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Brasil desconhece até onde o crime organizado está infiltrado

Sociólogo Tulio Kahn, especialista em segurança pública, falou sobre o tema na reunião semanal da fundação do PSD

[caption id="attachment_38184" align="aligncenter" width="560"] Reunião semanal de consultores do Espaço Democrático[/caption]
 
Redação Scriptum
Na segunda quinzena de abril o Ministério Público de São Paulo anunciou que investigações feitas em 13 municípios do Estado revelaram a participação de uma das maiores organizações criminosas do País, o Primeiro Comando da Capital, em fraudes nas licitações de prefeituras com o propósito de obter contratos públicos que permitam desviar dinheiro de impostos e lavar dinheiro do tráfico de drogas. O envolvimento do PCC, apontou o MP-SP, se deu por meio da associação com empresários que já tinham experiência em fraudar licitações. Esses empresários estabeleceram uma rede de contatos com agentes públicos que aceitavam propina até mesmo para elaborar os editais de forma a favorecê-los. Só nesses casos, os contratos apurados somam mais de R$ 200 milhões
A operação deflagrada pelo Ministério Público paulista mostra a ponta de um iceberg de tamanho desconhecido. “As organizações criminosas estão infiltradas em vários segmentos da sociedade brasileira e o poder público não sabe o tamanho desta inserção”, afirmou o sociólogo Tulio Kahn, especialista em segurança pública e consultor do Espaço Democrático na reunião semanal da fundação de estudos e formação política do PSD, nesta terça-feira (7). “Hoje, são contabilizadas 72 organizações criminosas agindo em território brasileiro, mas certamente há muito mais que isto”, disse ele.
Não é uma deficiência exclusiva do Brasil. Segundo Kahn, a maior parte dos países tem muita dificuldade em mensurar o tamanho do crime organizado em seus territórios. Aqui, talvez a dificuldade seja ainda maior em razão da baixa qualidade da informação para a elaboração de indicadores. Não existe um modelo único de inserção de dados pelos Estados, cada um faz do seu jeito.
Outra dificuldade se deve à forma de definir o que é crime organizado, que segundo Kahn é mais um modus operandi que uma lista pré-definida de tipos crimes. No Brasil, destacou ele, a definição formal de crime organizado se deu apenas em 2013, por meio da Lei 12.850, que considera organização criminosa “a associação de quatro ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a quatro anos ou que sejam de caráter transnacional”. Na opinião do sociólogo, trata-se de uma definição muito ampla, envolvendo crimes com penas superiores a quatro anos e não exclusivamente voltados para obtenção de vantagens financeiras. Kahn citou as formas usadas para classificar os crimes como de autoria de organizações criminosas. Mas lembrou que são formas diferentes de mensurar, que não produzem um indicador amplo.
Como o crime organizado é hoje um dos problemas mais sérios de segurança pública no Brasil, ele defende que é necessário um esforço institucional amplo para criar um sistema de indicadores que consiga medir o fenômeno. Com informação de qualidade será possível criar indicadores e definir políticas públicas que permitam enfrentar a questão.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, além do sociólogo Tulio Kahn, o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, a secretária nacional do PSD Mulher, Ivani Boscolo, os economistas Roberto Macedo e Luiz Alberto Machado, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o gestor público Januario Montone e os jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da fundação.

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Não mexam no dinheiro do SUS

O especialista em saúde pública Januario Montone critica a ideia de acabar com a vinculação de recursos para a saúde. E cita o presidente Lula: “Recurso para a saúde é investimento”

Januario Montone, gestor de saúde pública e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum Os sinais já são muito claros: o governo quer mexer no dinheiro da Saúde. E, incrivelmente, não é no sentido de reduzir a histórica insuficiência de recursos financeiros do SUS desde sua criação, mas para aumentar o desfinanciamento. Os arautos dos Ministérios da Fazenda e Planejamento partem de uma reclamação mais do que correta para uma solução absurda, para dizer o mínimo. Reclamam, com toda razão, que a maior parte do orçamento da União está comprometido com despesas obrigatórias e vinculadas – entre elas as Emendas Parlamentares – e que sobra pouca margem de manobra para os investimentos necessários. A solução mágica? Acabar com a vinculação de recursos para educação (18%) e saúde (15%), é óbvio. A vinculação de recursos para educação começou em 1934 e ainda não temos escolas de 1º e 2º graus em tempo integral, mas não vou entrar nessa seara. A vinculação da saúde foi aprovada no ano 2000 (Emenda Constitucional 29), obrigando a União, os Estados e os municípios a aplicarem um percentual mínimo de suas receitas na saúde. Respectivamente, 15%, 12% e 15%. Foi implantada de forma progressiva, com Estados e municípios ampliando seus gastos enquanto a União reduzia sua participação É claro que devemos discutir quais os resultados disso, claro que devíamos estar discutindo uma mudança drástica no modelo de gestão do sistema público, mas o quadro de insuficiência de recursos é mais do que evidente e é aí que o governo se concentra, mas não para resolver e sim para agravar o quadro. O Brasil gastou, em 2023, 9,7% do seu PIB na área da saúde, percentual equivalente à média da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países desenvolvidos. Porém, apesar de termos o SUS, os gastos públicos – somados a União, os Estados (+DF) e os municípios – atingiram 4% do PIB enquanto os gastos privados, das famílias e empresas, chegaram a 5,7% do PIB. Na média da OCDE os gastos públicos foram de 7,4% do PIB e os gastos privados 2,3%. Teríamos que dobrar nossos gastos públicos em saúde para atingir esse patamar. Mesmo na vizinha Colômbia, dos 9,1% do PIB gastos em saúde, 7,1% foram feitos pelo governo e 2% pelas famílias. Nem vou falar do Reino Unido, que gasta 12,4% do PIB em saúde e 10,3% são gastos públicos. Se olharmos apenas para nosso umbigo, temos 25% da população com dupla cobertura em saúde: tem a cobertura do seguro público (SUS) e de planos de saúde privados. Pois bem, o Setor de Saúde Suplementar teve, em 2023, uma receita de R$ 298,05 bilhões de reais, ou seja, um per capita de R$ 488,13 reais por mês para atender seus 50 milhões de usuários. No mesmo ano o SUS pode contar com um orçamento de R$ 468,87 bilhões, ou R$ 192,41/per capita/mês para atender todos os 203 milhões de brasileiros, aí incluídos os 50 milhões que têm planos de saúde. Apenas 41,4% dos recursos do SUS vieram da União. Os municípios entraram com 32,8%. O Ministério da Saúde vem de um período de completa desestruturação, agravado pelos efeitos da pandemia da Covid-19, e a falta de recursos estruturantes impediu o êxito até de programas excelentes como o Previne Brasil, que colocou a Atenção Primária à Saúde em primeiro plano e com foco nos resultados para a saúde e não nos processos burocráticos. Não atingiu seus resultados exatamente por falta de recursos. Tinha que ser um incremento de recursos com base em resultados e funcionou mais como um redutor de gastos, e mesmo assim deixa uma herança desse olhar para o resultado em saúde; que espero não seja abandonado na nova política anunciada para a APS. As Emendas Parlamentares representam parcela importante do orçamento do Ministério da Saúde e hoje estão fora do alcance de suas políticas públicas, distribuídas a critérios dos seus padrinhos, num Parlamento que tem muito poder e nenhuma responsabilidade quanto aos resultados. A agenda da Saúde, pública e privada, necessita de liderança estratégica do Governo e em especial do Ministério da Saúde para encarar suas disfuncionalidades. Tudo que não precisávamos era perder tempo tendo que resistir a mais um ataque às combalidas trincheiras dos recursos do SUS. O Presidente da República gosta de dizer em diversos dos seus discursos que os recursos para educação e saúde não são gastos, são investimentos. Talvez ele devesse explicar isso aos seus ministros da área econômica.     Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Qual a chance de dar certo?

O cientista político Rubens Figueiredo expressa sua preocupação com os desencontros entre o governo, Legislativo, Judiciário e setores da sociedade

Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição: Scriptum

O governo acaba de adiar o ajuste fiscal que havia planejado e, de quebra, propôs um reajuste de salário mínimo da ordem de 6,37% em 2025, quase o dobro da inflação projetada para 2024, de 3,25% pelo INPC. Essa medida deve custar R$ 36 bilhões ao governo em 2025, com impacto significativo nas despesas da Previdência.

A sociedade assiste o espetáculo de MMA que acontece na Petrobrás. Distribui os R$ 44 bilhões de dividendos ou não? Integrantes do Conselho de Administração da Companhia falam abertamente do processo de fritura do presidente Jean Paul Prates vem sofrendo. Nessa brincadeira, a Petrobrás perdeu cerca de R$ 30 bilhões do seu valor de mercado.

Segue o processo de “deslavajatização”, que consiste em convencer a opinião pública de que não houve aquilo que ocorreu. Ou, em outras palavras, que as estripulias jurídicas do pessoal de Curitiba deveria ter o condão de anular os fatos. Nesse sentido, o monumental e documentadíssimo (640 páginas) livro “A Organização – a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo”, de Malu Gaspar, seria transferido para as prateleiras de obras de ficção.

O cerco se fecha para Sérgio Moro, que ganhou o primeiro round no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná, mas terá que enfrentar juízes mais hostis no Tribunal Superior Eleitoral. A juíza Gabriela Hardt, que substituiu Moro na Vara de Curitiba, foi afastada de suas funções (e depois reconduzida). As acusações contra a juíza são muito graves, entre elas a tentativa de direcionamento e controle de valores oriundos de acordos de colaboração e leniência.

É de se registrar, ainda, a iniciativa do presidente Lula de baixar artificialmente as contas de luz, algo que foi um desastre na gestão Dilma. E o que dizer do bate-boca entre o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, e o ministro Alexandre Padilha? Lula entra em cena preocupado com as relações institucionais Executivo-Legislativo e, em tom de galhofa, evoca a “teimosia” para justificar o apoio ao ministro.

No Supremo Tribunal Federal, os ministros não se entendem e parecem trabalhar medindo forças. Consta que existe uma indisposição entre o presidente do Tribunal, Luís Roberto Barroso, e os midiáticos Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Essas passagens não são questiúnculas. Referem-se a uma visão intervencionista do papel do Estado, descuido com o aspecto fiscal e fricção entre os poderes. Não é um quadro muito alvissareiro...

 
Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Efeitos no Brasil do cenário financeiro nos EUA

O economista Roberto Macedo escreve sobre a complexidade da situação econômica em todo o mundo e seus impactos nos juros e na taxa de câmbio

Roberto Macedo, economista e consultor da Fundação Espaço Democrático Edição: Scriptum   Destaco os efeitos aqui sobre as taxas de juros e a taxa de câmbio e há relações entre essas duas taxas. Escrevo no dia posterior (13/4) àquele em que recentemente a taxa de câmbio chegou a R$5,12 por dólar. Para não ir muito longe no passado, desde o início o início de novembro de 2023, quando chegou a R$5,00 ano, a taxa de câmbio ficou gravitando um pouco abaixo desse valor, mas em março deste ano voltou a R$5,00 por duas vezes e no dia 1º de abril ultrapassou esse valor e passou a R$5,12 no dia 12. Os Estados Unidos são o país do dólar e têm um enorme mercado financeiro que atrai investidores locais e estrangeiros. E lá está se passando o seguinte: a economia e a inflação vem mostrando resistência à política monetária do seu banco central, conhecido como Fed, e ele indicou que assim não pretende voltar a baixar juros conforme o mercado financeiro esperava. Com isso, passou a atrair mais investidores brasileiros e estrangeiros que estavam aqui, pressionando a demanda local de dólares e elevando a sua cotação. O nosso banco central chegou a intervir recentemente no mercado de câmbio para contê-la. Há também tensões internacionais como a de uma eventual agressão do Irã e Israel, o que poderia levar a um envolvimento maior dos EUA no Oriente Médio, e gerar incertezas nos mercados e aumento da demanda de dólares. Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo no mesmo dia 12/4 tratou do assunto e referiu-se ao movimento de investidores para os EUA como “fuga para qualidade”, no qual pesam fatores internos àquele país, como a ação do Fed citada, mas também o que se passa com os investidores externos. No Brasil também aumentou recentemente a desconfiança quanto à sustentação do arcabouço fiscal do governo, em face do risco de que ele aumente a dívida pública, além de questões envolvendo a Petrobrás e outras. A Bolsa de Valores brasileira também vem decepcionando investidores e provocando saídas de recursos de estrangeiros e nacionais, o que também pressiona para cima a cotação do dólar. Ou seja, há aqui o efeito do que se passa nos EUA quanto às perspectivas das taxas de juros locais, mas há também o papel de fatores como a citada e eventual ação do Irã contra Israel e questões internas, como as ameaças ao arcabouço fiscal. Quando comecei a estudar economia no início dos anos 1960 o mercado financeiro internacional era pouco desenvolvido, mas com o avanço dele, muito facilitado pelo forte avanço dos meios de comunicação, as interrelações entre países, em particular dos EUA e seu dólar com o resto do mundo, se tornaram uma questão que tem efeitos internacionais. Com isso a gestão da política monetária aqui se tornou mais complexa, pois é preciso que fique também fique atenta em particular ao que se passa nos EUA e no cenário internacional em geral. Os jornais e a imprensa em geral passaram a publicar muitas matérias sobre o que lá se passa lá fora nessa área. O leitor interessado pode buscar esclarecimentos nelas, seja para se informar e/ou atuar como investidor.     Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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