Texto: Estação do Autor com BBC News
Edição: Scriptum
Um português “purista” recentemente denunciou em uma rede social de conteúdos anti-imigração a existência de uma placa de trânsito escrita em “português brasileiro” em Sintra, na região metropolitana de Lisboa. A sinalização, segundo o autor da mensagem, “assassina a língua de Camões que é o português europeu”. O que se coloca em pauta na realidade é o quanto o “brasileiro” influencia o idioma de Portugal.
Ainda que existam outras leituras sobre a grafia da placa, o episódio reflete a posição de portugueses que rejeitam a presença de palavras e expressões brasileiras na língua falada em seu país. Reportagem de Julia Braun para a BBC destaca a opinião de linguistas e professores sobre o assunto.
Para Fernando Venâncio, linguista português que estuda o tema há décadas, há sim uma presença cada vez maior de traços importados do outro lado do Atlântico no idioma falado em terras portuguesas. Entretanto, isso não é novidade. Desde o final da década de 1970 e princípio dos anos 80, “houve uma aquisição de brasileirismos gigantesca”, diz Venâncio.
Na época, isso foi um reflexo do sucesso das novelas brasileiras em Portugal. Hoje, existe um novo fenômeno envolvendo principalmente crianças e adolescentes que acessam cada vez mais youtubers brasileiros, justifica o linguista.
Já Graça Rio-Torto, professora de Linguística da Universidade de Coimbra, considera as novas construções e palavras aprendidas pelas crianças e jovens portugueses como aprendizados positivos. Em sua opinião isso enriquece o léxico dessas crianças. “Mas, se os pais portugueses têm preocupação com o fato dos seus filhos estarem a falar mais abrasileirado, lamento. Mas os responsáveis são eles. Não é tanto o contato com colegas brasileiros na escola que fazem com que elas falem assim, mas o número de horas que os pais permitem que elas fiquem na internet”, declara a professora. Para ela, essa é uma moda como outra qualquer e como tal circunscrita no tempo.