
Samuel Hanan: “A reeleição e os chamados governos de coalizão, que usam a regra do é dando que se recebe, estão na origem da maior parte dos problemas”
Redação Scriptum
O Brasil não tem problemas econômicos ou financeiros insolúveis. “Nossos problemas são políticos e éticos, que provocam graves dificuldades de gestão: o gigantismo de uma máquina pública ineficiente e desnecessária, privilégios insustentáveis que drenam volumes gigantescos de recursos e a falta de controles que leva à corrupção desmedida”, diz Samuel Hanan, ex-governador do Amazonas e um dos mais atentos observadores da conjuntura política e econômica brasileira.
Em palestra na reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD, na qual Hanan atua como integrante do Conselho Superior de Orientação –, nesta segunda-feira (4), ele mostrou como a política torna mais difícil colocar o Brasil em um caminho economicamente saudável. “A reeleição e os chamados governos de coalizão, que mais parecem governos de colisão, ou mesmo de cooptação, que usam a regra do é dando que se recebe, estão na origem da maior parte dos problemas que nós temos”, define. “É muito difícil governar, pois é necessário fazer muitas concessões”.
Hanan citou três dos problemas que considera mais graves. O primeiro deles é o gigantismo da máquina pública, que consome 12,5% do Produto Interno Bruto (PIB) quando a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 9,8%. “É consequência típica de um governo de coalizão, onde é necessário arrumar lugar para todo mundo, é resultado de privilégios e concessões”, apontou.
O segundo, de acordo com ele, é o excesso de gastos tributários por meio de renúncias fiscais, hoje superior a 5% do PIB, quando a Emenda Constitucional 109, de março de 2021, define que o limite é de 2%. “Quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo esta relação era de 1,3% do PIB e hoje já chegou a 5,4%”, disse.
E o terceiro é a corrupção, estimada atualmente entre 2,5% e 3% do PIB – segundo ele, há um excesso hipotético de 2% do PIB nesta estimativa. “Se eliminarmos esses excessos o País alcançaria uma economia de cerca de 7,7% do PIB, ou R$ 950 bilhões por ano”, afirma.
Diante dos graves problemas que apontou, Hanan fez uma análise da economia brasileira em comparação a países dos BRICs. “Nos últimos 15 anos, o PIB brasileiro caiu 1,4%, de US$ 2,210 trilhões para US$ 2,179 trilhões, enquanto o PIB da China cresceu 200%, o da Índia aumentou 129% e o da Rússia, 38%; o mundo cresceu em média 65%”, destacou. Quando a comparação é feita pelo PIB per capita, os números são ainda piores: o Brasil teve queda de 10,16% (de US$ 11.409 para US$ 10.249) enquanto os outros subiram: China, 179%; Índia, 95%; Rússia, 37%; e a média mundial, 41%.
Este quadro dramático fica mais evidente quando a renda brasileira é analisada. “Exatamente 90% da população tem renda mensal bruta de R$ 3.500”, enfatiza, para comentar os reflexos em alguns indicadores importantes. “De 2002 a 2024 caímos da 73ª para a 84ª no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); nossa posição no ranking do coeficiente de GINI, que mede a distribuição de renda, é a 53ª entre 58 países; e nossa posição do PISA, que avalia o desempenho de alunos do ensino médio, está abaixo da média da OCDE”.

Reunião semanal de colaboradores do Espaço Democrático
Tarifaço
Hanan analisou também a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% parte da pauta de produtos importados do Brasil. Segundo ele, antes de aplicar tarifas a todos os países do mundo, os EUA tinham uma alíquota média de 2,8% de imposto de importação. “Hoje já chega a 17% e se considerarmos que eles importam cerca de US$ 3 trilhões, vão gerar até US$ 800 bilhões com essas tarifas”, afirmou, lembrando que o déficit americano da balança é de US$ 1 trilhão.
Na avaliação dele, a questão pode estar ligada à redução do juro americano. “Só vai reduzir o juro se reduzir este déficit da balança comercial, que é um problema parecido com o brasileiro: nós só vamos conseguir baixar a Selic se reduzirmos a balança de pagamentos”. Para Hanan, o Brasil está encarando esta questão como comercial, mas ela não é: “É geopolítica”.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, coordenada pelo jornalista Sérgio Rondino, o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, os gestores públicos Mário Pardini e Januario Montone, o médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge, o advogado Roberto Ordine e o jornalista Eduardo Mattos.