
Reunião do Espaço Democrático: PIB só terá crescimento sustentável com medidas duras no próximo governo
Redação Scriptum
Juros altos e política fiscal frouxa deverão impedir que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro repita, nos dois últimos anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o resultado positivo registrado nos dois primeiros anos, de 6,7%. O prognóstico foi feito pelo economista Felipe Salto nesta terça-feira (11), na reunião semanal do Espaço Democrático, a fundação para estudos e formação política do PSD. “A dinâmica de crescimento será mais baixa neste e no próximo ano”, estima. “A agenda deste governo está dada e mudanças neste cenário só terão espaço para acontecer com o próximo presidente”.
Ex-diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado e ex-secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, Salto fez uma análise detalhada dos números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e destacou que em 2024 o crescimento da economia foi baseado no consumo e no setor de serviços. Ele alertou para o fato de que os números mostram que o Brasil está aprisionado pela questão fiscal. “O ideal é que tivesse virado esta página no primeiro ano do mandato, estabelecendo uma política de superávits primários para então discutir o que realmente importa, que é uma política de desenvolvimento”, disse.
O crescimento está espremido entre a taxa de juro elevada praticada pelo Banco Central para controlar a inflação e a política fiscal descontrolada do governo, que gasta mais do que arrecada. Investimentos, nesse cenário, não são factíveis. “Com uma taxa de juros real de 8% a 9%, que é o que temos hoje, quais são os projetos de investimento na economia real que são viáveis?”, pergunta. “É muito mais racional que os capitais se canalizem para ativos como os títulos do governo, que estão pagando essas taxas exorbitantes, formadas pela Selic mais um prêmio de risco”.
Salto acredita que só o próximo presidente poderá tentar resolver o nó da economia brasileira. “E terá que ser logo no primeiro ano de governo”, diz ele, sugerindo que seja adotada uma agenda fiscal para 2027. Concorda que é um elenco de medidas amargas em vários setores, mas é o que permitirá, segundo ele, superar a questão fiscal e avançar na agenda do crescimento. O economista lista 10 medidas:
- Limitar as emendas parlamentares a 1/10 das despesas discricionárias previstas no Orçamento;
- Desindexar a previdência, o abono, o seguro e o BPC (Benefício de Prestação Continuada) do salário mínimo;
- Desvincular a saúde e a educação da evolução de indicadores de receita;
- Reduzir todos os gastos tributários em 10%;
- Acabar com os abatimentos de despesas médicas da base do Imposto de Renda;
- Reduzir os subsídios e subvenções em R$ 10 bilhões;
- Reduzir os percentuais do Fundeb para pelo menos 15%;
- Reduzir o fundo eleitoral e gastos com campanha pela metade;
- Reforma da previdência dos militares, combate a supersalários e reformas adicionais no Regime Geral de Previdência;
- Reforma da tributação da renda, com tabela progressiva no IR.
Segundo estima Salto, este elenco de medidas permitiria ao País retomar as metas de superávit primário em 2028, voltando a um saldo positivo de 1,5% do PIB, o equivalente a R$ 230 bilhões com um PIB de R$ 15,3 trilhões.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, o advogado Roberto Ordine, o cientista político Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, os gestores públicos Mário Pardini, Januario Montone e José Luiz Portella, o médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge, o advogado Helio Michelini, o ex-vereador Coronel Salles e os jornalistas Nicolas Tamasauskas, Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da fundação do PSD.