Redação Scriptum
A privatização é a única saída possível para os desafios que a Petrobras tem à frente. O diagnóstico é de um profundo conhecedor da maior estatal brasileira, o engenheiro e administrador Pedro Parente, que comandou a empresa entre 2016 e 2018, no governo do presidente Michel Temer (MDB), e conseguiu tirar a companhia de uma das maiores crises de sua história, provocada nos anos anteriores pela intervenção da então presidente Dilma Rousseff na política de preços dos combustíveis. Sob sua gestão, a Petrobras voltou a operar com lucro depois de quatro anos de prejuízo, retomou o pagamento de dividendos aos seus acionistas e tirou da Ambev o posto que havia perdido em 2014, de empresa mais valiosa do País.
Em palestra na reunião semanal do Espaço Democrático, a fundação para estudos e formação política do PSD, ele fez uma análise dos desafios do mundo no processo de transição energética – mais complexos com a posse de Donald Trump, defensor do uso de combustíveis fósseis, na presidência dos Estados Unidos –, e os impactos no futuro da Petrobras. Parente, que nos dois governos do presidente Fernando Henrique Cardoso foi ministro chefe da Casa Civil, ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e ministro das Minas e Energia, destacou que a transição climática vive um paradoxo: “Há uma pressão muito forte pela descarbonização, que é desafiada pela demanda crescente por energia firme, com segurança”. Segundo ele, esta necessidade não será atendida de maneira imediata e majoritária por fontes renováveis e o mundo ainda enfrenta um obstáculo adicional: o relevante consumo de energia dos data centers e das ferramentas de Inteligência Artificial (IA). “O consumo de energia pela IA já corresponde a cerca de 2% a 3% do consumo global e vai aumentar”, enfatizou.
O Brasil, de acordo com Parente, está bem posicionado no contexto da transição energética: é o país com o maior percentual de fontes renováveis em sua matriz energética. “Temos a menor intensidade de carbono entre as grandes economias do mundo”, disse. Ele apresentou dados que mostram o quadro brasileiro: apenas entre 10% e 12% de nossa matriz energética é de fontes fósseis, quando a média global é de 59%; considerando toda a energia produzida no País, a participação das fontes renováveis é de 45% a 50%, muito superior às médias de outros países. A expansão futura está concentrada em energia solar e eólica, mas segundo ele há boas perspectivas em combustíveis renováveis de segunda geração, como o biogás e o etanol. “O grande desafio é garantir a segurança do fornecimento e a estabilidade da rede”, diz. E é neste contexto que entram os desafios da Petrobras.

Reunião semanal de colaboradores do Espaço Democrático
Visão estratégica
“A Petrobras tem papel de protagonista na transição, mas hoje falta pragmatismo responsável e visão de longo prazo à empresa”, aponta. “A gestão deveria equilibrar o papel estatal e a disciplina financeira, mas a história recente de retrocessos não me deixa otimista”. Segundo Parente, a companhia deveria liderar este processo com responsabilidade e foco na racionalidade econômica. “A transição não será linear, mas é inevitável, demorada, com maior ou menor sofrimento para a empresa dependendo da sua capacidade de enfrentar os desafios com competência, oportunidade e gestão racional”.
Hoje, de acordo com os dados que apresentou, as reservas da Petrobras indicam que a produção de petróleo pela empresa atingirá o pico em 2030, com a produção de cerca de 5,3 milhões de barris por dia. “Significa que, se nenhuma nova fonte for descoberta até lá, a partir de 2031 a produção entrará em declínio, aponta. “É um risco caso não haja reposição contínua para as reservas do pré-sal, que hoje respondem por 75% de toda a produção”.
A possibilidade de incorporação de novas reservas está na Margem Equatorial e na Bacia de Pelotas, mas o tempo de maturação não é rápido. “O ciclo completo, desde a abertura do poço até o que chamamos de first oil, pode levar de nove a até 15 ou 20 anos”, explica. “E a perspectiva é de que em cinco anos começará o declínio da produção”. As alternativas, além das fontes fósseis domésticas, são as biorrefinarias, o diesel verde, o combustível renovável de aviação, o hidrogênio verde e a captura e armazenamento de carbono. “Mas todas demandam tempo incerto, nenhuma delas vai produzir resultados em quatro ou cinco anos”, diz.
Associado a esses desafios há, para ele, o retorno da politização da empresa. “Observo a repetição de erros passados, com forte foco na estatização do refino, investimentos em refinarias que tiveram alta polêmica de preços contratados, o enfraquecimento grande da governança, com pessoas não qualificadas no conselho da empresa, e o aparelhamento da gestão com a entrega de cargos relevantes ao sindicato”, aponta. “Tenho ouvido também relatos de que a companhia cogita voltar a fazer a distribuição de combustíveis: vendeu a BR Distribuidora e agora quer voltar a distribuir”, afirmou.
Parente elogiou a iniciativa do Espaço Democrático, de discutir o tema. “É uma coisa importante e nova para mim falar sobre um tema relevante na fundação de um partido político”, destacou. “Em geral os partidos, em sua atuação, principalmente no Congresso Nacional, têm outras preocupações que não propriamente a do interesse público e das necessidades do País”.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, coordenada pelo jornalista Sérgio Rondino, o empresário e gestor público Andrea Matarazzo, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, os gestores públicos Mário Pardini e Januario Montone, o ex-deputado federal constituinte e ambientalista Eduardo Jorge, o advogado Roberto Ordine, a secretária da fundação, Ivani Boscolo, e o jornalista Eduardo Mattos.