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‘Se seus filhos têm celular, quem manda neles são as redes sociais’, diz pediatra

Para ele, brincar é a coisa mais importante da infância: “Uma infância que não brinca gera adultos estúpidos, infelizes, deprimidos, violentos e intolerantes”.

O pediatra Daniel Becker: celular tem um apelo viciante profundo e o adulto se perde nas redes sociais, deixando de olhar para a criança.

 

 

Texto Estação do Autor com BBC News Brasil

Edição Scriptum

 

Mantenha o celular longe de suas crianças. Quem alerta é o pediatra e ativista pela infância, como se define, Daniel Becker, uma das principais vozes quando o assunto é o bem-estar de crianças e adolescentes. Médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em saúde pública, considera que até a televisão é melhor do que o uso de celular por crianças.

Segundo Becker, parece algo básico, mas a vida agitada e especialmente o uso excessivo do celular está distanciando os adultos das crianças. Em entrevista concedida à BBC News, o especialista defende cuidados simples, como a interação com as crianças, brincadeiras ao ar livre, acolhimento e criação de intimidade com os filhos em contraponto ao uso descontrolado de telas digitais.

“Parentalidade distraída” é o nome que o pediatra dá aos adultos responsáveis por crianças e adolescentes que fazem um uso exagerado do telefone móvel. Para ele, o celular tem um apelo viciante profundo e o adulto se perde nas redes sociais, deixando de olhar para a criança. O aparelho acaba se interpondo entre o olhar do pai e do filho. Becker afirma que essa ligação é fundamental para a criança, porque é nesse olhar que ela vai encontrar o afeto, o carinho e o vínculo.

Sobre o projeto de lei para proibir o uso de celular nas escolas, em debate na Assembleia Legislativa de São Paulo, admite que a tecnologia está cada vez mais na vida das pessoas e que “as crianças não vão ficar fora disso”. O desafio é definir a partir de que idade a criança deve ter contato com uma tela digital, deve ter seu próprio celular e estar em uma rede social. O pediatra desaconselha que uma criança de 8 anos tenha um celular com acesso à internet. Quanto mais cedo tiver o aparelho, mais nocividade ela vai sofrer. Por isso, a recomendação é não entregar um celular nas mãos de crianças antes do fim do ensino fundamental. E não deixar que elas entrem em redes sociais antes dos 15, 16 anos.

A escola é um lugar estratégico, porque é regulamentada. É onde ainda é possível aplicar regras. As famílias não conseguem fazer isso, porque “ninguém consegue vencer a Meta [dona do Instagram, Facebook e WhatsApp] ou a ByteDance [dona do TikTok]. Quem manda nos seus filhos hoje, se eles têm celular, são essas empresas”.

Para o especialista, tem que proibir o uso de celular não só na sala de aula, como também no recreio. Brincar é a coisa mais importante da infância. Uma infância que não brinca gera adultos estúpidos, infelizes, deprimidos, violentos e intolerantes. “A escola tem que ser uma pausa dessa invasão do digital ao mundo real. É celular zero, da entrada até a saída”, declara.


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