Redação Scriptum
O bizarro episódio ocorrido no debate de candidatos à Prefeitura de São Paulo no último domingo (15), quando José Luiz Datena (PSDB) deixou o seu púlpito para golpear Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeira, foi o pano de fundo para a o tema da reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD – nesta terça-feira (17). “Para que estão servindo, principalmente, os debates eleitorais?”, perguntou o jornalista Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da fundação, antes de apresentar uma série de eventos ocorridos em debates desde a redemocratização.
“Infelizmente, para a formação política do eleitor brasileiro, os debates têm servido menos do que deveriam. Desde que começaram a ser exibidos pela TV – e apesar dos esforços das emissoras – as propostas de governo atraem pouco a atenção dos espectadores, que acabam se interessando mais por conflitos e bate-bocas. Já para os partidos e candidatos, debates acabam sendo muito úteis para produzir material de campanha na televisão e, agora, os cortes para as redes sociais”, disse o jornalista, que foi mediador de vários debates, um dos quais lembrado até hoje, quando Paulo Maluf e Marta Suplicy, candidatos à Prefeitura de São Paulo, se enfrentaram na Rede Bandeirantes em 2000 e, aos berros, um mandou o outro calar a boca.
Para embasar as análises, além da discussão entre Maluf e Marta, Rondino exibiu mais quatro vídeos: o bate-boca entre Maluf e Leonel Brizola, então candidatos a presidente da República, em 1989; um trecho das falas de Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, no debate do segundo turno da eleição presidencial e o depoimento do jornalista Armando Nogueira, à época diretor de jornalismo da TV Globo, sobre como subordinados seus manipularam a edição compacta apresentada no Jornal Nacional para favorecer Collor; e também uma discussão de 1998 entre Mario Covas e outra vez Maluf, candidatos ao governo de São Paulo, em debate na Rede Bandeirantes que também teve Sérgio Rondino como mediador.
Rondino explicou como as redes de televisão buscam forçar os candidatos a discutir temas de gestão pública, que não despertam muito interesse do telespectador médio, que volta mais sua atenção para os conflitos e a troca de ofensas entre os candidatos, viés que começou a ser explorado na campanha paulistana por Pablo Marçal, no que foi seguido por quase todos os outros. Marçal cunha apelidos para os seus adversários e questiona não suas propostas de governo, mas episódios da vida privada de cada um.
O cientista político Rubens Figueiredo lembrou que, apesar da audiência da televisão aberta ter caído bastante com a popularização das redes sociais, ela ainda é a melhor ferramenta de campanha, basta ver a evolução das intenções de voto em Ricardo Nunes, atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, depois que o horário eleitoral começou. Ele acredita que os debates são restritos a um público mais escolarizado e àquele eleitor que já decidiu seu voto e lembra que o nível dos debatedores era muito melhor no passado. “A qualidade da classe política mudou muito, até os escândalos parecem diferentes: antes era um romance entre dois ministros de Collor ao som de Besame Mucho, hoje é uma avacalhação só”.
O gestor público Januario Montone apontou o que considera um problema: o excesso de debates. “São muitos e em sequência, o que acaba desvalorizando o produto”, disse. “Na campanha presidencial dos Estados Unidos, por exemplo, são apenas três”.
O cientista político Rogério Schmitt lembrou que o formato dos nossos debates foi copiado da campanha eleitoral americana, que tem apenas dois partidos e, portanto, dois candidatos debatendo, o que qualifica a conversa. “A legislação brasileira obriga que apenas candidatos de partidos que tenham uma bancada de no mínimo cinco deputados federais participem, mas o partido do Pablo Marçal, por exemplo, não tem e ele está lá”. Isto sugere que, conhecendo o perfil do candidato do PRTB, as emissoras talvez estejam estão mais preocupadas com a audiência que com a qualificação do debate.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, além dos cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, do jornalista Sérgio Rondino e do gestor público Januario Montone, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, o sociólogo Tulio Kahn, o gestor público Júnior Dourado, o advogado e empresário Helio Michelini e o jornalista Eduardo Mattos.