Edição Scriptum com Diário do Comércio
O cientista político Rubens Figueiredo, consultor do Espaço Democrático, lança na segunda-feira (25) o livro “Sofrendo feliz da vida – alegria e angústia de ser brasileiro” (Editora MM, 2024), no qual analisa a decantada felicidade dos brasileiros mesmo vivendo num país com tanta desigualdade. A obra será lançada em sessão de autógrafos na Livraria da Vila da Alameda Lorena, 1.501, das 18h às 22h.
No livro, de acordo com o site do Diário do Comércio, o autor questiona a razão pela qual somos felizes mesmo vivendo mal. Mesmo com indicadores de IDH, educação, saúde, corrupção, desigualdade e facilidade para fazer negócios que deixam a desejar, o Brasil é bem classificado nos rankings internacionais de felicidade.
Veja a seguir os principais trechos da reportagem do Diário do Comércio:
Desfilando referências baseadas não só em dados sócio-político-econômicos, mas também na cultura popular – e citando grandes mestres, de Ariano Suassuna a Tom Jobim, a “filósofos” contemporâneos, como Zeca Pagodinho e Tim Maia, ambos com suas tiradas bem-humoradas (e inacreditáveis) -, Figueiredo procura desvendar de onde vem tanta animação.
“Uma pesquisa da Ipsos mostra que o brasileiro é feliz mesmo estando insatisfeito no plano amoroso, profissional, de moradia, de segurança… Por outro lado, existem estudos consagrados que mostram que a desigualdade de renda gera atrito social e infelicidade. Vamos na contramão de tudo isso!”, se espanta.
Seriam então fatores históricos, de miscigenação ou culturais (ou de falta de cultura), que fazem com que o brasileiro, mesmo na maior dificuldade, não deixa de fazer seu churrasco, tomar uma cervejinha nem esquecer as mazelas com futebol? A resposta não é tão simples, já que é razoável supor que a felicidade tenha relação com a qualidade de vida e, em grandes agregados sociais, era de se esperar que essa evidência ficasse mais forte, explica o autor.
Ou ainda, será uma espécie de “zeitgeist eterno” dos brasileiros: sempre esperar o melhor, viver sonhando – questões que Figueiredo também aponta no livro? Talvez a miscigenação cultural e de raças seja uma das respostas -, a ponto de um cientista político americano, Samuel P. Huntington, dizer que “não fazemos parte da civilização ocidental”, destaca o autor.
“O brasileiro é único. Nós somos misturados. E os ingredientes dessa mistura também, portugueses e africanos já vieram miscigenados. Brasileiro é bem-humorado, afetivo, resiliente. E não levamos o Brasil muito a sério. Adoramos fazer gozação de nós mesmos”, diz, lembrando que, não por acaso, cerca de 70% dos filmes nacionais de maior bilheteria são comédias.
A certa altura do livro, Figueiredo aborda até como um estrangeiro não-intelectual analisa nosso povo, pegando os exemplos de um alemão e uma russa. “É sensacional. Eles dizem que temos o que eles não têm: leveza, proximidade das pessoas, carinho. Rimos das nossas dificuldades. A russa Olga disse até que se transformou como ser humano depois de morar aqui três anos. Ficou mais ‘melosa’ (começou e desejar que todos ‘dormissem com os anjos’). E mais diplomática, querendo saber mais as histórias de sua família”, diverte-se.
Em resumo: mesmo com uma sociedade hoje dividida por “certezas”, com espaço para eclosão e permanência do conflito, além de polarização e cisões em movimentos identitários (“‘A luta antirracista não é um empreendimento contra o racismo; é em favor da luta'”, diz, citando o filósofo baiano Thiago Ribeiro), temos “uma escola de samba dentro da gente batendo bumbum paticumbum prugurundum que nos impulsiona”. E a realidade é algo secundário, analisa, após fazer referência ao emblemático samba-enredo campeão da Império Serrano de 1982.
Nas palavras do cientista político Sérgio Fausto, na quarta capa, o leitor não encontrará resposta definitiva sobre a questão, mas “boa prosa, onipresente senso de humor e observações perspicazes.”
Ou, como diz a jornalista Denise Campos de Toledo, na orelha, o livro nos faz reavaliar o que temos feito por nossa própria felicidade. “Será que estamos fazendo o melhor?”, questiona. Vale a leitura (e uma boa sessão de autoanálise).
Outras personalidades, como Michel Temer, Andrea Matarazzo, Antonio Lavareda, Eduardo Oinegue e Gaudêncio Torquato também comentam a obra e o autor na quarta capa.