Pesquisar

tempo de leitura: 3 min salvar no browser

{ DIÁLOGOS NO ESPAÇO DEMOCRÁTICO }

Proposta para a COP30: um mercado comum de crédito de carbono

Brasil e União Europeia poderiam dar o pontapé inicial, sugere Candido Bracher em entrevista no Espaço Democrático

 

 

 

Redação Scriptum

 

A COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que o Brasil sediará em novembro próximo, em Belém, pode ser uma oportunidade única para tornar o País protagonista mundial no enfrentamento ao aquecimento global. “Ali podemos começar a costurar um mercado comum de crédito de carbono, que hoje não existe”, acredita o ex-CEO do Itaú-Unibanco, Candido Bracher, que deixou o sistema financeiro em 2021 e hoje é um estudioso da causa da emergência climática.

Ele e sua esposa, a ambientalista Teresa Bracher, atuam há 20 anos na preservação do Pantanal – são proprietários de fazendas que fazem parte da Rede de Proteção da Serra do Amolar e também da Aliança 5P, grupo que tenta garantir a conservação do bioma Pantanal, adquirindo propriedades na região para formar grandes corredores ecológicos e manter o bioma como o mais preservado do País.

Em entrevista ao programa Diálogos no Espaço Democrático, produzido pela TV da fundação de estudos e formação política do PSD e disponível em seu canal de YouTube, Bracher apontou que a criação do mercado de carbono é o melhor instrumento para combater aquele que será o maior problema da Humanidade nas próximas décadas. “Precisamos enfrentar o desafio de reduzir as emissões de carbono a zero para que a temperatura média não aumente, tornando a vida ao menos tolerável, especialmente em regiões tropicais como a nossa”, disse. “A solução é fácil, colocar um preço para as emissões de carbono”.

A emergência é justificável. O Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) – agência europeia do clima – acaba de anunciar que 2024 foi o ano mais quente da história. O aumento da temperatura média do planeta superou a marca de 2023 e ultrapassou o limite de aquecimento de longo prazo de 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais (anteriores à Revolução Industrial), estabelecido pelo Acordo de Paris, de 2015.

O impacto disso pôde ser notado nas várias tragédias registradas ao longo do ano em todo o mundo. No Brasil, a Amazônia e o Pantanal registraram grandes períodos sem chuva; na África, o deserto do Saara inundou; na Europa, cidades da Espanha ficaram embaixo das águas das chuvas; na América do Norte, incêndios florestais dizimaram florestas no Canadá, por exemplo, e agora chegam a áreas urbanas dos Estados Unidos – em Los Angeles, na Califórnia, mais de duas mil casas foram incendiadas.

Entrevistado pelo ambientalista Eduardo Jorge e pelos jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino – âncora do programa de entrevistas –, Bracher define o aquecimento global como um dos poucos temas sobre os quais há consenso. “Todos concordam com a existência, as causas e a solução”, aponta. “Apesar disto, o progresso na direção da solução é lento, quase inexistente, tanto que as emissões continuam aumentando”. Para ele, é uma questão que se insere no conceito conhecido como a tragédia dos bens comuns. “Quando há acesso ilimitado a um recurso limitado, e este acesso não é regulamentado, controlado por regras ou preços, este bem é sobre-utilizado e degenerado”, diz. “É o que ocorre com a atmosfera: qualquer um sempre pôde emitir esses gases sem restrição, sem pagar nada por isto”.

Bracher defende que uma ferramenta já utilizada pelos países da União Europeia possa ser utilizada para o primeiro passo da criação de um mercado comum de carbono: o CBAM (Carbon Border Adjustment Mechanism, ou Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono, em tradução livre), taxação aduaneira de carbono para produtos importados pela UE.

“Uma empresa que produz aço na Bélgica, por exemplo, paga um imposto pelas emissões de carbono, mas uma siderúrgica chinesa exporta para a Europa sem pagar isso, uma concorrência desleal”, diz. “A Europa inventou um imposto que é cobrado na fronteira, de todos os produtos importados para o continente, que é pelo carbono contido na produção, como se esses produtos tivessem sido produzidos na Europa, sujeitos a regras europeias”. Ele defende que este modelo seja usado por Brasil, União Europeia, Austrália e Japão para constituir este mercado de carbono. “Vamos adotar regras, construir isto diplomaticamente e em torno deste novo grupo criar a barreira e cobrar pelos produtos de fora; quando exportarem para este mercado comum de carbono, Índia e Estados Unidos terão de pagar esta taxa”.

Bracher entende que como as consequências do aquecimento vão se agravar, haverá mecanismos de compensação que vão estimular a adesão de outros países a este mercado. “A minha ideia é que em Belém possamos constituir o núcleo duro deste grupo, que possamos começar a definir um preço global para o carbono e induzir outros países a aderirem, apesar de Estados Unidos e China empacarem o processo”.


ˇ

Atenção!

Esta versão de navegador foi descontinuada e por isso não oferece suporte a todas as funcionalidades deste site.

Nós recomendamos a utilização dos navegadores Google Chrome, Mozilla Firefox ou Microsoft Edge.

Agradecemos a sua compreensão!