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Motivação dos homicídios no Brasil

Sociólogo Tulio Kahn, especialista em segurança publica, defende a realização de um estudo nacional sobre o tema

Tulio Kahn, sociólogo e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum Diversos levantamentos e estudos tem procurado entender a motivação por trás dos muitos homicídios no Brasil. Chamamos de “levantamentos” os dados compilados pelas polícias e órgãos do sistema de justiça criminal, e de “estudos”, o material de cunho mais acadêmico. Grande parte dessa literatura – em especial os levantamentos feitos pelas polícias – e da mídia tende a privilegiar o papel das disputas entre as facções ligadas ao tráfico de drogas neste problema. Papel que é significativo, mas está longe de esgotar a questão das motivações ou das dinâmicas por traz das tendências dos homicídios. O problema é que não temos nenhum estudo abrangente, nem metodologias e categorias padronizadas, que tenha produzido uma estimativa consensual. Analisando esta literatura, encontrei dezenas de classificações diferentes e agrupei as diferentes categorizações em 14 motivos principais. Entre eles – além das mortes entre traficantes e usuários relacionadas a drogas – temos:   * As ações de gangues em disputas por mercados além das drogas, como é o caso das milícias ou organizações focadas em outros crimes, como roubos a banco ou carga. Disputas pelo poder dentro e fora das penitenciárias podem ser incluídas nesta categoria. * Temos os crimes provocados por vingança e acerto de dívidas, principalmente entre grupos criminosos. E as vinganças interpessoais ligadas a questões de honra e masculinidade. * Os desentendimentos fúteis entre desconhecidos, não premeditados, como as brigas de bar e de trânsito estimuladas pelo consumo de álcool. * Ainda, os homicídios passionais e domésticos, também no grupo dos assassinatos não premeditados e interpessoais. Os feminicídios, antes simplesmente homicídios de mulheres por motivo fútil (ciúme) ou torpe, entram nesta categoria. * Os latrocínios. * As mortes praticadas em legítima defesa própria ou de outrem. * As mortes por ambição, cujo objetivo é o de apropriação de terras, minérios, bens, heranças, seguros e outros bens patrimoniais. * A pistolagem de cunho político. * As mortes em confronto com a polícia. * As balas perdidas e erros de pessoa. * Os casos ligados a homofobia ou racismo. A lista está longe de ser exaustiva (ou mutuamente exclusiva) e inclui grandes categorias, nas quais: * A motivação simplesmente não pode ser classificada por falta de informações ou foi classificada em “outros”, como por exemplo os homicídios sexuais ou onde o autor sofria de sérios problemas mentais, os ataques coletivos em escolas, assassinatos seriais e diversas outras situações onde a pequena quantidade de casos não justifica a criação de uma nova categorização. Além da diversidade de categorias, as pesquisas são também bastante variadas no que diz respeito às metodologias, amostras, fontes, áreas e períodos em que foram realizadas. A diversidade é grande ao ponto de ser temerária qualquer comparação ou “consolidação” dos achados, do tipo que pode tentar em meta-análises ou revisões sistemáticas. Resumindo alguns dos problemas de comparabilidade dos 45 trabalhos encontrados, observamos que: * Categorias de motivos utilizadas nos estudos para a classificação dos homicídios são diferentes em quantidade e definições; o número de categorias variou de cinco a 14, com média de 8,1; quanto maior o número de categorias, maior a fragmentação de cada uma. * Categorias não são mutuamente exclusivas; há uma mistura de motivos, com modus operandi (execução), local (estabelecimentos penitenciários) ou tipo de executor (milícia). * Alguns estudos focam apenas nos homicídios dolosos (art. 121), enquanto outros analisam outras mortes violentas, como latrocínios e confrontos com a polícia. * Alguns estudos trabalham com amostras que podem ser enviesadas (departamento de homicídios, que privilegiam autoria desconhecida), enquanto outros trabalham com o universo dos homicídios em determinado ano e local. Alguns estudos analisam dados de cidades, especialmente capitais e Regiões Metropolitanas – onde o tráfico tende a ser mais relevante – e outros dados de Estados. * As fontes podem ser diferentes: uns usam BOs e outros Inquéritos ou laudos do IML. * Períodos são diferentes e frequências em cada categoria podem mudar nos diferentes períodos, segundo os interesses da conjuntura. * Alguns estudos calculam as porcentagens das classes utilizando todos os homicídios e outros utilizando apenas os homicídios para os quais existe uma classificação de motivação conhecida. A frequência de cada categoria varia bastante, dependendo da taxa de esclarecimento local. * Perfil dos homicídios muda conforme a região e em alguns Estados as causas são bastante específicas, tais como conflitos agrários (Norte e Nordeste), bala perdida ou ação das milícias (Rio de Janeiro). * Com todas estas diferenças, é fácil entender porque as conclusões são muitas vezes díspares – com a categoria “tráfico” variando de 0% a 78% na participação nos homicídios – e as dificuldades em tentar algum tipo de comparação ou consolidação dos resultados. A variação é enorme e isso provavelmente tem relação com as diferenças metodológicas entre os levantamentos e estudos, diferenças regionais e outras acima elencadas. É como tentar medir “inflação” usando diferentes definições, cesta de produtos, lugares e períodos. Dificilmente conseguiríamos traçar uma política de combate à inflação e essa é umas das muitas razões pela qual o País falha na elaboração de uma política pública consistente de combate aos homicídios. Feitas estas admoestações, e apenas para satisfazer a curiosidade do leitor, observamos que a média de motivação “tráfico” foi de 32% e a mediana 30% – sabendo que comparamos bananas e maçãs e ainda algumas carambolas. Algumas considerações sobre o material que julgo apropriadas:

  1. As pesquisas acadêmicas mais “robustas” parecem produzir estimativas ao redor de 20% e 30% (Scorzafave, Cerqueira, Campagnac, Lima, Sapori, Dirk, Mingardi, etc.). Não sabemos se a estimativa de 30% obtida é apropriada. Mas sabemos, com grande probabilidade, que ela não é 0 nem 78%;
  2. Os “levantamentos” produzidos pelos órgãos do sistema de justiça tendem a sobrevalorizar o papel do tráfico e drogas como motivação (média de 41,7%), enquanto os “estudos” de cunho acadêmico observaram médias bem inferiores (média de 24,7%);
  3. Foram feitos no Nordeste 13 dos 45 trabalhos e a media de “tráfico” cresce para 37% na região. No Sudeste (16 trabalhos), a média foi de 30%;
  4. Existe um grande número de homicídios sem motivação conhecida, como discutido. Há maior chance de eles estarem relacionados ao tráfico, mas também a disputas entre outras “gangues”, “ambição”, “mortes pela polícia” ou diversos outros crimes premeditados e “bem” executados. Sim, a motivação “tráfico” deve estar subestimada, mas não há razão para alocar todos os casos “sem motivação conhecida” apenas nesta categoria.
Existem muitas “narrativas”, para usar um termo que se tornou corrente, sobre o papel preponderante das facções ligadas ao tráfico na dinâmica criminal extramuros, seja para explicar quedas ou aumentos dos homicídios, conforme a conveniência da conjuntura. Embora significante, a dinâmica das facções e seu papel na dinâmica dos homicídios – que é clara para certos Estados e períodos – não é o único motivo explicativo para o fenômeno, como eu e diversos outros analistas insistimos. Um passo importante para avançar nesta polêmica seria realizar um grande estudo nacional sobre essa lacuna no conhecimento criminológico. Em algum momento, o governo federal e/ou grupos de pesquisa deverão definir categorias de “motivações”, definições e metodologia unificadas para conseguirmos uma aproximação mais fiel do papel das facções ligadas ao tráfico na dinâmica dos homicídios. Pois o que temos no momento são estudos locais e parciais, não comparáveis e tampouco generalizáveis. Bibliografia Andrade, R. M. (2016). Violência letal na cidade de Salvador-BA: Uma análise da gestão das informações criminais produzidas pelo sistema de defesa social. Barata, Rita Barradas, Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro, and Meri De Sordi. "Desigualdades sociais e homicídios na cidade de São Paulo, 1998." Revista Brasileira de Epidemiologia 11 (2008): 3-13. BRITTO, Cristiano Quirino de. Violência e homicídios relacionados ao tráfico de drogas, em Uberlândia - MG. 2017. 236 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2017. DOI Campos, Maria Elda Alves de Lacerda, et al. "Mortes por homicídio em município da Região Nordeste do Brasil, 2004-2006 a partir de dados policiais." Epidemiologia e Serviços de Saúde 20.2 (2011): 151-159. Cerqueira, Daniel Ricardo de Castro. "Custo de bem-estar social dos homicídios relacionados ao proibicionismo das drogas no Brasil (Publicação preliminar)." (2023). de Souza, Monica Gomes Teixeira Campello, et al. "AS CAUSAS DOS HOMICÍDIOS EM PERNAMBUCO-CONTRASTANDO A NARRATIVA OFICIAL E A EXPERIÊNCIA DA POPULAÇÃO." Educamazônia-Educação, Sociedade e Meio Ambiente 24.1, jan-jun (2020): 314-345. dos Santos, Kélbila Mayara Borges, and Jeferson dos Reis Pessoa Junior. "ANÁLISE DOS HOMICÍDIOS NO ANO DE 2014 NA REGIÃO METROPOLITANA DE CUIABÁ-MT." TCC-Direito (2018). Ferreri, Marcelo de Almeida, and Manoel Carlos Cavalcanti Mendonça Filho. "Contradições do cotidiano nos homicídios por motivo fútil no Baixo São Francisco: pistas para pensar a interiorização da violência." Revista Polis e Psique 4.1 (2014): 54-54. Gawryzewski VP, Kahn T, Mello Jorge MHP. Informações sobre homicídios e sua integração com o setor saúde e segurança pública. Revista de Saúde Pública 2005; 39(4):627-633. Lima, Renato Sérgio de. "Conflitos sociais e criminalidade urbana: uma análise dos homicídios cometidos no município de Säo Paulo." (2000): 112-112. Lino, Denis, et al. "Psicopatia e Crime: São Todos os Homicidas Psicopatas?." Avaliação Psicológica 21.2 (2022): 187-196. Manso, Bruno Paes. Crescimento e queda dos homicídios em SP entre 1960 e 2010. Uma análise dos mecanismos da escolha homicida e das carreiras no crime. Diss. Universidade de São Paulo, 2012. Mingardi, Guaracy. "A Investigação de homicídios-construção de um modelo." (2006). Pereira, Guêdijany Henrique, et al. "CARACTERIZAÇÃO DAS VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS DE UMA CIDADE DO NORDESTE DO BRASIL." Revista Cereus 7.1 (2015): 03-15. Ratton, José Luiz, et al. "Configurações de homicídios em Recife: um estudo de caso." Segurança, Justiça e Cidadania: Pesquisas Aplicadas em Segurança Pública 6 (2011): 73-90. Sant'Anna, Ana, Denise Aerts, and Marta Júlia Lopes. "Homicídios entre adolescentes no Sul do Brasil: situações de vulnerabilidade segundo seus familiares." Cadernos de Saúde Pública 21 (2005): 120-129. Sapori, Luís Flávio. "Mercado das drogas ilícitas e homicídios no Brasil: um estudo comparativo das cidades de Belo Horizonte (MG) e Maceió (AL)." Dados 63 (2020): e20180191. Simão, Frederico Fernandes, and Luiz Carlos Colla Filho. "Homicídios e tráfico de drogas em Santa Catarina: análise de dados e considerações." Revista Ordem Pública 10.1 (2018): 115-136. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Indicadores de violência contra a mulher pioram, na contramão dos demais

Sociólogo Tulio Kahn elenca fatores que podem ter contribuído para o crescimento de crimes como o feminicídio

Tulio Kahn, sociólogo e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum O Anuário de Segurança Pública de 2023 constatou o crescimento de diversos crimes e indicadores de violência contra a mulher, não obstante a queda dos homicídios em geral e de diversos crimes patrimoniais no último quinquênio. Assim, por exemplo, com relação a 2021, os homicídios com mulheres como vítimas cresceram 1,2% e os feminicídios, 6,1%, na contramão das mortes violentas em geral, que caíram 2,4%. Isto fez com que os feminicídios representem hoje mais de um terço dos homicídios de mulheres no País. As tentativas de homicídio de mulheres aumentaram 9,3%, enquanto as tentativas de feminicídio cresceram quase 17% em um ano. Ainda neste contexto, a lesão corporal dolosa praticada em contexto doméstico variou 2,9% para cima, o que explica em parte o crescimento correlato de 13,7% das medidas protetivas de urgência (MPU) concedidas pela Justiça entre 2021 e 2022. Outro indicador do fenômeno é o número de chamados ao sistema 190 da Polícia Militar, que aponta um crescimento de 8,7% nos casos de violência doméstica. Para completar o quadro, as ameaças às mulheres subiram 7,2% em 2022, as perseguições passaram de 31 mil para 54 mil casos e os registros de violência psicológica contra mulheres subiram de 11 mil para cerca de 24 mil casos. Uma primeira observação é que este resultado deve refletir, em parte, o crescimento do próprio fenômeno e, em parte, o aumento da notificação pelas vítimas ou ainda o uso de novas classificações pelo sistema de justiça criminal. É nitidamente o caso das perseguições e violência psicológica, com a nova redação da Lei 14.132/2021. O mesmo, provavelmente, se aplica aos casos de assédio sexual e importunação sexual, que cresceram respectivamente 49,7% e 37% de 2021 para 2022. Existe um aprendizado mais ou menos lento dos operadores do sistema de justiça criminal, que aos poucos vão conhecendo e aplicando os novos esquemas de classificação, como aconteceu com o feminicídio, tipificado em 2015, que aos poucos vem substituindo o uso de homicídio contra mulheres. Este aprendizado explica porque no Distrito Federal 59,4% das mortes de mulheres sejam classificados como feminicídio, em contraste com apenas 9,1% dos casos em Roraima. Crimes são fenômenos sociais relativamente estáveis e inerciais. Mudanças bruscas como as vistas são usualmente resultado de alterações em definições jurídicas, sistemas de registro e contabilização e do processo social de produção dos dados criminais. A segunda nota é que muito se falou durante a epidemia da Covid-19 sobre o impacto do isolamento social na violência contra mulher, em razão da convivência forçada com seus parceiros no âmbito doméstico ou da piora da saúde mental. Há alguma evidência também do aumento do consumo de álcool durante a pandemia, fator tradicionalmente ligado à violência (Garcia, 2020). A expectativa, assim, é de que os indicadores de violência contra a mulher caíssem em 2022, na comparação com 2021, ano de pandemia, e não o contrário. Por que os indicadores pioraram então? Bueno e colegas (Bueno, 2023) levantam como hipóteses explicativas para o piora o desfinanciamento das políticas de proteção à mulher na gestão passada, a piora nos serviços de acolhimento e proteção às mulheres, o crescimento dos crimes de ódio e do conservadorismo na política brasileira e finalmente, uma reação masculina aos avanços da participação feminina na sociedade. Tão intrigante quanto o vertiginoso crescimento da violência contra a mulher pós-epidemia é a distribuição geográfica desta violência. Com os índices mais baixos vemos os Estados do Nordeste e do Sudeste. Centro Oeste, Sul e Norte, por sua vez, têm os índices mais elevados. O que está por traz desta distribuição? Grau de participação das mulheres na sociedade? Sensibilização com relação à notificação pelas vítimas? Diferentes práticas de registro do sistema de justiça criminal? Infelizmente não temos medidas de muitas destas dimensões teoricamente relevantes. Em geral, quanto maior a suspeita de que os agressores estavam alcoolizados no momento da agressão, maior o volume de novos portes de arma e maior o percentual de mães chefes de família sem fundamental completo, maior é o índice de violência contra a mulher no Estado. A dinâmica dos homicídios femininos é, de fato, diferente da dos feminicídios. Uma análise de perfil mostra que os feminicídios, comparados aos homicídios, são proporcionalmente mais cometidos dentro da residência, por conhecidos, com arma branca etc. Uma hipótese bastante plausível para o crescimento da violência contra as mulheres é a do crescimento das armas nas mãos dos CACs, que passaram de 13.378 para 783.385, uma variação de 5.755% entre 2005 e 2022. A questão do álcool, como discutimos, é mais complexa. Embora não existam dados recentes a respeito, a expectativa é de que o consumo de álcool voltaria a cair com o fim da epidemia. Mas esta relação precisa ser mais bem investigada, pois há estudos que apontam, ao contrário, que o consumo de álcool pode ter caído durante a epidemia e que agora estaríamos presenciando um retorno aos padrões de consumo anteriores, o que é coerente com um crescimento da violência contra a mulher observado no Brasil (Bollen, 2022; Carbia, 2022; Mangot-Sala, 2022). As outras variáveis socioeconômicas – tais como taxa de analfabetismo, renda per capita ou percentual de mães chefes de família sem o fundamental – são do tipo que se movem lentamente e não consta que tenham sofrido grandes alterações nos últimos anos. O mesmo, aliás, se aplica a variáveis como “cultura machista” e outros padrões de comportamento, que se movem devagar. São assim menos aptas a explicar as mudanças bruscas nos indicadores de violência contra a mulher do que variáveis criminógenas, como consumo de álcool e armas em circulação, afetadas pela pandemia e pela nova legislação. Em resumo, adicionalmente aos fatores elencados por Bueno et all., acreditamos que alterações na notificação por parte das vítimas, aprendizado no uso de novos tipos jurídicos e mudanças na circulação de armas, entre outras variáveis, podem explicar o crescimento observado nos indicadores de violência contra a mulher, em contraste com a tendência de queda das mortes violentas. Bibliografia BOLLEN, Zoé et al. Longitudinal assessment of alcohol consumption throughout the first COVID-19 lockdown: contribution of age and pre-pandemic drinking patterns. European Addiction Research, v. 28, n. 1, p. 48-55, 2022. Bueno, Samira; Martins, Juliana; Lagreca, Amanda; Sobral, Isabela; Barros, Betina e Brandão, Juliana. O crescimento de todas as formas de violência contra a mulher em 2022. Anuário de Segurança Pública de 2023, Fórum Brasileiro de Segurança Pública. CARBIA, Carina et al. Associations between mental health, alcohol consumption and drinking motives during COVID-19 second lockdown in Ireland. Alcohol and Alcoholism, v. 57, n. 2, p. 211-218, 2022. Cerqueira, Kahn, Bueno e Lins. Armas de Fogo Homicídios no Brasil. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2022. Garcia, L. P., & Sanchez, Z. M.. (2020). Consumo de álcool durante a pandemia da COVID-19: uma reflexão necessária para o enfrentamento da situação. Cadernos De Saúde Pública, 36(10), e00124520. https://doi.org/10.1590/0102-311X00124520 MANGOT-SALA, Lluís et al. The impact of the COVID lockdown on alcohol consumption in the Netherlands. The role of living arrangements and social isolation. Drug and alcohol dependence, v. 233, p. 109349, 2022. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Oppenheimer codificou o medo na diplomacia e viu a bomba nuclear proliferar

Revista americana Foreign Affairs republicou artigo escrito pelo físico em 1948, no qual ele defende o uso pacifista da energia atômica

[caption id="attachment_36912" align="aligncenter" width="618"] Robert Oppenheimer[/caption]   Texto: Estação do Autor com Folha de S.Paulo Edição: Scriptum Apontado como o “pai da bomba atômica”, o físico americano Robert Oppenheimer, lutou em outras frentes. Ele defendia negociações internacionais que limitassem a produção da bomba, direcionando a energia atômica para fins pacíficos, como a medicina e a produção de eletricidade. Oppenheimer foi chefe do laboratório de Los Alamos (Novo México), que produziu em 1945 as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Mesmo parecendo incoerente, em 1948 o cientista escreveu um longo texto para a publicação Foreign Affairs, na qual explicava suas posições pacifistas. Artigo de João Batista Natali para a Folha de S.Paulo trata sobre os conflitos e tentativas do físico, formado em Harvard, de fazer valer suas convicções. Hoje, em destaque como personagem central do filme homônimo dirigido por Christopher Nolan, o icônico artigo de Oppenheimer foi republicado recentemente pela revista diplomática americana. Nele, o físico se opunha, por exemplo, à bomba de hidrogênio, que os Estados Unidos construíram para se contrapor à bomba nuclear que a União Soviética havia detonado em 1949. O desejo do físico era que a ONU se tornasse um centro de compartilhamento de informações sobre a energia atômica. Para ele, essa seria uma forma de impedir que existissem segredos, possibilitando que todos se beneficiassem, para fins pacifistas, da pesquisa realizada na área. Mesmo não se arrependendo de ter criado as duas bombas que mataram 110 mil japoneses imediatamente, ele tampouco se orgulhava de seu papel fundamental no Projeto Manhattan, programa que transformou o átomo em arma de destruição em massa. Com o fim da Segunda Guerra, nasceu a Guerra Fria, responsável por codificar diplomaticamente o medo. Até o início dos anos 1990, nenhuma das potências nucleares explodiu uma só bomba e as guerras foram todas circunscritas geograficamente e disputadas com armas convencionais. Contando sempre com o respeito internacional e sem perder sua reputação acadêmica, Oppenheimer terminou seus dias como professor da Universidade de Princeton. Autoria J. Robert Oppenheimer Editora Foreign Affairs (publicado originalmente em 1.jan.1948) Link: https://www.foreignaffairs.com/united-states/robert-oppenheimer-international-control-atomic-energy-nuclear-bom  

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Pesquisas de popularidade do governo seguem sem muitas surpresas  

Rogério Schmitt escreve que os sucessivos retratos do eleitorado brasileiro têm mostrado que de cada dez eleitores, quatro avaliam bem o governo Lula, três avaliam mal e outros três estão em cima do muro

Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

O mês de agosto marcará a volta às aulas nas escolas de todo o País. Na política, marcará também a retomada da rotina normal de trabalho dos poderes legislativo e judiciário, que estiveram em recesso (formal ou informal) ao longo da maior parte do mês de julho. Somente o poder executivo se manteve em plena atividade no período. Uma boa ocasião, portanto, para atualizar o desempenho do governo Lula nas pesquisas nacionais de opinião pública.

Como tenho feito regularmente, neste artigo analisarei os números referentes a junho e julho. Ao longo do mês de junho, estiveram em campo quatro pesquisas sobre a popularidade do governo, todas feitas por institutos já bastante conhecidos (Ipec, Datafolha, Genial Quaest e Poder Data). Já em julho, talvez por causa das férias, dispomos apenas de duas pesquisas, ambas feitas por institutos de menor porte (Atlas Intel e Futura Inteligência).

O gráfico abaixo mostra as médias mensais das taxas de avaliação positiva, regular e negativa do governo Lula nos sete primeiros meses de 2023. Como se pode notar, não houve grandes mudanças em junho ou em julho. Quase toda a variação dos números está dentro das margens de erro habituais das pesquisas por amostragem.

O governo Lula terminou o mês de maio com uma avaliação positiva média de 41,4%. Houve uma pequena queda para 38% em junho, mas uma recuperação para 43,5% em julho. Na prática, desde janeiro, a popularidade (soma de “ótimo” e “bom”) do governo tem oscilado ao redor dos 40% do eleitorado.

Por seu turno, a avaliação regular tem oscilado próxima da casa dos 30% do eleitorado na maior parte do tempo. Entre maio e junho, ela aumentou de 26,6% para 30,5%. Mas teve uma boa queda em julho, para 25,0%.

Finalmente, a avaliação negativa (soma de “ruim” e “péssimo”) também tem variado em torno da casa dos 30%. Ela quase não variou entre maio (28,7%) e junho (28,5%), mas em julho já teve um pequeno incremento (para 30,8%).

Portanto, os sucessivos retratos do eleitorado brasileiro têm mostrado, neste ano, que, de cada dez eleitores, 4 avaliam bem o governo Lula, 3 avaliam mal e outros 3 estão em cima do muro.

Vale ressaltar, por fim, que estes números são distintos dos que se referem à aprovação pessoal do presidente Lula, que analisarei em artigo futuro.

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