
Do total de povos livres, 37 estão em áreas sem qualquer tipo de proteção, o que os deixa vulneráveis a invasões, exploração ilegal de recursos naturais e conflitos territoriais.
Texto Estação do Autor com Agência Brasil
Edição Scriptum
No Brasil, há registros de que 119 povos indígenas – também chamados de povos livres – vivem em isolamento voluntário. Destes, 37 estão em áreas sem qualquer tipo de proteção, o que os deixa vulneráveis a invasões, exploração ilegal de recursos naturais e conflitos territoriais. Essa exposição representa uma ameaça não apenas à sua segurança, mas também à preservação de suas culturas, modos de vida e existência.
Diferentemente dos dados que entidades indigenistas produzem regularmente e com mais facilidade, as informações sobre os povos livres exigem um tratamento especial, já que os grupos assim classificados levam esse nome por evitar a convivência com outras pessoas, sejam não indígenas, sejam de outros agrupamentos originários, geralmente devido a atos de violência que eles sofreram. Os dados constam do livro Povos Indígenas Livres/Isolados na Amazônia e Grande Chaco, organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e lançado recentemente na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Brasília, conforme mostra a reportagem de Letycia Bond para a Agência Brasil.
Para um dos organizadores do livro, o antropólogo e docente da área na Universidade Federal do Amazonas Lino João de Oliveira Neves, ao não identificar os povos isolados as autoridades expõem sua negligência em relação a eles. O antropólogo ressalta que essa omissão não é exclusividade do Brasil e deixa subentendido que, sem o reconhecimento formal, os governantes evitam responsabilidades, inclusive as constitucionais.
Assim como Neves, que entende o livro lançado como “um chamado para a consciência coletiva”, o missionário do Cimi e historiador Guenter Francisco Loebens acredita no potencial de mobilização da publicação. Ele destaca que grande parte desses povos está localizada em regiões de fronteira. Fato que remete a uma discussão sobre sua proteção, levando em conta a necessidade de cooperação entre os países, para formular políticas mais adequadas, explica.
Em debate durante o evento, Daniel Aristizabal, secretário do Grupo de Trabalho Internacional para a Proteção dos Povos Indígenas Isolados e Contato Inicial (GTI-PIACI), evocou o princípio da autodeterminação que, quando respeitado, permite que cada povo mantenha intacto o modo de viver que deseja seguir. “É nosso sonho que possam permanecer nessa condição”, disse. “Devemos lembrar que esses são os últimos povos que ainda são resistência à colonização.”