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Os caminhos para o Brasil após o tarifaço de Trump

O economista Lucas Ferraz analisa, em reunião com consultores e colaboradores do Espaço Democrático, as oportunidades da nova geopolítica global

Para Lucas Ferraz, futuro deve incluir um crescente protecionismo americano, mesmo após a gestão Trump.

 

Redação Scriptum

O brutal aumento de tarifas sobre a importação de produtos brasileiros anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é mais um sinal de alerta para que o Brasil encare com seriedade o cenário de incerteza no comércio global e busque alternativas para continuar se desenvolvendo. A afirmação é do economista Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Negócios Globais da FGV e ex-secretário do Comércio Exterior do Brasil, e foi feita durante palestra na reunião semanal dos consultores e colaboradores do Espaço Democrático, a fundação do PSD para estudos e formação política, realizada na segunda-feira (14).

Com o tema “Desafios e oportunidades da nova geopolítica global”, Ferraz, que também é colaborador do Espaço Democrático, tratou dos principais aspectos das últimas décadas de globalização; dos choques recentes que estão afetando a economia global; e do posicionamento estratégico que deve ser adotado pelos países da América Latina.

Ferraz falou também sobre as tendências para o futuro, que, segundo ele, devem incluir um crescente protecionismo americano, mesmo após a gestão Trump; a forte influência da geopolítica na alocação dos investimentos globais, com a eficiência produtiva dando lugar à resiliência produtiva; a diversificação de parceiros econômicos como estratégia para mitigação de riscos; menor crescimento a longo prazo da economia global, que será menos produtiva; e um custo de fragmentação que pode alcançar 5% do PIB mundial.

O economista mostrou-se preocupado com o tom usado por Trump para anunciar a taxação sobre produtos brasileiros. “Trabalho com comércio exterior há 25 anos e nunca vi nada tão absurdo, anunciado de forma tão grosseira”, disse. Para ele, é difícil compreender porque o Brasil entrou no radar do presidente norte-americano de forma tão violenta. “Não somos um parceiro relevante para os EUA e se, de fato, Trump foi levado a isso nos últimos três meses com base em informações de um deputado brasileiro licenciado, o que fez nesse tempo o corpo diplomático brasileiro em Washington para não deixar colar essa narrativa?”

Em sua opinião, no que se refere à taxação das exportações brasileiras para os Estados Unidos, cabe agora ao governo federal negociar com frieza. “Num mundo absurdo, qual é a melhor atitude a ser adotada pelo Brasil? Para mim, é negociar com pragmatismo e deixar a ideologia fora desse debate”.

Ferraz, contudo, manifestou algum otimismo com a possibilidade de a incerteza provocada por Trump aumentar as oportunidades de acordos setoriais, como vem ocorrendo no caso das conversas entre Mercosul e União Europeia. “O apetite por novas negociações comerciais vem crescendo e o Mercosul pode se beneficiar, mas o bloco carece de dinamismo”, disse, lembrando que “o Brasil, que representa 80% do PIB do bloco, perdeu sua autonomia para parceiros que representam 6% das suas trocas comerciais. Além disso, não há uma estratégia clara de inserção internacional”.

De acordo com ele, o posicionamento estratégico do Brasil e países latino-americanos no cenário global atual deve considerar a necessidade de buscar pragmatismo em relações econômicas e políticas e manter a equidistância entre EUA e China, focando em políticas públicas que promovam suas vantagens comparativas em commodities agrícolas, minerais e energéticas, que trazem a oportunidade para reindustrialização verde e sustentável.

 

Reunião semanal de colaboradores do Espaço Democrático

 

Participantes

Após a palestra, Lucas Ferraz debateu o tema com os consultores do Espaço Democrático, que levaram questões sobre o papel da diplomacia brasileira frente às ameaças de Trump e o peso das questões políticas no caso, considerando o papel do Brasil no grupo BRICS. Participaram da reunião, coordenada pelo jornalista Sérgio Rondino, a secretária nacional do Espaço Democrático e do PSD Mulher Ivani Boscolo, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, os gestores públicos Mário Pardini, Januario Montone e José Luiz Portella, o ambientalista e ex-deputado federal constituinte Eduardo Jorge, o advogado Roberto Ordine, e o jornalista Marcos Garcia de Oliveira.


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