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Os muitos problemas econômico-sociais do Brasil

Para Samuel Hanan, precisamos mudar para obter mais eficiência, com menos discursos e mais ações concretas

Samuel Hanan, ex-vice-governador do Amazonas, engenheiro especializado em economia e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scripum

 

A comunicação de massa tem ganho cada vez mais importância na sociedade digital e no Brasil não seria diferente. No entanto, em nossos dias, é preciso muito mais atenção no conteúdo divulgado por todas mídias, sejam elas da imprensa tradicional ou das redes sociais. O ex-presidente da Câmara dos Deputados e ministro da Indústria e Comércio, Ulisses Guimarães, dizia que “a verdade não tem proprietário exclusivo e infalível”. Foi ele quem também alertou os cidadãos brasileiros para uma máxima perversa: “na política, o que importa é a versão, não o fato”.

Há muito tempo a informação e desinformação têm se confrontado em batalhas homéricas pela história, basta lembrar o aforismo do ministro da propaganda do hitlerismo, Joseph Goebbels, que declarou: ‘’uma mentira, contada mil vezes, torna-se uma verdade’’. Em consequência disso não acredite devotadamente em matérias que circulam sobre redução da pobreza e da extrema pobreza. A verdade é que o Brasil, oitava economia do mundo, continua com 33% da população vivendo abaixo da linha de pobreza, ou seja, vivendo com menos de R$ 665,00/mês (pobreza - 27,7%) e R$ 209,00/mês na extrema pobreza (4,8% da população).

Então, devemos comemorar, o quê? A fome? Se olharmos o desastre comemorado por um grupo, temos, por região, o Nordeste com 47,2% da população, vivendo na pobreza e 9,1% na extrema pobreza; e o Norte apresenta 38,5% na pobreza e 6% na extrema pobreza. Pergunto: é possível comemorar?

O pior desse quadro é que a pobreza corresponde a um terço da população brasileira sustentada não pela atividade econômica, mas pelas esmolas temporárias do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que o governo está estudando limitar reajustes e restringir o acesso. Para complementar esse panorama desalentador, 21,2% dos jovens entre 15 anos e 29 anos nem estudam, nem trabalham. A geração ficou reconhecida jocosamente por aqui como ‘nem-nem’.

Na educação, não há ainda razão para ter muito otimismo, mesmo que a toda hora seja repetida aquela frase entre os políticos: “sem educação, não há salvação”. Fica a dúvida, então, por que nos últimos 20 anos a salvação ainda não veio? Uma matéria publicada há alguns dias em um grande diário revelou a avaliação de desempenho em Matemática no 4º ano do ensino fundamental. O Brasil aparece na desonrosa 55ª posição, suas crianças não dominam sequer a aritmética, ou seja, divisão e multiplicação.

Informações apropriadas também existem. Diversos estudos recentes indicam que a instabilidade política e os desencontros dos pronunciamentos da cúpula do governo brasileiro, em especial sobre austeridade fiscal e iniciativas constantes no aumento sobre tributação na venda, renda e capital, têm desestimulado investidores e reduzido os valores dos ativos no mercado de capital brasileiro. Há grandes diferenças no retorno do capital investido, além do que, os gastos continuam numa situação irresponsável, porque o governo federal não entende que é preciso cortar custos/gastos.

Esses mesmos estudos expõem ainda que a verdade dos números atesta que não se pode postergar mais os cortes substanciais nas despesas públicas, que contemplam preocupantes privilégios, corrupção e impunidade. A taxa cambial comprova também que o governo deveria acabar com discursos desencontrados porque a variação cambial neste ano já chegou em 17%, diante de uma inflação de 4,75%.

Tudo sugere que as ações desencontradas do governo estão destruindo o mercado de capitais no Brasil com seu comportamento. Tem desvalorizado os ativos das nossas empresas precificadas a valores baixíssimos. A rentabilidade no Ibovespa no ano é negativa (-6,34%), enquanto as bolsas norte-americanas vêm apresentando resultados maravilhosos (19,16% Dow Jones; 26,48% S&P; e 26,25% Nasdaq). No acumulado dos últimos quatro anos e 11 meses, a média Ibovespa foi de 1,71% ao ano, para um IPCA médio de 6,03% e uma desvalorização cambial média de 9,62%.

Com desvalorização cambial igual a 59% acima da variação do IPCA, os insumos importados e as importações de máquinas e equipamentos vão travar a modernização das indústrias e em consequência a já combalida produtividade de nossa indústria. Diante desses números estarrecedores existe ainda muita gente, com competência e não analfabeta, aplaudindo e dando respaldo ao atual governo. É desanimador, mas à frente a conta inevitavelmente chegará a todos nós.

Não sou um pessimista, porém identifico o mal que há no ufanismo e nas narrativas da atual gestão. O que então fazer? Aguardar, democraticamente, as próximas eleições gerais. Precisamos contrariar desta forma Goebbels e adotar a verdade para que a geração atual de líderes deixe um legado melhor paras nossas crianças e jovens. O importante é que nos afastemos dessa imobilidade, morosidade ou letargia e avancemos verdadeiramente num ciclo virtuoso real e concreto.

Definitivamente precisamos mudar para obter mais eficiência, com menos discursos e mais ações concretas a fim de que as tarefas sejam concretamente executadas, com o mínimo de erros, e alcançar mais produtividade e melhor rentabilização de recursos. Portanto, entre Goebbels e Albert Einstein, fico com Einstein, quando ‘sentenciou’: ‘’Estupidez é fazer a mesma coisa sempre e esperar resultados diferentes”.

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Proposta para a COP30: um mercado comum de crédito de carbono

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  Redação Scriptum   A COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que o Brasil sediará em novembro próximo, em Belém, pode ser uma oportunidade única para tornar o País protagonista mundial no enfrentamento ao aquecimento global. “Ali podemos começar a costurar um mercado comum de crédito de carbono, que hoje não existe”, acredita o ex-CEO do Itaú-Unibanco, Candido Bracher, que deixou o sistema financeiro em 2021 e hoje é um estudioso da causa da emergência climática. Ele e sua esposa, a ambientalista Teresa Bracher, atuam há 20 anos na preservação do Pantanal – são proprietários de fazendas que fazem parte da Rede de Proteção da Serra do Amolar e também da Aliança 5P, grupo que tenta garantir a conservação do bioma Pantanal, adquirindo propriedades na região para formar grandes corredores ecológicos e manter o bioma como o mais preservado do País. Em entrevista ao programa Diálogos no Espaço Democrático, produzido pela TV da fundação de estudos e formação política do PSD e disponível em seu canal de YouTube, Bracher apontou que a criação do mercado de carbono é o melhor instrumento para combater aquele que será o maior problema da Humanidade nas próximas décadas. “Precisamos enfrentar o desafio de reduzir as emissões de carbono a zero para que a temperatura média não aumente, tornando a vida ao menos tolerável, especialmente em regiões tropicais como a nossa”, disse. “A solução é fácil, colocar um preço para as emissões de carbono”. A emergência é justificável. O Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) – agência europeia do clima – acaba de anunciar que 2024 foi o ano mais quente da história. O aumento da temperatura média do planeta superou a marca de 2023 e ultrapassou o limite de aquecimento de longo prazo de 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais (anteriores à Revolução Industrial), estabelecido pelo Acordo de Paris, de 2015. O impacto disso pôde ser notado nas várias tragédias registradas ao longo do ano em todo o mundo. No Brasil, a Amazônia e o Pantanal registraram grandes períodos sem chuva; na África, o deserto do Saara inundou; na Europa, cidades da Espanha ficaram embaixo das águas das chuvas; na América do Norte, incêndios florestais dizimaram florestas no Canadá, por exemplo, e agora chegam a áreas urbanas dos Estados Unidos – em Los Angeles, na Califórnia, mais de duas mil casas foram incendiadas. Entrevistado pelo ambientalista Eduardo Jorge e pelos jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino – âncora do programa de entrevistas –, Bracher define o aquecimento global como um dos poucos temas sobre os quais há consenso. “Todos concordam com a existência, as causas e a solução”, aponta. “Apesar disto, o progresso na direção da solução é lento, quase inexistente, tanto que as emissões continuam aumentando”. Para ele, é uma questão que se insere no conceito conhecido como a tragédia dos bens comuns. “Quando há acesso ilimitado a um recurso limitado, e este acesso não é regulamentado, controlado por regras ou preços, este bem é sobre-utilizado e degenerado”, diz. “É o que ocorre com a atmosfera: qualquer um sempre pôde emitir esses gases sem restrição, sem pagar nada por isto”. Bracher defende que uma ferramenta já utilizada pelos países da União Europeia possa ser utilizada para o primeiro passo da criação de um mercado comum de carbono: o CBAM (Carbon Border Adjustment Mechanism, ou Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono, em tradução livre), taxação aduaneira de carbono para produtos importados pela UE. “Uma empresa que produz aço na Bélgica, por exemplo, paga um imposto pelas emissões de carbono, mas uma siderúrgica chinesa exporta para a Europa sem pagar isso, uma concorrência desleal”, diz. “A Europa inventou um imposto que é cobrado na fronteira, de todos os produtos importados para o continente, que é pelo carbono contido na produção, como se esses produtos tivessem sido produzidos na Europa, sujeitos a regras europeias”. Ele defende que este modelo seja usado por Brasil, União Europeia, Austrália e Japão para constituir este mercado de carbono. “Vamos adotar regras, construir isto diplomaticamente e em torno deste novo grupo criar a barreira e cobrar pelos produtos de fora; quando exportarem para este mercado comum de carbono, Índia e Estados Unidos terão de pagar esta taxa”. Bracher entende que como as consequências do aquecimento vão se agravar, haverá mecanismos de compensação que vão estimular a adesão de outros países a este mercado. “A minha ideia é que em Belém possamos constituir o núcleo duro deste grupo, que possamos começar a definir um preço global para o carbono e induzir outros países a aderirem, apesar de Estados Unidos e China empacarem o processo”.

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