
Mais de 95% dos alunos matriculados em cursos à distância estudam em faculdades particulares.
Edição Scriptum com Estação do Autor e Folha de S.Paulo
Pela primeira vez na história, o Brasil registrou mais alunos em cursos de graduação a distância (EaD) do que na modalidade presencial. De acordo com os dados do Censo do Ensino Superior 2024, divulgados nesta segunda-feira, dos 10,22 milhões de estudantes do ensino superior no País, 5,18 milhões estavam matriculados no EaD em 2024, representando 50,75% do total.
Reportagem de Isabela Palhares e José Matheus Santos para a Folha de S.Paulo (assinantes) mostra que desde 2020 o País já tem mais estudantes ingressando em cursos a distância do que em graduações presenciais, mas é a primeira vez que isso ocorre também no total de matriculados do ensino superior. Mais de 95% dos alunos matriculados em cursos à distância estudam em faculdades particulares.
Segundo Carlos Moreno, diretor de estatísticas do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o EaD tem levado ao encolhimento de cursos presenciais noturnos. Em 2014, as graduações com aulas à noite tinham mais de 4 milhões de estudantes. Em 2024, tinham apenas 2,7 milhões, uma queda de 33,2%.
Além da estabilidade natural no período pós-pandemia, a desaceleração acontece após o Ministério da Educação anunciar uma série de medidas na tentativa de melhorar a qualidade e a regulação desses cursos. A expansão dos cursos a distância favoreceu sobretudo os grandes grupos educacionais. Segundo o Censo, quatro Estados concentram 88% das instituições que oferecem EaD: Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro.
Em maio deste ano foi assinado um decreto em que limita a oferta do ensino on-line em graduações da área da saúde e licenciatura, que tiveram o maior aumento de matrícula nos últimos anos. O MEC defende que as mudanças buscam garantir melhor qualidade na formação de profissões que exigem aprendizado prático, como enfermeiros e professores. O decreto cria uma nova modalidade de cursos, os semipresenciais, elenca cursos vetados para EaD e revê limites de atividades remotas nos cursos presenciais. Também foi vetada a oferta de cursos a distância em medicina, direito, odontologia, enfermagem e psicologia. Demais cursos de saúde e licenciaturas só poderão ser oferecidos nos formatos presencial ou semipresencial.
Na avaliação de Rodrigo Capelato, diretor do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior), o formato deve sofrer uma estabilização nos próximos anos. Para ele, esse é um movimento natural de saturação do mercado.