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{ GEOPOLÍTICA }

Neonacionalismo é a outra face da globalização

Professor de Relações Internacionais Gunther Rudzit falou na reunião semanal do Espaço Democrático

 

Redação Scriptum

 

A mesma globalização que promoveu o desenvolvimento econômico e tirou centenas de milhares de pessoas da miséria absoluta em tão curto espaço de tempo mostra agora ao mundo o seu avesso, que é o nacionalismo exacerbado, o isolacionismo do qual o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é a face mais exposta. “Os perdedores da globalização são os principais responsáveis pela ascensão da extrema-direita não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa”, diz Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e professor convidado da Universidade da Força Aérea (UNIFA). “São pessoas que perderam seus empregos, transferidos para outros lugares do planeta, especialmente a China, e querem o padrão de vida que tinham de volta. Por viverem em países democráticos, começam a expressar suas insatisfações”.

Rudzit, que falou sobre a nova geopolítica mundial nesta terça-feira (18), na reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD, aponta que embora Trump seja um ícone deste fenômeno, é na Europa que a extrema-direita apresenta crescimento vigoroso. “Eu diria que neste momento o Ocidente está em recessão democrática com a ascensão de partidos que não são nada democráticos dentro de sua democracia”, afirmou. “Vejo com preocupação o que os governos da Europa entregarão para os seus eleitores nos próximos quatro anos porque, se o padrão de vida dos europeus não melhorar, no próximo ciclo eleitoral a extrema direita poderá chegar ao poder”.

Os primeiros sinais desta guinada, lembrou Rudzit, se deram com o Brexit, como ficou conhecido o processo de saída do Reino Unido da União Europeia – um referendo em 23 de junho de 2016 aprovou a separação por 51,89% dos votos. “Foi o primeiro lampejo desse neonacionalismo e logo em seguida tivemos a eleição de Trump para o seu primeiro mandato e a demonstração de força da extrema-direita nacionalista europeia nas eleições. Na Alemanha, por exemplo, a AFD (Alternativa para Alemanha), que só não tem o neonazista oficialmente no nome porque é proibido usar, conseguiu a segunda maior bancada do Reichstag”, disse.

No rastro na onda de extrema-direita neonacionalista há o fator desestabilizador de Donald Trump, aponta o especialista. “O mundo está sem saber para onde ir com suas medidas desconexas e contraditórias, atacando aliados e confraternizando com inimigo histórico, a Rússia de Vladimir Putin”, afirmou. “Há um ano o mundo caminhava para outra bipolaridade entre as democracias ocidentais e os regimes autocráticos, ditatoriais, mas hoje isto acabou, estão todos sem saber para onde ir”. Para Rudzit, uma nova realidade está se desenhando. “E não sabemos qual é ela, mas tudo indica que é o mundo em que Donald Trump acredita, aquele no qual quem pode mais, chora menos, a lei da selva”.

Um exemplo dessa lei da selva à qual se refere foi o episódio em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi recebido no Salão Oval da Casa Branca por Trump e seu vice, J. D. Vance. Rudzit usa uma ideia do livro Rage (Raiva), do jornalista norte-americano Bob Woodward, para alertar sobre o nível de perigo que o mundo e os Estados Unidos correm com a caótica gestão de Trump. “No primeiro mandato, parte das medidas estapafúrdias que Trump tomou foram limitadas por alguns assessores de alto nível que chegaram inclusive a ganhar o apelido de “os adultos da sala”. Hoje, neste segundo mandato, ele se cercou de pessoas extremamente leais a ele, caso de Vance, ou seja, não há mais adultos na sala”.

O diálogo com Gunther Rudzit na reunião semanal do Espaço Democrático foi conduzido pelo jornalista Sérgio Rondino, ao lado do economista Luiz Alberto Machado e do médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge. Também participaram o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, o economista Roberto Macedo, o advogado Roberto Ordine, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, os gestores públicos Mário Pardini Januario Montone, a secretária do PSD Mulher nacional, Ivani Boscoloe um convidado, o sociólogo Lucas Zaizi.


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