Redação Scriptum
2024 deve entrar para os registros da ciência climatológica como o ano mais quente da história. Significa que a temperatura média máxima prevista apenas para 2050 pode ser batida 20 anos antes, em 2030. “Só existe uma saída: o aquecimento global é uma realidade e a humanidade tem que acelerar o processo de transição energética”, defende o médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge, que fez exposição sobre o tema na reunião semanal do grupo de consultores do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD – nesta terça-feira (5), em São Paulo.
Ex-secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente em São Paulo na gestão de Gilberto Kassab (2006 a 2012), candidato à presidência da República em 2014 e candidato a vice de Marina Silva na disputa de 2018, Eduardo fez uma longa reflexão sobre a política ambiental entre os séculos 18 e 20 para concluir que “todas as alternativas tem impacto climático, mas é indiscutível que o petróleo e o carvão são as piores delas”. Para ele, a questão do aquecimento só se resolve com governança global. “Não é mais uma questão de um país ou outro, tem que ser todos juntos”.
Eduardo Jorge considera que o ambientalismo foi fomentado pelo romantismo, entre o final do século 18 e a primeira metade do século 19. “Os românticos questionavam o racionalismo excessivo, valorizavam o individualismo, as emoções, a religião e também a natureza”, lembrou, citando ícones como o escritor Johann Wolfgang von Goethe e o geógrafo e naturalista Alexander von Humboldt, ambos alemães. “O Alexander andou por toda a América do Sul, ficou amigo do Simón Bolívar, era um ecologista da sua época, que influenciou até mesmo Charles Darwin”, define.
Ele destacou que a consciência de preservação ambiental começou a mudar apenas na passagem do século 19 para o 20, com o profundo impacto da Primeira Guerra e do desenvolvimento a qualquer custo. “Foi quando os Estados Unidos criaram seus primeiros parques nacionais e também o Serviço Nacional de Parques Americanos”, lembrou.
Na segunda metade do século 20, encerrada a Segunda Guerra, a oposição entre capitalismo e comunismo não contribuiu para tornar maior a preocupação com o ambiente. “Comunistas e capitalistas se comportaram da mesma maneira ao longo do século, não tiveram responsabilidade ambiental”, aponta Eduardo.
Mas ele destacou alguns pontos que levaram a discussão sobre o tema a um novo patamar. O principal deles foi o protagonismo da Organização das Nações Unidas (ONU) para debater a questão. “Nasceu da ONU a Conferência da Suécia, de 1972, que discutiu a governabilidade dos recursos ambientais, e dali também saiu a iniciativa de encomendar, no ano seguinte, um relatório que fez emergir a o conceito de sustentabilidade, de equilíbrio entre a economia, o ambiente e o social”, disse.
Para ele, a questão ambiental, hoje, extrapola a discussão de viés política. “O aquecimento global, o ambientalismo não é causa única de um partido ou de uma ideologia”, diz ele.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático os cientistas políticos Rogério Schmitt e Rubens Figueiredo, o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, o advogado Roberto Ordine, o sociólogo Tulio Kahn, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, a secretária do PSD Mulher nacional, Ivani Boscolo, e os jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação do Espaço Democrático. Todos consultores e colaboradores da fundação do PSD.