Texto: Estação do Autor com Folha de S.Paulo
Edição: Scriptum
A partir deste ano, uma nova voz da urna eletrônica poderá ser ouvida pelos 216 mil eleitores com deficiência visual cadastrados para votar, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A atriz e cantora Sara Bentes sempre sonhou em dar voz a uma ferramenta de leitura de tela, recurso que, por ser cega, ela usa desde a adolescência. As urnas passarão a usar o software Letícia, batizado em homenagem ao segundo nome de Sara. O sistema de leitura de tela foi desenvolvido por programadores cegos.
Em reportagem de Luany Galdeano para a Folha de S.Paulo (assinantes) Sara diz que sua expectativa é que mais eleitores com deficiência visual se sintam seguros para votar, com autonomia e motivados em utilizar a urna com muito mais precisão.
Para atender a demanda da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), que reivindicava uma voz menos robótica e mais compreensível nas urnas, Sara gravou frases curtas e aleatórias. Com base no banco de dados gerado por sua voz, uma inteligência artificial identificou o padrão de fala da artista, desde a entonação até momentos de pausa e pontuação, criando a voz sintetizada.
A equipe da seção de voto informatizado do TSE foi responsável pela integração do recurso à urna.
As máquinas usadas nas duas últimas eleições, em 2020 e 2022, já contavam com um sintetizador de voz. No entanto, a falta de entonação adequada dificultava o entendimento de algumas palavras, como o nome dos candidatos, por exemplo.
Para Alberto Pereira, presidente da ONCB, tornar a voz das urnas mais compreensível, sobretudo por ter sido gravada por uma pessoa cega, é um indício da ampliação da acessibilidade. Ainda que não seja exatamente uma inovação é, segundo Pereira, o aprimoramento de um processo histórico de respeito às pessoas cegas e com baixa visão.
O TSE informa que todas as urnas eletrônicas terão a leitura de tela. O eleitor deve pedir ao mesário para ativar o recurso e, na hora de votar, receberá fones de ouvido.