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Até adolescentes já se tornaram jogadores compulsivos

Espaço Democrático entrevista integrante dos Jogadores Anônimos, comunidade que busca ajudar dependentes

Reunião semanal de colaboradores do ED discutiram a questão das bets e o vício em jogo

 

Redação Scriptum

 

A estimativa foi divulgada nesta quarta-feira (25) pelo Banco Central: entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões têm sido gastos mensalmente por pessoas físicas nas plataformas de apostas – as chamadas bets – e nos cassinos on-line, que oferecem jogos como o popular Tigrinho. Com base nos dados de transferências por PIX para as bancas virtuais, o BC calcula que por volta de 24 milhões de brasileiros realizaram ao menos uma transferência para essas empresas entre janeiro e agosto deste ano.

Nesta terça-feira (24), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que as plataformas de apostas e os jogos on-line podem estar aumentando a inadimplência das famílias, com o comprometimento da renda. Segundo ele, desde janeiro houve crescimento superior a 200% no valor que os jogadores transferem para essas empresas.

As reações a este fenômeno cresceram nos últimos dias. Na semana passada, o senador Omar Aziz (PSD-AM), entrou com uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) na Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender o funcionamento das bets. Já a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) para contestar a Lei 14.790/2023, a “Lei das Bets”, que regulamenta as apostas – a entidade pede a suspensão da eficácia da lei para evitar danos ao comércio e à economia do País.

Por trás dos números bilionários movimentados pelas empresas de apostas e das reações à operação delas está a faceta mais dramática deste processo: as histórias muitas vezes trágicas enfrentadas por centenas de famílias, desarranjadas social e financeiramente por jogadores compulsivos, vítimas de um distúrbio psiquiátrico conhecido como jogo patológico – o vício em jogar. Uma das poucas instituições que auxilia pessoas a enfrentarem a compulsão é a Irmandade dos Jogadores Anônimos (JA), criada em 1957, em Los Angeles (EUA), e no Brasil desde 1983.

O trabalho desenvolvido pela comunidade foi detalhado nesta terça-feira (24) por um de seus integrantes, identificado apenas pelo pseudônimo de João em uma entrevista coletiva on-line concedida a consultores do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD.

 

“Nós não fazemos estatísticas, mas percebemos que depois da pandemia o crescimento do número de pessoas que querem ajuda para deixar o jogo foi exponencial”, contou. E a faixa etária dos compulsivos que buscam a JA vem caindo: “Hoje são jovens entre 20 e 30 anos, mas já temos até mesmo adolescentes que procuram ajuda, levados por seus responsáveis”. O aumento da demanda, “espantoso”, segundo ele, não se limita às cidades mais urbanizadas do Brasil. “Recebemos mensagens dos lugares mais distantes do País, de pequenas cidades”, diz. “Ao contrário de como acontecia no passado, quando o jogo era analógico e a pessoa tinha que ir a determinado lugar para jogar, hoje o jogo está na palma da mão, no celular”.

Os militantes da JA não fazem juízo de valor sobre se o jogo deve ou não ser legalizado no Brasil. “Nosso único propósito é ajudar as pessoas que querem parar de jogar”, relata ele, que faz parte de um dos núcleos do Rio de Janeiro, no qual cinco voluntários se revezam no atendimento das pessoas que buscam auxílio. Hoje com mais de 60 anos, João relata a própria história de compulsão pelo jogo. Filho de uma mulher humilde que deixou a Região dos Lagos do Rio para tentar uma vida melhor na capital, ainda na infância ia até a banca do jogo do bicho próxima da sua casa para apostar para a mãe. “Eu era criança, um dia fiz uma aposta e ganhei; fui fisgado por aquilo”. A compulsão se instalou aos poucos. “Aos 31 anos, casado e com três filhos, eu jogava todo o meu pagamento, me endividava com agiotas e mentia em casa, dizia que havia sido assaltado e por isso estava sem dinheiro”, conta. Foi quando deu uma virada em sua vida entrando para a JA.

Os casos que aparecem ali são muitos e de todo tipo. “Houve o caso de uma pessoa que ganhou na loteria, ficou rico e aumentou o padrão de jogo; quando chegou ao JA estava falido”, lembra. “E já recebemos casos de pessoas que se viciaram até nas bolsas de valores”. João explica que quando uma pessoa busca ajuda é apresentada a um questionário de 20 perguntas que define se ela é ou não compulsiva. “São perguntas como ‘você já perdeu horas de trabalho ou da escola devido ao jogo?’; ‘alguma vez você já jogou para obter dinheiro para pagar dívidas ou então resolver dificuldades financeiras?’; ‘após ter perdido você sentiu como se necessitasse voltar o mais cedo possível a recuperar as suas perdas?’; ‘você geralmente jogava até que seu último centavo acabasse?’; ‘você relutava em usar o “dinheiro do jogo” para as despesas normais?’”. A partir daí, considerado compulsivo o jogador passa a seguir o programa chamado 12 Passos para a recuperação, que é similar ao dos Alcóolicos Anônimos. O primeiro contato com os Jogadores Anônimos pode ser feito pelo site da irmandade, onde há o link para a linha de ajuda.

Participaram da entrevista coletiva com João o sociólogo Tulio Kahn, os economistas Roberto Macedo e Luiz Alberto Machado, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o gestor público Januario Montone, o advogado e empresário Helio Michelini, a secretária do PSD Mulher Nacional, Ivani Boscolo, o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, e os jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da fundação.


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