João Carlos Teixeira, da Agência Senado
Edição Scriptum
As eleições de 1974, que escolheram, pelo voto direto, um senador por Estado, além de deputados federais e estaduais, completam 50 anos no dia 15 de novembro. Aquele pleito é considerado um marco do período da ditadura militar, iniciada 10 anos antes com o golpe de 1964 e encerrada 10 anos mais tarde com a eleição indireta de Tancredo Neves para a presidência da República.
Mais do que a realização de eleições em meio a um período ditatorial, o resultado daquela disputa tem grande relevância para a história do País. Na ocasião, em que havia apenas dois partidos, a Arena, governista, e o MDB, de oposição, os emedebistas elegeram 16 senadores entre as 22 vagas em jogo (esse era o número de Estados com representação no Senado na época). O MDB obteve ainda 335 dos 787 deputados estaduais e 160 dos 364 deputados federais, aumentando significativamente suas bancadas nas assembleias, na Câmara e no Senado Federal
— Eu não tenho dúvida alguma de que a eleição para o Senado em 1974 deu novo fôlego e oxigênio à resistência democrática no País. As pessoas começaram a perceber que haviam possibilidades reais de um retorno ao Estado Democrático de Direito. Aquela eleição abalou as estruturas da ditadura militar — afirma o senador Paulo Paim (PT-RS), que na época trabalhava como metalúrgico e dava os primeiros passos na política sindical, que, mais tarde, foi um dos focos de mobilização contra a ditadura.
Para alcançar o que isso significou naquele momento e suas repercussões para o futuro, é preciso explicar o contexto daquelas eleições. Afinal, como é possível haver voto direto em meio a uma ditadura que limitava direitos individuais, proibia partidos de funcionar, fechava o Congresso, cassava políticos e, enfim, editava medidas que desrespeitavam o que dizia a própria Constituição vigente?
Esse paradoxo tem origem no próprio golpe de 1964. Apoiado pela classe média urbana e até por políticos, o regime que se instalou após a deposição do presidente João Goulart, a partir de abril daquele ano, prometia não “radicalizar o processo revolucionário” e “manter a Constituição de 1946”, como afirmava o Ato Institucional de 9 de abril, e devolver o País à normalidade democrática, confirmando a realização das eleições diretas marcadas para novembro de 1965.
Porém, à medida em que o tempo passava, os militares foram ampliando sua interferência no mundo político, chegando, por meio do Ato Institucional nº 2, de outubro daquele ano, a cancelar as eleições e a dissolver os partidos políticos, muitos deles em atuação desde o fim da ditadura do Estado Novo, em 1945.
No lugar, o regime criou um bipartidarismo, com a Aliança Renovadora Nacional (Arena) como partido de apoio ao governo e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) como agremiação para reunir a oposição ao regime.
A organização artificial da vida partidária desarticulou principalmente a oposição, assombrada pela cassação de políticos e pelos anos de maior perseguição a quem discordasse do regime militar. Naqueles anos, parte da resistência ao regime militar se expressava por meio de grupos guerrilheiros, que se recusavam a aceitar a institucionalização de um governo sem legitimidade democrática.
Vitória esmagadora
Naquele cenário, o primeiro teste do sistema com dois partidos foi a eleição de 1970, que era um aceno à suposta retomada das regras democráticas, ainda que de fachada. De fachada porque, segundo o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, aquelas eleições transcorreram “em clima de intimidação generalizada, quando o braço repressivo do sistema estava criando fortes raízes na maquinaria governamental, face à luta que então desenvolvia contra ousados grupos de guerrilheiros urbanos”, cujo ápice, acrescentou, se deu entre 1969 e 1972.
Esse período foi inaugurado pela edição do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968, considerado um marco da radicalização da ditadura, fechando o Congresso por quase um ano. Pior que as medidas institucionais, o AI-5 autorizava o governo a usar os meios necessários para assegurar “a ordem e a tranquilidade para realizar os propósitos” do golpe de 1964. A repressão, desenvolvida nos chamados “porões da ditadura”, perseguiu os opositores indistintamente e não só os grupos que defendiam a luta armada.
Durante toda a ditadura, marcadamente a partir de dezembro de 1968, o desaparecimento, a tortura e a morte foram praticados contra militantes de esquerda ou quem fosse considerado “subversivo” pela ditadura militar. Nos 20 anos daquele regime, mais de 50 mil pessoas foram presas, mais de sete mil foram indiciadas por crimes políticos e quase cinco mil tiveram seus direitos políticos cassados. O Estado brasileiro iniciou o reconhecimento das violações de direitos humanos pela ditadura somente após 1985, já no governo Sarney. A ditadura matou mais de mil camponeses e outras 475 pessoas foram mortas ou são consideradas desaparecidas, conforme dossiê publicado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.
As eleições de 1970 se realizaram nesse clima, com a oposição à ditadura dividida entre a participação e o boicote às eleições, seja pela abstenção, seja pelo voto nulo.
— Foi uma maluquice atrás da outra, a partir do Ato Institucional número dois, depois o três, o quatro, o cinco… até que culminou com o Congresso fechado. Ficamos num caos — afirmou o ex-senador Pedro Simon, em entrevista à Agência Senado em 18 de outubro de 2024.
Nesse ponto, a avaliação de Simon coincide com a do historiador André Teixeira Jacobina.
— A atividade política estava “degradada”, a apatia política disseminou-se entre as populações urbanas, sobretudo, e sem dúvida em primeiro lugar, entre o eleitorado da oposição, cujo partido chegou a abrigar até propostas de autodissolução — avaliou Jacobina em sua pesquisa de mestrado.
Com a oposição esvaziada, a Arena teve uma vitória esmagadora nas eleições de 15 de novembro de 1970, elegendo 39 senadores contra apenas cinco do MDB (havia 44 vagas em disputa, duas por Estado). Na Câmara, 223 deputados federais eleitos eram do partido governista e apenas 87 da oposição. Ao mesmo tempo, o pleito teve, nos cálculos de Wanderley Guilherme dos Santos, os mais altos números de votos brancos e nulos da história, que, somados à abstenção, chegaram a cerca de 50% do eleitorado.
O tamanho da representação política da oposição no Congresso — que sequer oferecia a quantidade mínima de assinaturas para abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), entre outras prerrogativas asseguradas às minorias — pouco incomodava a maioria governista, que chancelava as medidas propostas pelo governo do general Emílio Médici. Era ainda a época do chamado “milagre econômico”, anos em que o Produto Interno Brasileiro (PIB) registrou algumas das maiores taxas de crescimento da história.
Como resultado (até a seleção brasileira de futebol, campeã da Copa do Mundo de 1970, contribuía para um cenário de otimismo explorado pela ditadura), tanto governo quanto oposição tiveram a impressão de que a ditadura havia conquistado grande apoio popular.
Com o que sobrava na oposição, o MDB lançou em 1973 a “anticandidatura” de Ulysses Guimarães à presidência da República, como forma de demonstrar que, com eleições indiretas, não havia democracia no País. Em uma disputa absolutamente desigual, com imprensa censurada e recursos de campanha e acesso aos meios de comunicação mal distribuídos, a eleição do general Ernesto Geisel para a sucessão de Médici em janeiro de 1974 foi confirmada no colégio eleitoral, recebendo 400 votos contra 76 de Ulysses e 21 nulos.
Porém, o ano acabaria muito diferente do que havia começado.
A facilidade com que Geisel foi eleito no colégio eleitoral e o resultado das eleições de 1970 deram a impressão de que o governo e a Arena possuíam não apenas os votos no Congresso, mas também a simpatia popular. Como observou Wanderley Guilherme dos Santos, “os políticos do partido arenista interpretaram mal os resultados das eleições” de 1970. Registros na imprensa ao longo do ano, observou o historiador André Jacobina, demonstram o “excessivo otimismo” que tomava conta do governo e da Arena.
O consultor legislativo do Senado Arlindo Fernandes, porém, assinala que já havia sinais de desgastes no apoio da população aos militares. Além das medidas de exceção, Fernandes destaca o impacto do primeiro choque do petróleo, em 1973, quando o preço do barril da commodity saltou de cerca de US$ 3 para mais de US$ 11 em pouco tempo, com impactos em toda a economia mundial, especialmente em países importadores do produto, como o Brasil.
A elevação das taxas de juros internacionais, liderada pelos Estados Unidos, para combater a inflação ocasionada pelo aumento do preço dos combustíveis e da energia, também teve graves efeitos para o Brasil. Isso porque o desenvolvimento do país durante o milagre econômico havia sido impulsionado pelo endividamento externo para investimento em grandes obras, como a Ponte Rio-Niterói, hidrelétricas, a Usina Nuclear de Angra dos Reis, a Rodovia Transamazônica e ferrovias.
— Os salários perderam poder de compra com a desvalorização cambial e a inflação, expondo o fato de que o milagre econômico não distribuiu a renda no Brasil, que continuava muito desigual — afirma Fernandes.
Do ponto de vista político, então, as eleições diretas em 1974 seriam um raro momento para a população expressar seu sentimento com relação ao governo.
Cautela e mudança de estratégia
Mesmo com pouca representação, o MDB desempenhava o seu papel de “partido consentido”, como na anticandidatura de Ulysses. Para 1974, a sigla se preparou e fez convenções para as eleições para o Senado e a Câmara dos Deputados. No entanto, em muitos Estados, as maiores lideranças do partido preferiram assegurar uma eleição para deputado federal, escolhendo para a disputa ao Senado nomes com menos tradição política.
— Há casos como o do Rio Grande do Norte, em que o MDB indicou Agenor Maria, um agricultor e feirante, ex-marinheiro que participou na Segunda Guerra Mundial, com pouca experiência política, para concorrer com Djalma Marinho, deputado federal desde a década de 1950, presidente da Comissão de Constituição e Justiça. A surpresa foi geral quando Agenor Maria foi eleito — afirma Arlindo Fernandes.
Outros nomes como Orestes Quércia, em São Paulo, Itamar Franco, em Minas Gerais, Marcos Freire, em Pernambuco, Leite Chaves, no Paraná, e Lázaro Barbosa, em Goiás, menos conhecidos, acabariam representando o MDB nas urnas e, depois de eleitos, firmaram-se como nomes importantes em seus estados e nacionalmente.
Eleito para o Senado pelo Rio de Janeiro em 1974, Roberto Saturnino Braga, que morreu recentemente, em setembro de 2024, confirma que a avaliação geral era de que a oposição não conseguiria fazer frente ao partido governista naquele ano em uma eleição majoritária.
— Ninguém no MDB queria aceitar [ser candidato ao Senado] porque o Paulo Torres, o adversário [da Arena], era considerado imbatível. A Arena, na eleição anterior, de quatro anos antes, tinha dado uma lavagem no MDB. E o Amaral Peixoto [líder emedebista fluminense da época] me fez um apelo, dizendo que eu prestaria um serviço para o partido — declarou Saturnino em entrevista à Rádio Senado em 2014.
As escolhas feitas nas convenções do MDB são uma mostra de como as expectativas não apenas do governo e da Arena, mas também dos próprios emedebistas, não detectaram o potencial da oposição nas urnas.
Houve casos em que o MDB sequer havia apresentado candidatos a deputado federal suficientes para preencher todas as vagas a que teve direito pelos votos obtidos pelo quociente eleitoral, como revela o jornalista Sebastião Nery no livro As 16 derrotas que abalaram o Brasil, de 1975, em que apresenta os resultados e um resumo dos candidatos e das disputas em cada estado.
Mesmo sem uma avaliação precisa do prestígio que teria nas urnas, o MDB demonstrou, nas eleições de 1974, que estava disposto a ocupar o espaço de oposição — e de resistência democrática — ao regime militar, ainda que sem eleições diretas para presidente e para governador, com censura e liberdades cerceadas.
Campanha na TV
Segundo Pedro Simon, eleito em 1974 deputado estadual no Rio Grande do Sul pelo MDB com mais de 140 mil votos, o partido usou todas as brechas do regime para antagonizar com a ditadura. Ainda que houvesse censura, o ex-senador destaca a ocupação do espaço possível na imprensa e a possibilidade de, pela primeira vez, fazer campanha no rádio e na TV. Em muitos estados os debates entre candidatos tiveram grande impacto entre os eleitores.
— A possibilidade de os candidatos aparecerem na TV foi uma novidade comparável ao que a introdução da internet e das redes sociais representou no debate eleitoral de hoje — avalia o consultor Arlindo Fernandes.
A campanha no rádio e na TV naquela ocasião não era nada parecida com o que é feito hoje em dia. Não havia produção e os candidatos davam entrevistas e participavam de debates ao vivo.
— Os programas não eram gravados. Eram transmitidos ao vivo. Cada dia era uma emissora. Os candidatos iam para lá e davam o seu recado ao vivo. Não tinha marketeiro, não tinha gravação, não tinha nada. Era realmente gratuito: custo zero — narrou Saturnino à Rádio Senado por ocasião dos 40 anos da eleição de 1974.
O ex-senador Paulo Brossard, eleito pelo MDB no Rio Grande do Sul, contou a sua experiência em um debate eleitoral em 1974. Em certo momento, ele perguntou ao seu adversário, Nestor Jost, da Arena, se confirmaria a declaração de que aplicaria o artigo 477 do Código Penal. Ao que Jost manteve sua afirmação, Brossard levou o seu exemplar do Código Penal a Jost e o fez ver que aquele artigo não existia naquela legislação. “Ele ficou desconcertado”, disse Brossard, eleito pelo MDB, também em entrevista à Rádio Senado em 2014. O ex-senador e jurista morreria poucos meses depois da entrevista, em abril de 2015.
O meio de comunicação disponível para os candidatos, no entender de Simon, explica parte da história. Ele entende que a mensagem do MDB, de denúncia da ditadura e defesa das liberdades democráticas, era o que encontrava respaldo entre os eleitores.
— Os nomes [candidatos] da revolução não tinham o que dizer. Eles vinham de uma grande vitória e não ofereciam nada para a população. O governo, com o fim daquele milagre econômico, das grandes obras, não consistia em mais nada. A economia ia mal, os militares estavam numa confusão dos diabos, não tinham nenhum comando. Eles passaram a perder a credibilidade. Foi uma decomposição do regime — afirmou Simon, lembrando que a inflação alta e a queda no poder aquisitivo da população caracterizaram o período militar.
Mesmo quem não era do MDB adotou na campanha a bandeira da liberdade e da abertura política. Esse foi o caso do senador por Alagoas Teotônio Vilela, da Arena, reeleito em 1974.
— O velho Teotônio já tinha um discurso liberal, a favor da distensão, que era também o discurso do MDB, que teve grande aceitação no Brasil inteiro. Foi uma avalanche [na direção] do MDB — reconhece Teotônio Vilela Filho, filho do “Menestrel das Alagoas”. Por estar mais afinado com o discurso de oposição ao regime, Teotônio pai migrou para o MDB no meio do mandato, em 1979, expondo ainda mais a ditadura.
Para Teotônio Filho, aquela eleição já era o sinal de que o regime militar estava esgotado e que a população aprovava a abertura democrática, um primeiro passo para que, no futuro, a democracia pudesse voltar.
— Foi um processo longo. As coisas na política não acontecem de uma hora para a outra — disse Teotônio Filho, que teve dois mandatos como senador, de 1995 a 2006, e, em sequência, foi governador de Alagoas por oito anos.
Desdobramentos da eleição de 1974
Surpresa ou não, fato é que as bancadas do MDB no Senado e na Câmara haviam aumentado significativamente a ponto de conquistar direitos assegurados às minorias, como propor CPIs e dificultar a aprovação de legislação que exige maioria qualificada como de propostas de emenda à Constituição (PEC) — que na época precisavam de dois terços dos votos para serem aprovadas. Essa situação incomodou os militares e atrapalhou os planos de Geisel para a sua abertura “lenta e gradual”.
— A eleição de 1974 mostra o crescimento da insatisfação popular com a ditadura, mas também demonstra que a ditadura subestimou a necessidade de repressão naquele momento. A ditadura acreditava que teria uma vitória esmagadora e que não precisaria fazer força para apoiar a Arena — avaliou o historiador André Jacobina em entrevista à Agência Senado.
Os reflexos do resultado eleitoral acenderam alertas no regime militar. Ainda que Geisel reconhecesse o recado das urnas naquele pleito em mensagem à população em dezembro de 1974, nos próximos anos o presidente deixa claro que não iria permitir que a abertura democrática, como idealizada por ele, saísse do controle.
Com efeito, o governo logo adotou medidas direcionadas a evitar uma nova vitória da oposição. Em julho de 1976, pouco antes das eleições municipais de novembro, Geisel sancionou a Lei Falcão (Lei 6.339, de 1976), batizada com o nome de seu ministro da Justiça e autor da nova legislação, Armando Falcão.
O texto alterava o Código Eleitoral vigente, reduzindo a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV ao mínimo possível. Nada de debates e entrevistas. Como propaganda, os candidatos poderiam apenas oferecer um retrato com poucas linhas para se apresentar. As eleições transcorreram sem que os eleitores pudessem participar do debate eleitoral como em 1974 e, na abertura das urnas, a Arena obteve mais de 53% do total de votos, mantendo a prefeitura da maioria dos municípios (não havia eleições em 142 cidades, consideradas áreas de segurança nacional).
A maior reação do governo Geisel à ascensão do MDB viria no ano seguinte, em 1977. Diante da resistência do Congresso em aprovar a PEC de sua autoria que reformaria o Judiciário, Geisel fechou o Legislativo por duas semanas em abril daquele ano. Além da reforma do Judiciário, o presidente decretou um conjunto de medidas que ficou conhecido como “Pacote de Abril”, que incluía, além da reforma judicial, mudanças nos procedimentos do Senado e da Câmara para facilitar a aprovação de medidas de interesse do governo, criando ainda a figura do “senador biônico”: um dos três senadores das bancadas estaduais seria eleito pelas assembleias legislativas, a maioria delas controlada pela Arena.
Plebiscito da ditadura
Nessas cinco décadas, entre novembro de 1974 e os dias de hoje, muitas análises foram feitas sobre o significado daquelas eleições em que os candidatos da oposição ao regime militar, abrigados no MDB, venceram 73% das cadeiras em disputa para o Senado.
André Jacobina cita em sua tese de mestrado que cientistas políticos como Eliézer Rizzo de Oliveira e Raymundo Faoro interpretam que as eleições “sinalizavam muito mais um protesto contra o regime do que identificação com o MDB. O MDB estaria canalizando votos de insatisfação com o regime, e não aprovação do partido de oposição em si”.
Esse caráter plebiscitário, comum quando ditaduras oferecem oportunidades de a população se manifestar através do voto, afirmam os autores, também teria estado presente nas eleições de 1970, resultando em uma aprovação ao regime militar. Porém, quatro anos mais tarde, as urnas trouxeram a mensagem inversa, de repúdio à ditadura e ao fracasso de sua política econômica.
Um dos slogans usados pelo MDB naquela campanha transferia justamente à população a avaliação da situação política e econômica: “Vote no MDB. Você sabe porquê” (primeira imagem desta reportagem).
E, naquele momento, o MDB era o único partido de oposição, cuja criação foi consentida pela ditadura, que podia canalizar aquele sentimento em 1974 e pelos anos seguintes, até a retomada da democracia.
— A partir dali, ganhamos as eleições nos principais Estados no Brasil, um movimento que continuou até a vitória no colégio eleitoral, em janeiro de 1985, com a eleição de Tancredo [Neves] para a Presidência da República, e na Constituinte, que nos deu a Constituição atual e o regresso à democracia, onde nós estamos hoje. Começou ali, em 1974 — resume Pedro Simon.