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Indicadores não confirmam percepção de insegurança da população paulista
Sociólogo Tulio Kahn, especialista em segurança pública, analisa os indicadores de 2024
[caption id="attachment_39388" align="aligncenter" width="560"] Tulio Kahn acredita que a dinâmica da criminalidade é impactada mais pelo contexto social, econômico e demográfico que por políticas de segurança[/caption]
Redação Scriptum
Pesquisa recente da Rede Nossa São Paulo – organização da sociedade civil que atua em projetos de apoio à gestão pública – revela que 74% dos entrevistados apontam a segurança como o maior problema da capital paulista, à frente da saúde (36% das menções), transporte coletivo (15%) e habitação e educação (ambas com 12%). A percepção de insegurança das pessoas, porém, não é compatível com os índices de criminalidade registrados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo nos dados fechados do ano passado, que mostram a melhoria de vários indicadores.
Na reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD – desta terça-feira (11), o sociólogo Tulio Kahn, especialista em segurança pública, analisou os dados disponíveis para tentar entender o fenômeno. “Há várias questões em aberto: o que explica o resultado quando alguns dos principais indicadores de criminalidade estão em queda na Capital e no Estado?”, questiona. O resultado da pesquisa da Nossa São Paulo é confirmado por outra sondagem, de setembro de 2024, do Datafolha: após 11 anos, a violência voltou a ser apontada pelo paulistano como o problema mais grave da cidade (22%), superando a saúde pública (16%).
Para Kahn, a percepção de insegurança das pessoas pode ser explicada por algumas razões. Por exemplo, a violência policial, que ganhou muita visibilidade no Estado a partir de denúncias de pessoas que testemunharam a ação da Polícia Militar. “Mas precisamos lembrar que uma pesquisa da Genial-Quaest apontou que mais da metade da população aprova a política linha dura estabelecida nos dois primeiros anos de gestão”, afirma Kahn. Além disto, há aspectos como o crescimento dos estelionatos e fraudes por meio digital, a desordem urbana na cidade – grande número de moradores de rua e pichações, por exemplo – e até mesmo ações espetaculares do crime organizado, como o assassinato do delator do PCC Antônio Vinicius Gritzbach, à luz do dia e em um lugar de muito movimento, como o Aeroporto de Guarulhos, episódio que ganhou amplo destaque na mídia.
Kahn acredita que a dinâmica da criminalidade é impactada mais pelo contexto social, econômico e demográfico que por políticas de segurança, exceção feita aos indicadores de letalidade policial e revistas feitas pela polícia, mas considera que embora boa parte das tendências observadas em São Paulo estejam em linha com as registradas nacionalmente, o Estado tem colhido resultados superiores com algumas iniciativas.
A principal dessas iniciativas é o Muralha Paulista, que já integra por câmeras 641 dos 645 municípios paulistas. “São mais de 7,4 mil câmeras ativas e o bom desempenho na diminuição de roubos e furtos de veículos, além da recuperação deles, provavelmente é resultado deste programa”, lembra o sociólogo. Outro indicador positivo em relação ao restante do País, destacou ele, refere-se à apreensão de armas: “Enquanto no Brasil a apreensão caiu, no Estado de São Paulo subiu quase 25%”.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, o advogado Roberto Ordine, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, os gestores públicos Januario Montone e Mário Pardini, o médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge e os jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino.
Card link Another linkUm Trump não nasce no vácuo
Para o cientista político Rubens Figueiredo, é muita presunção dizer que aquilo que os americanos querem para si é errado
Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum A imagem que o mundo tem dos Estados Unidos foi construída majoritariamente pelo pensamento da esquerda, que se autodenomina progressista e apresenta uma hegemonia bastante confortável nas universidades e meios de comunicação tradicionais continentes afora. O pior tipo de raiva é aquele que vem associado à inveja. É dessa combinação de que estamos falando – nutrimos pelos EUA uma mistura corrosiva desses dois sentimentos. Do ponto de vista objetivo, os Estados Unidos são a maior economia do planeta; a democracia, com seu federalismo que assombrou Alexis de Tocqueville, é exuberante; têm uma produção científico-acadêmico-cultural e um desempenho esportivo incomparáveis; são referência em tecnologia, o que significa dizer, entre outras coisas, daquilo que eu gosto ou me excita; e a qualidade de vida de seus habitantes é assombrosa. Nos filmes e seriados, os americanos, mais organizados, bonitos, treinados, corajosos, leais e honrados, ganham causas nobres quase sempre. Garotos do frio da Sibéria, da esperança do peixe do Pantanal ou da fuga do predador da África imaginam a fantasia da Disney nos seus momentos mais difíceis. Mas os Estados Unidos não merecem uma piscadela de admiração do ponto de vista da sociedade que forjaram. Embora um morador de rua de Nova York viva melhor do que um cidadão de classe média da África subsaariana, nossos irmãos do Norte são – ou pior, simbolizam – o berço da desigualdade, com seu liberalismo excludente, falta de consciência de classe e conglomerados de riqueza que agridem as massas depauperadas. O sucesso incomoda: Beverly Hills é a ofensa pessoal da qual falava Tom Jobim. O capitalismo que inventaram gera riqueza para valer, mas é pobre de espírito, egoísta, não presta. Da mesma maneira que não gostamos deles, eles não gostam da gente. A diferença é que acalentamos o american dream e queremos ir para lá, viver lá, enquanto para eles continuamos sendo uma curiosidade antropológica da qual é prudente manter razoável distância. Na sua inserção internacional, então, são uma espécie de emissários de Lúcifer, só fazem o mal. Imperialistas e exploradores, os americanos sugam a riqueza do mundo e impõem seu comportamento e gostos às nações genuínas, que, indefesas, vão perdendo sua identidade. Sua ação militar, exercida em nome da democracia, usa uma força desproporcional, é considerada golpista e contrária à soberania dos povos, quando não covarde. Vejam as “revoluções” na América Latina (Brasil inclusive), Baía dos Porcos, Oriente Médio... Eles vêm com bombas pelos ares, filmes pelos sofás e McDonald’s aparelhos digestivos adentro. Intervencionistas, são abomináveis. E, com a ameaça isolacionista de Donald Trump, inconsequentes. Lideranças não surgem na ausência de gravidade onírica, sem correntes de opinião a legitimá-las. Nunca, na história humana, tantos falaram tanta baboseira para tanta gente. E a sociedade americana é uma das mais plurais do mundo, provavelmente a mais. Não é o algoritmo que escolhe o que você “deve” assistir, estúpido. É você quem direciona o algoritmo para aquilo que prende sua atenção. Se Trump ganhou a eleição, é porque expressou e atraiu um conjunto de ideias (mimetizado no seu modo histriônico de ser) que representa o desejo profundo dos americanos. Se erro existe, é da opinião pública. É muita presunção dizer que aquilo que os americanos querem para si é errado. Dá trabalho, reconheço. Mas sugiro uma leitura atenta ao alentado relatório Ipsos Populism Survey: Populism, Anti-Elitism and Nativism (pesquisa realizada em 28 países, datada de fevereiro de 2024). Algo em torno de 70% dos entrevistados acham que seus países estão em declínio. Mais do que 70%, que precisam de líderes fortes. E 60% entendem que esses líderes fortes devem cogitar a possibilidade de quebrar regras. Com um contingente dessa magnitude pensando assim, não surgirão novos Cristos, Gandhis ou Mandelas tão cedo. O mais intrigante é o fato de que Trump não é, digamos, um americano quatrocentão, típico, da gema. Não é um Wasp – white, anglo-saxão e protestante. Ele descende de alemães imigrados para os EUA em 1895 e Melania Trump, sua mulher, é eslovena. O braço direito de Trump é o ministro Marco Rubio, filho de cubanos refugiados na Flórida. Gente de fora, que entendeu o que são os Estados Unidos por dentro e que acha que o país não é lugar para quem é de fora. Publicado originalmente na edição de 3 de fevereiro de 2025 de |O Estado de S.Paulo. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
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Sociólogo Tulio Kahn, especialista em segurança pública, fala sobre a mais recente pesquisa da Nossa São Paulo