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Servir aos ricos: livro de socióloga mostra como funciona a servidão moderna

Pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França mergulha nas relações de dependência que ocorrem nas luxuosas residências

Socióloga revela como o trabalho doméstico se relaciona com questões do mundo globalizado, como imigração e desigualdade.

 

Texto Estação do Autor com BBC News Mundo

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Ao contrário de escritores e cineastas que tentam desvendar o que acontece entre os ricos e seus empregados a portas fechadas para fins artísticos, a socióloga francesa Alizée Delpierre decidiu abordar a questão de forma científica. Ela queria entender os sofisticados sistemas de servidão que as pessoas mais ricas do mundo constroem dentro de suas casas para satisfazer suas necessidades e seus desejos excêntricos.

O resultado de anos de pesquisa sobre o tema está no livro Servir les riches – Les domestiques chez les grandes fortunes (Servir aos Ricos – O trabalho doméstico nas casas de milionários, em tradução livre). Alizée, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, mergulha nas relações de codependência que ocorrem nas luxuosas salas das residências francesas, mas que, com algumas variações, também se repetem em outras partes do mundo.

Em entrevista concedida à Santiago Vanegas para a BBC News a socióloga revela como o trabalho doméstico se relaciona com questões do mundo globalizado, como imigração e desigualdade.

O livro gerou muito interesse porque parte da pesquisa consistiu em se infiltrar na casa de milionários. Ela realizou muitas entrevistas com pessoas ricas e com empregados e empregadas, obtendo informações sobre a relação entre eles. No entanto, para estudar a relação entre os próprios empregados, as entrevistas não estavam servindo. Ao se tornar uma empregada nas casas dos ricos, pôde ver que entre os empregados existem hierarquias, relações de amizade, de amor, mas também de competição. São pessoas que podem ganhar muito servindo aos ricos, mas que precisam mostrar aos patrões que trabalham muito bem, que são dóceis e obedecem a todas as ordens, o que às vezes gera competição.

É impossível ignorar que a maioria das pessoas envolvidas no trabalho doméstico são mulheres, muitas vezes negras ou latinas. Delpierre afirma que raça e gênero são centrais na forma como se estrutura o setor. Nesse mercado, o currículo não é utilizado como critério de seleção e nem são exigidos diplomas. Os patrões precisam identificar outras qualidades para escolher os “melhores”. O que acontece é que essas habilidades são essencializadas. Por exemplo, apenas mulheres podem cuidar de crianças, porque se acredita que elas têm uma tendência natural para isso. Já os motoristas são sempre homens, por causa do preconceito de que eles sabem dirigir melhor.

Por fim, a socióloga deixa uma questão importante para todos, e não apenas para os ultrarricos. “O que fazemos com o trabalho doméstico? Devemos fazê-lo nós mesmos? Devemos pagar alguém para fazer? Devemos pedir aos nossos familiares que nos ajudem de graça? Essa é uma pergunta muito universal”.


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