
Robô atuou com a expertise de um cirurgião humano experiente, mesmo diante de cenários inesperados típicos de emergências médicas reais.
Edição Scriptum com Estação do Autor e O Globo
Um robô controlado por inteligência artificial realizou pela primeira vez, de forma autônoma, uma cirurgia em tecido humano. A operação, feita na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foi uma colecistectomia, a remoção da vesícula biliar.
Reportagem de Bernardo Yoneshigue para o jornal O Globo (assinantes) detalha o estudo publicado nesta semana na revista científica Science Robotics. Segundo Axel Krieger, especialista da universidade responsável pelo projeto, “esse avanço nos leva de robôs que conseguem executar tarefas cirúrgicas específicas para robôs que realmente compreendem os procedimentos cirúrgicos”.
De acordo com os cientistas, o robô atuou com a expertise de um cirurgião humano experiente, mesmo diante de cenários inesperados típicos de emergências médicas reais.
Há três anos, em 2022, uma versão anterior do robô, chamada de STAR (Smart Tissue Autonomous Robot, “robô autônomo para tecidos inteligentes”, em português), realizou a primeira cirurgia autônoma em um animal vivo, uma laparoscopia em um porco. No entanto, a tecnologia seguia um plano rígido e pré-determinado. Agora, a técnica evoluiu.
Batizada de SRT-H (Hierarchical Surgical Robot Transformer), “transformador de robô cirúrgico hierárquico”, em português, a nova versão usa o mesmo aprendizado de máquina que alimenta o ChatGPT, da OpenAI, e é também interativo, ou seja, capaz de responder a comandos falados
A cirurgiã Jordanna Diniz Osaki, presidente da regional do Distrito Federal da Sociedade Brasileira de Videocirurgia, Robótica e Digital (Sobracil), avalia que não deve demorar para o robô guiado por IA aparecer na prática em procedimentos simples se tornando realidade clínica nos próximos anos.
Há questões importantes a serem discutidas, como a necessidade de comprovar uma segurança no mínimo igual à de uma cirurgia feita por um humano e solucionar questões éticas, como de quem será a culpa caso o robô autônomo provoque um erro durante o procedimento.
Ainda que a tecnologia avance a passos largos, para Carlos Eduardo Domene, professor livre-docente pela USP e secretário-geral da Sobracil, a supervisão de um médico humano na sala ou de forma remota será sempre algo necessário, mesmo que os robôs se mostrem seguros e eficientes.