
Para Giambiagi, que participou da reunião por videoconferência, é preciso que partidos políticos e os diversos setores da sociedade se engajem no debate
Redação Scriptum
Uma nova reforma da Previdência Social terá que ser feita em breve. Pode não ser no primeiro ano da gestão do presidente eleito em 2026, mas terá que ser feita. A afirmação é do economista Fábio Giambiagi, um dos maiores especialistas brasileiros no tema, que participou na terça-feira (27), como palestrante, da reunião semanal dos colaboradores do Espaço Democrático, a fundação do PSD para estudos e formação política. Ele alertou também que, para que a próxima reforma seja consistente, é preciso que as alterações necessárias sejam compreendidas e encaradas de modo positivo pela sociedade brasileira.
Giambiagi, que participou da reunião por videoconferência, lembrou que, na ocasião em que foi feita a reforma anterior, em 2018, havia ambiente favorável às mudanças e as pessoas compreendiam a importância dos ajustes. Agora, em sua opinião, é preciso que partidos políticos e os diversos setores da sociedade se engajem no debate, buscando soluções para a crise previdenciária que vem se avolumando.
Nascido no Rio de Janeiro, filho de pais argentinos, Giambiagi viveu parte de sua vida no país vizinho e cita a atual situação dos aposentados de lá como exemplo para o Brasil. “O caos econômico chegou a tal ponto que o novo presidente, Javier Milei, reduziu em 15% todas as aposentadorias e houve resignação social”, disse. Para evitar que se chegue a esse ponto no Brasil, afirmou, “as lideranças nacionais precisam ter coragem de discutir abertamente a questão e propor mudanças justas e corajosas”.
O economista, que integra desde 1996 o Departamento Econômico do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e tem mais de 35 livros publicados sobre economia brasileira, considera que a reforma da Previdência feita em 2018 foi “extremamente potente” e fez mudanças “poderosas”, mas que todos sabiam que seriam insuficientes e que uma nova reforma seria necessária, talvez na segunda metade da década seguinte. Contudo, disse, houve mudanças bruscas no campo econômico que aceleraram a necessidade de novas alterações na legislação previdenciária.

Reunião semanal de colaboradores do Espaço Democrático
Segundo ele, além do aumento dos gastos por razões demográficas e por má gestão, como no caso do recente escândalo dos descontos não autorizados no pagamento das aposentadorias, houve um grande impacto nas despesas previdenciárias com a aprovação da nova regra do salário mínimo, que passou a ser reajustado anualmente com base na inflação (INPC) do ano anterior e no índice de crescimento do PIB nos dois anos anteriores, limitado a 2,5%.
Com isso, diz o economista, as despesas previdenciárias tendem a explodir no curto prazo, limitando ainda mais a capacidade de investimento do Estado. Para evitar o agravamento do quadro atual, Giambiagi destacou, em sua palestra para os consultores do Espaço Democrático, as propostas que defende para a nova reforma.
Lembrando que, num tema sensível como a Previdência Social, não é possível imaginar que dá para fazer todas as mudanças necessárias, e que o próximo presidente terá que escolher duas ou três de maior impacto, o economista afirmou que “não há nada mais importante do que tratar da questão do salário mínimo nessa revisão”.
Para ele, não é razoável transferir para a conta da Previdência ganhos de produtividade, dada a vinculação dos benefícios ao salário mínimo, e, por isso, defende que o INPC seja adotado como indexador por um período de 12 anos.
Além disso, Giambiagi propõe também, como temas a serem debatidos na próxima reforma, questões como o aumento da idade mínima de aposentadoria para 67 anos, a redução da diferença entre homens e mulheres na idade para aposentadoria, um novo ajuste nas regras para aposentadoria rural e a separação entre benefícios assistenciais e previdenciários.
Participantes
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, coordenada pelo jornalista Sérgio Rondino, os economistas Felipe Salto, Lucas Ferraz, Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, os gestores públicos Mário Pardini e Januario Montone, o médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge, o advogado Roberto Ordine, a secretária do PSD Mulher nacional, Ivani Boscolo, o coordenador nacional de Relações Institucionais da fundação, Vilmar Rocha, e o jornalista Marcos Garcia de Oliveira.
Currículo
Fabio Giambiagi é um economista referência nas áreas de finanças públicas e previdência social e exerceu também o cargo de professor do departamento de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ).
Entre os livros que escreveu estão: Reforma da Previdência e Brasil – Raízes do atraso, O Futuro É Hoje – Educação Financeira para Não-Economistas e Finanças Públicas – Teoria e Prática no Brasil. Em 2025, publicou o livro A Vingança de Tocqueville, em que analisa a história econômica brasileira com ênfase para o período a partir da segunda metade do século 20.
É graduado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em Ciências Econômicas pela UFRJ. Entre 1993 e 1994, trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. É pesquisador associado e faz parte do corpo técnico do núcleo de Política Econômica da Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), da Fundação Getulio Vargas (FGV).