Nações, precursora da ONU. Hermine Diebolt, funcionária da ONU em Genebra, afirma que o documento existe há cerca de 100 anos. Antes disso, durante a guerra, países como Alemanha, França, Reino Unido e Itália já exigiam documentos oficiais de estrangeiros.
Nem todos aprovaram o passaporte. Críticos argumentaram que o documento servia mais para controlar viajantes do que para oferecer liberdade. Alguns líderes defendiam a continuidade da livre circulação sem documentos. Também na esfera pública e na imprensa houve rejeição. Entretanto, já era tarde. Os membros da Liga das Nações não conseguiram chegar a um acordo sobre um mundo sem controle de fronteiras e passaportes.
Passaportes são hoje documentos cobiçados tanto no mercado legal quanto no ilegal. Países como Chipre e Portugal criaram programas que concediam passaportes ou vistos em troca de investimentos. Chipre encerrou seu programa após denúncias de corrupção, enquanto Portugal reformulou suas regras devido a críticas relacionadas à especulação imobiliária.