Apesar das milhares de vidas perdidas e do forte impacto sobre a economia e as relações sociais, a pandemia do coronavírus vai deixar ao menos um legado positivo para o Brasil: dois laboratórios brasileiros estão preparados, a partir de agora, para a produção de vacinas para consumo interno e exportação, a Fiocruz, no Rio, e o Butantan, em São Paulo. E mais: o instituto paulista já trabalha com a perspectiva de incorporar sua própria vacina contra a covid-19, a Butanvac, no coquetel antigripal que produz anualmente.
A observação é do médico João Gabbardo, coordenador executivo do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo e ex-Secretário Executivo do Ministério da Saúde no início da pandemia, em entrevista para programa “Diálogos no Espaço Democrático”, produzido pela fundação do PSD e disponível em seu canal de Youtube. Segundo ele, a pandemia deixou várias lições ao Brasil. Uma delas é a de que precisamos criar políticas para não depender tanto da importação de insumos para a saúde – em 2019, por exemplo, o Brasil importava 95% dos princípios ativos para a produção de medicamentos.
Gabbardo foi entrevistado por Januario Montone, ex-diretor da Anvisa, primeiro diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e ex-secretário municipal de Saúde em São Paulo, Antonio Batista, médico pela Escola Paulista de Medicina, sanitarista pela Universidade de São Paulo, e mestre em Ciências Sociais pela USP, e pelo jornalista Sérgio Rondino, âncora do programa Diálogos no Espaço Democrático.
As medidas de restrição emergencial contra a covid-19 tomadas na maior parte do Brasil, segundo Gabbardo, não devem ser tipificadas como lockdown – salvo exceções como em Araraquara, no interior de São Paulo, que chegou a fechar até supermercados. Mas elas são claramente eficientes no combate à transmissão do coronavírus, conforme apontou. Em 6 de março, pico da utilização da rede de Unidades de Terapia Intensiva no Estado e dia em que foi adotada a fase vermelha, a ocupação dos leitos de UTI crescia ao ritmo de 3,3% ao dia. “Depois de 14 dias, a taxa de crescimento começou a desacelerar; e com o início da fase emergencial, o ritmo que era de 3,3% passou a 0,5% em 1º de abril”, diz ele. “Agora, esperamos que a velocidade de crescimento seja negativa, o que dará fôlego ao sistema de saúde”.
Gabbardo avisa, porém, que a máscara veio para ficar e que é impensável a formação de aglomerações em estádios de futebol ou em shows de música.