Redação Scriptum
A mais recente crise no sistema de saúde do Rio de Janeiro, exposta com a revelação de que seis pacientes foram infectados com HIV após transplantes de órgãos em razão da negligência do laboratório responsável para fazer analisar o sangue de doadores, foi um dos temas da reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD. Na reunião desta terça-feira (22) também foi abordado o encontro dos chefes de Estado dos países que são parte dos BRICs na Rússia e o desempenho das esquerdas nas eleições municipais.
O consultor na área de saúde Januario Montone, que foi secretário de saúde do município de São Paulo entre 2007 e 2012, considera que embora o episódio envolvendo o laboratório PCS Lab Saleme pudesse colocar em risco a credibilidade do Programa Nacional de Transplantes, isto parece não ter ocorrido. “Precisamos avaliar agora o impacto sobre doadores e familiares”, disse ele.
Montone destacou que o programa de transplantes é um dos mais vitoriosos do SUS. “Só em 2023 foram feitos 6.766 transplantes no Brasil e é a primeira vez que uma ocorrência grave como esta é registrada”, afirmou. “Foi um problema localizado e identificado.” Ele lembrou ainda que esta é mais uma mancha no sistema público de saúde do Rio de Janeiro. “Confirma a reputação de um sistema corrompido no Estado, que frequenta mais as páginas policiais dos jornais que as técnicas”.
BRICs
O economista Luiz Alberto Machado fez um retrospecto histórico sobre a evolução dos BRICs, reunido neste momento, em Kazan, na Rússia, para discutir, entre outros temas, a admissão de novos países parceiros – entre os quais os latino-americanos Cuba, Venezuela e Nicarágua – e a adoção de uma moeda alternativa ao dólar como referência para transações internacionais.
Machado lembrou a adesão recente de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã ao grupo, segundo ele um reflexo das mudanças nas relações internacionais. E destacou que é possível, pelo perfil dos países que estão sendo agregados, perceber que o bloco vem ganhando um forte viés geopolítico. “Alguns deles são reconhecidas ditaduras e outros se opõe fortemente à influência ocidental do mundo; mais do que a influência ocidental, a influência americana”.
Esquerdas
O cientista político Rubens Figueiredo fez uma análise sobre o desempenho dos partidos de esquerda nas eleições municipais e projetou como este resultado pode refletir na disputa de 2026. Segundo ele, o Partido dos Trabalhadores é cada vez mais dependente do carisma e da liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O PT é uma coisa e o Lula é outra, muito diferente”, afirmou.
Ele apontou que o discurso do partido, desde a eleição presidencial de 1989, continua o mesmo, sem evoluir. “É um discurso surrado: o Lula de 1989 é o mesmo de 2024”, disse. Figueiredo destacou que o ciclo de consumo registrado ao longo do primeiro mandato de Lula lustrou a imagem do PT, mas não foi obra dele, e sim do fato de a economia brasileira ter surfado no boom das commodities. Por fim, o cientista político disse que a sociedade brasileira perdoou todos os grandes escândalos nos quais o PT se envolveu – mensalão, petrolão, lava-jato – e continuou votando em Lula, mas não há nada de novo na esquerda. “Não há formuladores”, enfatizou.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático o advogado Roberto Ordine, o sociólogo Tulio Kahn, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o gestor público Januario Montone, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo e os jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação do Espaço Democrático. Todos consultores e colaboradores da fundação do PSD.