Texto Estação do Autor com The New York Times/Folha de S.Paulo
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A Inteligência Artificial (IA) é frequentemente criticada por criar informações que parecem factuais, mas são falsas, fenômeno conhecido como “alucinação”. Alguns erros já provocaram confusão em sessões de chatbots, processos judiciais e em registros médicos. Já no campo da ciência, os inovadores estão descobrindo que tais alucinações podem ser extremamente úteis. As máquinas inteligentes são capazes de “sonhar” com irrealidades que permitem rastrear o câncer, projetar medicamentos, criar dispositivos médicos, descobrir eventos climáticos e até alcançar o Prêmio Nobel.
Em reportagem do The New York Times publicada pela Folha de S.Paulo (assinantes), a diretora do instituto de IA e professora de meteorologia e ciência da computação na Universidade de Oklahoma Amy McGovern comenta que ao contrário do que muitos pensam, nem tudo é ruim nessa tecnologia. Na verdade, ela dá aos cientistas novas ideias, oferecendo a chance de explorar possibilidades que talvez nunca tivessem considerado.
As alucinações da IA surgem quando cientistas ensinam modelos computacionais generativos sobre determinado assunto e deixam as máquinas reorganizarem essas informações. Os resultados podem variar entre erros sutis e ideias surreais e às vezes levam a grandes descobertas. Hoje, as alucinações da IA estão revitalizando o lado criativo da ciência, acelerando o desenvolvimento e teste de ideias, permitindo que ciclos antes demorados sejam realizados em dias, horas ou minutos.
Em outubro, David Baker, da Universidade de Washington, recebeu o Prêmio Nobel de Química por sua pesquisa pioneira sobre proteínas, moléculas fundamentais para a vida. O comitê do Nobel destacou sua capacidade de criar rapidamente proteínas completamente novas, inexistentes na natureza, chamando o feito de “quase impossível”.
Antes do anúncio do prêmio, Baker declarou que os surtos de imaginação da IA foram essenciais para “fazer proteínas do zero”. A nova tecnologia, diz ele, ajudou seu laboratório a obter cerca de cem patentes, muitas voltadas para o cuidado médico. Uma delas é para um novo tratamento contra o câncer; outra, para combater infecções virais globalmente.
Especialistas reconhecem que as criações da IA científica têm vantagens significativas em relação às alucinações de chatbots. Essencialmente, os impulsos criativos da IA estão fundamentados nos fatos sólidos da natureza e da ciência, diferentemente das ambiguidades da linguagem humana ou das falhas da internet, com seus vieses e inverdades.