Texto: Estação do Autor com DW
Edição: Scriptum
O imunizante que impede que a cocaína e seus derivados, como o crack, chegue ao cérebro está sendo desenvolvido por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal da Minas Gerais). Testada em laboratório, a vacina mostrou eficiência na proteção de grávidas. Batizado de Calixcoca, o medicamento imunológico reduz os abortos espontâneos, gera o ganho de peso nos fetos e os protege da dependência adquirida pela mãe.
Nos testes com ratos, os anticorpos produzidos pela Calixcoca impediram, por meio de uma molécula sintética, que a cocaína fosse levada pelo sangue para o sistema nervoso central. A pesquisa, que é uma das finalistas do Prêmio Euro de Inovação em Saúde – América Latina, é tema da reportagem de Fábio Corrêa para o site DW.
Os números são impressionantes. Dados do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime revelam que, atualmente, são cerca de 275 milhões de usuários de crack e cocaína em todo mundo. Sendo que desses, 36 milhões sofrem de transtornos associados ao uso das substâncias. No Brasil, essas drogas respondem por 11% de todos os tratamentos de dependência. Nos grandes centros urbanos, como São Paulo, a “cracolândia” é um dos maiores e mais complexos desafios da saúde pública.
Estudado desde 2015, o imunizante já passou por testes pré-clínicos com ratos. Frederico Garcia, pesquisador responsável pelo desenvolvimento do medicamento e professor do Departamento de Saúde Mental da UFMG acredita que, assim como nos modelos animais, em humanos seja possível impedir a reativação do circuito cerebral que leva à compulsão pela droga. Além dos brasileiros, duas outras instituições estão desenvolvendo vacinas similares. A John Cristal e a Georg Koob, ambas nos EUA.
Para Garcia, um dos principais problemas no tratamento do vício da cocaína e de seus derivados é que não há nenhum medicamento específico para o problema. Geralmente, são usados medicamentos para outras doenças, como antidepressivos, que tentam melhorar os sintomas de abstinência e a compulsão, explica.
Para Garcia, a Calixcoca poderia aliviar a epidemia que o mundo atravessa. “Ela facilitaria muito o tratamento dessas pessoas com dependência e daria uma perspectiva para a recuperação delas e das famílias atingidas por essa grave doença”, conclui o pesquisador.