
Reunião semanal de colaboradores do Espaço Democrático
Redação Scriptum
Como um desconhecido médico de Roraima, presidente de uma federação cujo campeonato estadual reúne só oito equipes – e a melhor delas disputa apenas a quarta divisão do Campeonato Brasileiro – pôde reunir em torno de si apoios que o levaram à presidência da poderosa Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade privada que faturou R$ 1,5 bilhão no ano passado?
A resposta de consenso a esta pergunta foi dada nesta segunda-feira (19) na reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD: a CBF é um espelho da sociedade e das instituições brasileiras.
O encontro discutiu a crise política que se desenvolveu nos últimos dias e terminou com a destituição de Ednaldo Rodrigues do cargo de presidente da entidade pela Justiça. Para o seu lugar já está escolhido, mesmo antes de a eleição ser realizada, o infectologista Samir Xaud, que assumiu a presidência da Federação Roraimense de Futebol em janeiro, em substituição ao pai. Ele está escolhido por antecedência porque o estatuto da CBF define que uma chapa só pode ser inscrita com o apoio mínimo de oito federações e cinco clubes. Xaud reuniu apoios de 25 das 27 federações estaduais, além de dez clubes. Outros 32 clubes apoiaram o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, que não teve o número mínimo de federações para se inscrever.
“Estamos no Brasil. Por que em uma confederação de futebol seria diferente?”, perguntou o cientista político Rubens Figueiredo, que conhece os meandros da CBF e fez uma exposição sobre o caso. “Se olharmos para a realidade do País, veremos toda a semelhança: idosos foram roubados em suas aposentadorias, a lava-jato foi anulada depois de identificar uma rede de corrupção, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania assediou a ministra da igualdade racial, uma presidente da República sofreu impeachment por ter dado pedaladas fiscais”, disse.
Figueiredo lembrou a recente reportagem publicada pela revista Piauí, na qual foram listados vários problemas na gestão da CBF, entre as quais as mordomias oferecidas a convidados da confederação na Copa do Mundo Catar, e as relações obscuras com outras instituições.
Ao abordar a escolha do novo presidente da CBF, apontou a inconsistência da representatividade de Xaud, que comanda a federação de um Estado que detém apenas 0,33% da população brasileira e que abriga clubes sem expressão e tradição no futebol brasileiro: “Apesar disso, está sendo apresentado como o executivo que vai modernizar o futebol brasileiro”.
O economista Luiz Alberto Machado destacou que a corrupção, no futebol não é exclusividade do Brasil. “Estão ligados no Brasil e no mundo”, pontuou. Ele mostrou dados que revelam a importância do futebol dentro do segmento da economia criativa, que emprega cerca de 7,5 milhões de pessoas no Brasil e responde por aproximadamente 3% do PIB. Segundo ele, estima-se que 0,72% do PIB brasileiro de US$ 2,17 trilhões´, de acordo com o Banco Mundial. “E esses 0,72% ainda não consideram a entrada das bets no futebol”, disse.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, coordenada pelo jornalista Sérgio Rondino, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, os gestores públicos Mário Pardini e Januario Montone, o professor pós-doc da USP José Luiz Portella, o médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge, o advogado Roberto Ordine, a secretária do PSD Mulher nacional, Ivani Boscolo, o coordenador nacional de Relações Institucionais da fundação, Vilmar Rocha, o ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira Cesário Ramalho e o jornalista Eduardo Mattos.