Texto: Estação do Autor com Folha de S.Paulo
Edição: Scriptum
A Universidade de São Paulo (USP) inaugura em janeiro de 2025 uma usina que gera energia, fertilizantes e gás a partir da decomposição de resíduos orgânicos dos restaurantes da Cidade Universitária, na capital paulista. Os planos de expansão e replicação comercial da iniciativa ainda dependem da gestão integrada dos setores energético, agrícola e de saneamento, o que implica mudanças em marcos regulatórios federais, estaduais e municipais.
O projeto é desenvolvido desde 2018 no IEE (Instituto de Energia e Ambiente) e conta com uma equipe de 12 estudantes, docentes e técnicos da universidade. A um custo total de R$ 7,2 milhões, a usina começou a operar em 2021. Reportagem de Caio Reis para a Folha de S.Paulo (assinantes) traz detalhes do funcionamento da Usina de Produção de Bioenergia e Biofertilizantes com Resíduos Orgânicos, da USP.
Propondo uma sinergia entre os setores energético, agrícola e de saneamento, a usina produz energia elétrica e térmica, biocombustível e biofertilizantes em uma única planta industrial. O objetivo é demonstrar a viabilidade técnica, ambiental e econômica do aproveitamento integral da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU), como materiais de origem animal ou vegetal descartados.
Segundo Ildo Sauer, coordenador do projeto e vice-diretor do IEE, os aterros sanitários não aproveitam o potencial fertilizante da decomposição dos resíduos orgânicos e têm desperdício de biogás. A compostagem aproveita os fertilizantes, mas não a energia. No caso da usina o aproveitamento é total e mais eficiente, afirma.
Em pleno funcionamento, a usina pode processar 43,5 toneladas de resíduos orgânicos diariamente. Além de biogás, a decomposição produz digestato, um líquido escuro com propriedades fertilizantes.
Priscila Camiloti, docente do Instituto e integrante do projeto, explica que a usina emite 99,8% menos gases do efeito estufa que um aterro. Cada tonelada de resíduos orgânicos em um aterro libera 621,4 kg de CO2 equivalente, ante 1,47 kg na usina da USP.
De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, cada brasileiro gerou em média 1,04 kg de RSU por dia, somando 77 milhões de toneladas em 2022.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) prevê que 13,5% dos resíduos orgânicos sejam recuperados até 2040, com aproveitamento de 60% do biogás gerado em aterros e em usinas de digestão anaeróbia.