Pesquisar

tempo de leitura: 4 min salvar no browser

{ ANÁLISE }

Junho de 2013, o protesto que ninguém entendeu

Consultores do Espaço Democrático debatem em reunião semanal as causas e consequências das manifestações que estão completando uma década

 

Rubens Figueiredo: ainda não se sabe de onde surgiu toda a disposição para o caos que se viu nas ruas naqueles dias

 

Redação Scriptum

 

Os 10 anos das manifestações de junho de 2013 e a nova composição do Supremo Tribunal Federal (STF), a partir da indicação do advogado Cristiano Zanin para a vaga de Ricardo Lewandowski, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram os temas dos consultores do Espaço Democrático, a fundação para estudos e formação política do PSD, na reunião semanal desta terça-feira (13).

As consequências sociais e políticas das grandes passeatas e concentrações que agitaram o País há uma década foram analisadas pelo cientista político Rubens Figueiredo. Ele lembrou que aquelas foram as maiores manifestações populares espontâneas já registradas na história do País, mas até hoje não foram bem compreendidas. “Às vezes, elas são interpretadas como causa de tudo o que ocorreu depois no Brasil, mas, em outras ocasiões, afirma-se que os acontecimentos da época não trouxeram qualquer resultado”, disse Figueiredo.

De qualquer forma, afirma, não é possível negar a magnitude das manifestações. “O povo saiu às ruas em mais de 360 cidades, com mais de 700 protestos realizados no período; houve tentativas de invasão de câmaras municipais, assembleias legislativas e palácios de governo; rodovias foram bloqueadas e por pouco o Porto de Santos não foi paralisado; houve ainda casos de violência policial e quebra-quebra por black blocks“, relembrou o cientista.

Apesar de tudo isso, ainda não se sabe de onde surgiu toda a disposição para o caos que se viu nas ruas naqueles dias. “A sociedade teve um AVC sem apresentar pressão alta”, afirma Rubens Figueiredo, lembrando que nem as autoridades nem as próprias lideranças dos movimentos tinham ideia do que estava acontecendo.

Além disso, autoridades dos três níveis de governo apresentavam nas semanas anteriores às manifestações elevados níveis de aprovação popular, tornando o cenário ainda mais confuso. “No início de junho de 2013, a presidente Dilma Rousseff aparecia nas pesquisas com 51% das intenções de voto, enquanto o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tinha 52% de aprovação e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tinha 34% de avaliações ótima e boa, “o que representava o melhor desempenho de um prefeito de São Paulo em seis meses de mandato desde quando se tem registros de pesquisas”.

Da mesma forma, a economia, embora com problemas, não enfrentava nenhuma grande crise, recorda o cientista político. Além disso, afirma, também não estavam presentes fatores que tradicionalmente geram revoltas populares, como a percepção de altíssima incompetência governamental, clima altamente oposicionista, surgimento de uma liderança popular carismática, a existência de organizações com grande capacidade de mobilização ou a ocorrência de casos espetaculares de corrupção. “Ou seja, não se pode atribuir os movimentos de junho de 2013 aos ‘suspeitos de sempre’”.

Contudo, houve consequências, notou o cientista político. “Nunca mais as autoridades voltaram a contar com índices de aprovação tão positivos. Dilma, por exemplo, ganhou as eleições no ano seguinte com pouca vantagem sobre o segundo colocado, Aécio Neves, ao mesmo tempo em que alguns partidos políticos tentaram se reinventar, até mesmo tirando a palavra ‘partido’ do nome. Além disso, o poder político parece ter percebido que a sociedade não era abstrata, que era forte e nem sempre pode ser controlada”.

 

Rogério Schmitt: indicação de Cristiano Zanin para substituir Ricardo Lewandowski deve passar sem problemas pela aprovação do Senado

 

O futuro do STF

Por sua vez, o cientista político Rogério Schmitt destacou as mudanças previstas na composição do Supremo Tribunal Federal nos próximos anos. Segundo ele, a indicação de Cristiano Zanin para substituir Ricardo Lewandowski deve passar sem problemas pela aprovação do Senado. “A única dúvida é se sua aprovação pelos senadores ficará em torno da média de 60 votos favoráveis ou será mais difícil”, afirma.

Schmitt apresentou uma retrospectiva dos processos sucessórios ocorridos na corte nas últimas décadas, mostrando que até o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff a média de votos favoráveis aos indicados pelo governo se situava próximas dos 60 votos, mas essa média caiu a partir do segundo mandato de Dilma, refletindo as dificuldades políticas das gestões Dilma II, Temer e Bolsonaro, que teve seu ponto mais baixo ao registrar apenas 47 votos favoráveis para André Mendonça, seu indicado para substituir Marco Aurélio de Melo.

Para os próximos anos, ele destacou que Lula poderá indicar dois novos ministros para o STF em seu atual mandato, devido às aposentadorias compulsórias de Ricardo Lewandowski e de Rosa Weber (prevista para outubro de 2023). “Pelo mesmo motivo, o presidente eleito em 2026 indicará três novos ministros, para as vagas de Luiz Fux (que deve se aposentar em abril de 2028), de Carmem Lúcia (abril de 2029) e de Gilmar Mendes (dezembro de 2030)”, citou.

Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o economista Roberto Macedo, o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, o sociólogo Túlio Kahn e os jornalistas Marcos Garcia e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da Fundação Espaço Democrático.


ˇ

Atenção!

Esta versão de navegador foi descontinuada e por isso não oferece suporte a todas as funcionalidades deste site.

Nós recomendamos a utilização dos navegadores Google Chrome, Mozilla Firefox ou Microsoft Edge.

Agradecemos a sua compreensão!