Texto Estação do Autor com Jornal da USP
Edição Scriptum
Em quatro anos, cerca de 6,7 milhões de brasileiros se afastaram do hábito da leitura. Diversos fatores, entre eles a falta de tempo, o desinteresse e a preferência por outras atividades, como consumir conteúdos nas redes sociais, são responsáveis por esse número. Os dados são da sexta edição da pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, realizada em 2024.
Segundo o relatório, leitor é “aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro de qualquer gênero, impresso ou digital, nos últimos três meses”. Apenas 27% dos entrevistados terminaram a leitura de uma obra por completo, no período trimestral anterior às entrevistas.
Em reportagem de Isabella Lopes para o Jornal da USP Carlota Boto, professora de Filosofia da Educação e diretora da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Federal de São Paulo, afirma que a prática de ler deve ser incentivada desde a infância: “A leitura possibilita para as crianças a independência em relação à cultura letrada. Possibilita o contato com o mundo da imaginação e com as narrativas”. Segundo ela, por meio da leitura ocorre o desenvolvimento da postura crítico-criativa desde cedo.
Dos entrevistados, 17% foram influenciados pela família para gostar da atividade: 9% pela mãe ou responsável do sexo feminino, 4% por algum parente e 4% pelo pai ou figura do sexo masculino. Carlota destaca a importância da prática de pais que, diante de crianças que ainda não estão alfabetizadas, leem o livro para elas, facilitando o encanto pela leitura.
A professora cita o papel da escola na promoção da literatura. De acordo com levantamento da Associação dos Membros de Contas do Brasil (Atricon), três em cada dez escolas públicas brasileiras têm bibliotecas e 18 milhões de estudantes frequentam instituições sem elas. A diretora da Faculdade de Educação da USP salienta que a leitura dos adolescentes está baseada em obras indicadas por professores ou vestibulares. Em relação aos adultos e idosos as obras consumidas são mais próximas de seus gostos pessoais.
Ainda segundo a pesquisa, a média de obras lidas por inteiro, nos três meses anteriores às entrevistas, foi de 2,04. Um valor inferior comparado com o que foi mostrado na edição de 2019, quando o número era de cerca de 2,6 obras. Para a professora, essa redução se dá pela dinâmica da vida atual. “Somos uma sociedade multifacetada. Hoje, assistimos à televisão ao mesmo tempo em que lemos um texto, ao mesmo tempo que estamos com o celular ligado ao lado, então, tudo isso vai, evidentemente, dispersar a concentração”. Para ela, as atividades digitais são mais atrativas pela conectividade rápida e imediata, primordiais na chamada era da dopamina. Os aplicativos e interações on-line são feitos para estimular a liberação desse hormônio do prazer e da busca por recompensas.