
Fenômeno pode estar relacionado ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho, ao marketing direcionado e à pandemia, segundo a pesquisa
Edição Scriptum com Estação do Autor e Folha de S.Paulo
Os números preocupam. O consumo abusivo de bebidas alcoólicas entre mulheres brasileiras praticamente dobrou entre 2006 e 2023, passando de 7,7% para 15,2%. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia.
Reportagem de Vitor Hugo Batista para a Folha de S.Paulo (assinantes) revela que a diferença entre os gêneros sugere mudanças significativas no padrão de consumo de álcool entre mulheres nos últimos anos. O que pode estar relacionado ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho, ao marketing direcionado e à pandemia, segundo a pesquisa.
O estudo usou dados do Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças), um inquérito telefônico anual do Ministério da Saúde com adultos a partir de 18 anos que moram nas capitais brasileiras. Foi considerado consumo abusivo de bebida alcoólica a ingestão de cinco ou mais doses de álcool para homens, e de quatro ou mais doses para mulheres, pelo menos uma vez nos últimos 30 dias.
Deborah Malta, professora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, envolvida no estudo, afirma que o aumento do consumo abusivo de álcool entre mulheres é semelhante ao que ocorreu historicamente com o tabagismo. A professora explica que, na década de 1960, as mulheres também começaram a fumar como parte de um processo de empoderamento. À medida que elas passaram a participar ativamente do mercado de trabalho e a conquistar seu espaço, fumar acabou se tornando um símbolo de igualdade em relação aos homens, diz Malta.
Em sua opinião, um movimento parecido ocorre agora. As mulheres estão presentes em todos os setores, com maior poder aquisitivo e em posições de liderança. Buscar igualdade com os homens também significa assumir práticas e comportamentos semelhantes, incluindo o consumo de álcool. A pesquisadora também destaca o papel do marketing fortemente direcionado para ampliar o mercado entre as mulheres.
Diante dos resultados e para tentar frear essa tendência, Malta sugere uma série de medidas regulatórias e educativas, entre elas campanhas de informação eficazes sobre os malefícios do álcool na saúde. Além disso, a professora alerta que, sem essas medidas, as metas nacionais de redução do consumo de álcool, que preveem redução de 10% nos próximos anos, dificilmente serão alcançadas.