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Taxonomy - Manchete secundária
Desextinção: empresa promete recriar o mamute, abrindo discussões éticas e ambientais
Cientistas alertam para riscos de desequilíbrios e apontam que a iniciativa é mais de demonstração de poderio tecnológico que de conservação
[caption id="attachment_38858" align="aligncenter" width="560"] Especialistas acreditam que a primeira criatura que poderá emergir de um projeto do gênero não será exatamente um mamute.[/caption]
Texto Estação do Autor com O Globo
Edição Scriptum
Mamutes poderão caminhar novamente pela Terra depois de dez mil anos. Segundo a revista Cell, a mais prestigiosa da área de biologia, cientistas fizeram em julho a reconstrução de cromossomos de um mamute morto na Sibéria há 52 mil anos. E uma empresa americana de biotecnologia, a Colossal Biosciences, promete que os primeiros filhotes do animal extinto voltarão ao mundo em 2028.
O avanço da genômica pretende ressuscitar espécies mortas e trazer de volta animais extintos ou produzir criaturas parecidas com eles. Reportagem de Ana Lucia Azevedo para O Globo (assinantes) relata as discussões éticas e ambientais a partir da desextinção. Um dos questionamentos é se os mesmos métodos poderiam ser usados em humanos. Por outro lado, o mundo em que essas criaturas viviam também já não existe mais. São muitos os cientistas que alertam para riscos de desequilíbrios e que a desextinção é mais uma demonstração de poderio tecnológico do que uma iniciativa de conservação.
Especialistas acreditam que a primeira criatura que poderá emergir de um projeto do gênero não será exatamente um mamute. Será um híbrido, com muito de elefante e pouco de mamute, criado a partir da combinação de técnicas de biologia sintética, bioinformática e clonagem. Em seres humanos, o mais perto que se chegou foi sequenciar o genoma de hominídeos extintos. O primeiro foi do Homem de Neandertal, em 2010, sequenciado por uma equipe liderada pelo sueco ganhador do Prêmio Nobel de Medicina Svante Paabo. O mesmo Paabo sequenciou depois, em 2019, o genoma do Denisovan, outro humano extinto, que habitou a Ásia, entre 30 mil e 50 mil anos atrás.
Mamute-lanudo, dodo e o tigre-da-Tasmânia são outras espécies extintas que a Colossal Biosciences está tentando recriar usando técnicas de edição genética. O projeto para a recriação do mamute passa por inserir genes no genoma de elefantes asiáticos, porém, o código genético completo desse animal ainda é pouco compreendido. Outras espécies, como o dodo e o tilacino, podem ser recriadas primeiro, já que suas amostras genéticas têm melhores condições. O DNA degradado é um grande obstáculo na recriação de espécies extintas.
Entre avanços e desafios, os cientistas, em sua maioria, concordam que muito melhor do que trazer de volta espécies perdidas é não deixar que as atuais se extingam.
Brasileira recebe prêmio global da ONU de assistência a refugiados
Freira e advogada, Rosita Milesi ajuda refugiados e imigrantes a ter acesso à documentação legal, alimentação, assistência médica e acesso ao mercado de trabalho no Brasil
[caption id="attachment_38854" align="aligncenter" width="1170"] A Irmã Rosita Milesi ajuda milhares de refugiados e imigrantes a ter acesso à documentação legal, abrigo, alimentação, assistência médica, treinamento de idiomas e acesso ao mercado de trabalho no Brasil.[/caption]
Texto Estação do Autor com ONU News
Edição Scriptum
Os quase 40 anos defendendo os direitos e a dignidade de pessoas em movimento renderam à brasileira Rosita Milesi o “Prêmio Nansen para Refugiados”, concedido pela Agência da ONU para Refugiados, Acnur. Ao lado dela, outras quatro mulheres foram premiadas por atuações que envolvem acesso à educação, independência financeira, saúde mental, ajuda humanitária e cidadania.
Reportagem de Marina Calderon para a ONU News mostra a trajetória da Irmã Rosita Milesi, freira, advogada, assistente social e ativista que tem seu trabalho reconhecido pela ONU por ajudar milhares de refugiados e imigrantes a ter acesso à documentação legal, abrigo, alimentação, assistência médica, treinamento de idiomas e acesso ao mercado de trabalho no Brasil.
Como advogada, Rosita também tem sido fundamental na formulação de políticas públicas. Seu trabalho na lei de refugiados do Brasil, de 1997, por exemplo, ajudou a ampliar os direitos deste grupo. A medida garantiu um marco legal com mais proteção, inclusão e capacitação para as pessoas forçadas a fugir, em linha com os padrões internacionais definidos na Declaração de Refugiados de Cartagena, de 1984.
"Com muita frequência as mulheres enfrentam riscos elevados de discriminação e violência, especialmente quando forçadas a fugir", diz o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. Ele ressalta que as cinco vencedoras mostram como as mulheres estão “desempenhando um papel crítico na resposta humanitária e na busca de soluções”. Grandi elogiou a dedicação delas em impulsionar a ação em suas próprias comunidades, construindo apoio de base e até mesmo “moldando políticas nacionais”.
Além de Rosita Milesi, foram premiadas a ativista Maimouna Ba, de Burquina Fasso, Jin Davod, uma empreendedora social síria, Nada Fadol, refugiada sudanesa, e Deepti Gurung, defensora de direitos do Nepal. A cerimônia oficial de entrega do prêmio será realizada em Genebra no dia 14 de outubro.
Eleições e a arte de iludir
O Brasil precisa, acima de tudo, de homens limpos e capazes de dizer a verdade, escreve José Paulo Cavalcanti Filho
José Paulo Cavalcanti Filho, jurista e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras Edição Scriptum Domingo tivemos, no Brasil, eleições para vereadores e prefeitos. Segundo a Frente Nacional de Prefeitos, teríamos 5.565 municípios; ou 5.568, segundo o IBGE, mais 2 “Equivalentes”. E 26 Estados, sem contar o Distrito Federal (único em que não houve eleição). Já em Portugal são 278 Concelhos, no continente; mais os das Regiões Autônomas da Madeira (11) e dos Açores (19). No total, portanto, 308 Concelhos. Agrupados em distritos. Tais Concelhos, ou Municípios, por sua vez, são divididos em 3.091 freguesias locais. Ainda resquícios da Monarquia ‒ quando nascimentos, casamentos e óbitos eram registrados nessas freguesias. Em sua origem, “territórios a cargo de uma paróquia católica”. Fernando Pessoa, por exemplo, tem seus registros de nascimento (em 13/6/1888) na Igreja dos Mártires, e não em nenhum cartório, aqui nomeados “Conservatórias”, que vieram só com a República (em 1910). Quando todo sistema de registros foi mudado para o atual. Nosso apartamento, a propósito, fica na antiga Freguesia de São Mamede, hoje Freguesia de Santo António. Só para lembrar, foi na Igreja de São Mamede que casou por procuração, em segundas núpcias, a mãe de Fernando Pessoa, Maria Magdalena Pinheiro Nogueira, com o capitão João Miguel dos Santos Rosa; que, nomeado cônsul de Portugal em Durban (África do Sul), andava longe. Cada Concelho elege uma Assembleia Municipal formada por Deputados Municipais, assim são nomeados. A eles se juntam presidentes de Juntas de Freguesias escolhidos também pelo voto popular, um a menos. Quando eleitos, por exemplo, 21 Deputados Municipais, a Assembleia Municipal teria 41 membros, sendo os 20 restantes presidentes de Juntas. Cada Concelho tem seu Presidente da Câmara (equivalente a nosso prefeito). Eleito por uma Assembleia que não tem funcionamento permanente e se reúne (em média) apenas 5 vezes ao mês. Esse presidente, no fundo quem manda, para evitar corrupção (o que o Brasil conhece bem) não pode se eternizar no cargo por conta de lei recente que limita essas eleições a três. Razão pela qual alguns até mantêm suas profissões. Como em Viseu, por exemplo, o saudoso amigo António Almeida Henriques, Presidente da Câmara de lá, que trabalhava na Prefeitura de manhã e administrava suas empresas, à tarde. Tudo sob supervisão da Comissão Nacional de Eleições, à semelhança de nosso TSE, rasgando lenda segundo a qual nosso Brasil seria o único país do mundo com uma Justiça Eleitoral. Interessante é que essa legislação eleitoral passou a permitir candidatos não filiados aos partidos políticos convencionais; apenas exigindo que sejam registrados na Comissão de Eleição em Movimentos Independentes, normalmente criados para eleições específicas. Será que algum dia teremos isso no Brasil?, eis a questão. Mas em algo, pelo menos, as eleições se parecem nesses dois países. Na arte de iludir (o eleitor). Volto a citar, perdão amigo leitor, concurso de 1778 que a Academia de Berlim realizou por inspiração de Frederico II da Prússia (1712-1786). Mais conhecido como Frederico O Grande (Friedrich der Grobe), era famoso por suas vitórias militares. Mas, também, pelo patrocínio às artes e ao iluminismo. Esse concurso teve, como tema, “É conveniente enganar o povo?”. Dele se soube, não faz muito tempo, quando o filósofo alemão W. Kraus localizou suas atas. Frederico, no fundo, buscava compreender as relações entre ação política e sociedade de massas. A partir, segundo um dos 42 trabalhos apresentados, "da força plástica da visibilidade do poder sobre o hábito do segredo e da mentira em suas relações com a obediência política". Retraduzindo o tema do concurso, para dar-lhe alguma dignidade, tratava-se da tentativa de estabelecer a real dimensão do espetáculo do poder e as implicações políticas de alguns de seus instrumentos de trabalho: artifício, simulação, sedução, farsa. A Academia, na dúvida sobre as reais intenções de Frederico, prudentemente decidiu premiar teses opostas. Uma, de Frederick de Castillon, entendia ser “útil, para aqueles que têm necessidade de ser queridos, sê-lo por quem os engana, quando para conduzi-los mais facilmente a um fim, e esse fim não seja outro que a verdadeira felicidade”. Outra, de Rudolf Zacharias Becker, em sentido contrário recomendava o compromisso com a verdade em uma dimensão ética. E concluía seu texto dizendo: “Se quereis ser felizes, o façais com a vista posta na eternidade; onde a mente do homem, que nesta vida terrena apenas germina, cresce até converter-se em árvore frutífera”. Esse tema voltou com força nessas eleições brasileiras de agora. Fico apenas com um exemplo. Em debate na televisão, uma jornalista de Curitiba disse que havia fila de 40 mil pacientes para exame de olhos; e perguntou se a candidata a Prefeita, Cristina Graeml, prometia zerar essa fila. Resposta ‒ Não, e quem disser que vai fazer isso estará mentindo. Será que algum dia vamos ver mais candidatos assim, sem a compulsão de enganar o povo? Talvez no futuro, quem sabe?, tudo é possível. Seja como for, por agora, parabéns a todos os eleitos, prefeitos e vereadores. E por favor lembrem que, mais importante que ideologias ou projetos, o Brasil precisa mesmo, sobretudo, de homens públicos limpos. Decentes. E capazes de dizer a verdade. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkBrasil terá nova lei para licença paternidade
Edição da série Cadernos Democráticos traz entrevista com Rodolfo Canônico, da Family Talks
Redação Scriptum
O Brasil pode ter nos próximos meses uma legislação moderna para regular a licença paternidade. O Congresso Nacional está discutindo uma nova lei para disciplinar o benefício – o período de cinco dias concedido atualmente, apenas para trabalhadores contratados pela CLT, foi criado de maneira transitória em 1988, quando a Constituição foi promulgada e definiu que uma lei específica deveria disciplinar o benefício.
“Esta regulação chega com atraso de 35 anos”, aponta Rodolfo Canônico, diretor-executivo e cofundador da Family Talks – organização da sociedade civil – na mais recente edição da série Cadernos Democráticos, produzida pela fundação de estudos e formação política do PSD e já disponível para leitura on-line ou download gratuito. O fascículo traz a íntegra da entrevista dada por ele ao programa Diálogos no Espaço Democrático, que pode ser assistido no canal de YouTube da fundação.
“Há uma janela de oportunidade para o debate da licença paternidade e até a eventual aprovação da regulamentação de um modelo mais atualizado, com um prazo mais generoso, para que os pais possam estar com os seus filhos no nascimento ou adoção de uma criança”, diz Canônico na entrevista. Ele integra o Grupo de Trabalho criado na Câmara dos Deputados – formado por parlamentares, ongs, representantes do empresariado e de órgãos públicos – para debater o tema e elaborar uma proposta para tramitação legislativa.
Na conversa com os jornalistas Sérgio Rondino – âncora do programa Diálogos no Espaço Democrático – e Eduardo Mattos e ao cientista político Rogério Schmitt, ele destacou que os benefícios da ampliação da licença paternidade são muito superiores aos custos para a sociedade – argumento que sempre permeia as discussões. “Na perspectiva da criança, nessa primeiríssima infância, dar mais tempo para a convivência com o pai contribui muito para o desenvolvimento, já há muitos estudos sobre isto”, aponta ele. “E também há muitas evidências sobre o desenvolvimento do próprio pai”.