Texto: Estação do Autor com DW
Edição: Scriptum
Os horrores da guerra causam traumas na primeira infância e podem reconfigurar o cérebro em caráter permanente. Autoridades alertam que hoje, mais do que nunca, as maiores vítimas dessas disputas geopolíticas são crianças. Muitas das batalhas acontecem em cidades e áreas densamente habitadas. Para o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, as crianças estão carregando o peso dos conflitos modernos de forma “desproporcional”.
Há 30 anos não se via tamanha violência ao redor do mundo. Além das guerras na Ucrânia e entre Israel e o Hamas, no Oriente Médio, existem ao menos outros 110 conflitos armados acontecendo na África, Ásia, América Latina e Europa.
Reportagem de Fred Schwaller para o site DW apresenta um cenário no qual crianças que vivem em zonas de conflito são recrutadas para o combate. Outras são abusadas sexualmente por agressores armados. Independente de terem ou não sua integridade física violada, passam por um sofrimento psicológico profundo. Segundo especialistas, o resultado desses traumas é que futuramente milhões de pessoas devem sofrer com altos níveis de problemas de saúde mental e psiquiátrica.
Na Ucrânia, assistentes psicossociais temem que a longa duração da guerra provoque atrasos severos no desenvolvimento das crianças. Christoph Anacker, neurocientista da Universidade de Columbia nos Estados Unidos, explica que o trauma nessa fase inicial da vida altera as respostas ao estresse e ao medo no cérebro, “ensinando-o” a ser mais suscetível ao estresse na vida adulta.
Durante a infância, o cérebro passa pelo que especialistas chamam de “períodos sensíveis” do desenvolvimento. Se uma criança é hiperestimulada por causa de um luto ou da ansiedade de estar sob um bombardeio, ou se é privada de estímulos sociais e emocionais durante esses períodos, como acontece quando são separadas da família, por exemplo, Anacker diz que isso pode levar a uma reconfiguração do cérebro. O dano que isso causa é irreparável, afirma. “Não há maneiras eficazes de reverter os efeitos do trauma infantil em adultos.”