
Brasil lidera a média de preços de transporte aéreo na América Latina, mesmo quando comparadas rotas com distâncias semelhantes em outros países.
Edição Scriptum com Estação do Autor e DW
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) a ser realizada em Belém chamou a atenção para as elevadas tarifas dos voos cobradas no mercado doméstico. O Brasil lidera a média de preços de transporte aéreo na América Latina, mesmo quando comparadas rotas com distâncias semelhantes em outros países. A falta de companhias low cost, concentração e alto custo estrutural agravam o cenário.
Reportagem de Matheus Gouvea de Andrade para o site DW lista alguns dos motivos que levam o Brasil a liderar a média de preços de voos domésticos no continente, segundo levantamento da plataforma de inteligência turística Mabrian. O estudo projeta, por exemplo, uma alta de 12,2% nos preços dos bilhetes brasileiros neste ano, enquanto os peruanos devem subir apenas 1,7%.
O modelo de companhias low cost, que propicia passagens mais baratas mediante pagamento extra por serviços, cresce na América Latina, mas não no Brasil. A concentração do mercado em apenas três empresas aéreas (Gol, Azul e Latam) que cumprem papéis semelhantes é um fator citado por analistas como um dos que leva ao atual quadro no País.
“O alto custo estrutural, a pesada carga tributária, a instabilidade monetária em um setor onde as aeronaves são financiadas em dólares, mas as receitas são em reais, e a infraestrutura limitada tornou mais difícil replicar o que aconteceu em outros países”, afirma Emilio Inés Villar, responsável de turismo internacional na The Data Appeal Company – Almawave Group.
Na comparação com os mercados mais consolidados da Europa e dos Estados Unidos há ainda a diferença entre disponibilidade de mais aeroportos. Cidades como Nova York e Paris contam com diversas opções em seus arredores, com as companhias de baixo custo frequentemente optando por utilizar aeroportos mais afastados, o que diminui seus encargos, aponta Olivier Girard, sócio fundador da Macroinfra.
Outro fator que eleva os preços no Brasil é a falta de modais alternativos de transporte, apontam os especialistas. “Não há concorrência do trem. No caso de Rio-São Paulo, é uma das únicas rotas dentre as mais procuradas no mundo que não tem essa alternativa”, aponta Dalberto Felibiano, especialista em economia do transporte aéreo. A ausência de meios eficazes e rápidos como os trens de alta velocidade que ligam boa parte das principais cidades europeias acaba sobrecarregando a demanda pelos voos nestes casos de distâncias mais curtas, avalia.