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Taxonomy - Destaquinho

‘Para todo problema complexo, existe uma solução burra’

O cientista político Rogério Schmitt fala sobre a simplificação do debate público que enxerga apenas direita e esquerda

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The book is on the table

Com as eleições e a política dos Estados Unidos em destaque atualmente, o jurista José Paulo Cavalcanti explica algumas expressões do mundo jurídico norte-americano.

José Paulo Cavalcanti, jurista e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras Edição: Scriptum     Lisboa. Depois de ver nossos jornalistas nas televisões, dando lições sobre as eleições nos Estados Unidos, peço licença para colaborar com suas próximas participações. Indicando algumas expressões americanas que, talvez, não sejam tão fáceis de traduzir. A elas, pois:   ATTORNEY GENERAL. Mais que, como se pode crer a partir de uma tradução literal, um Advogado Geral (o que não faz sentido). Indicado pelo Presidente, e confirmado pelo Senado, esse cargo equivale ao de Ministro de Justiça. E acaba tendo poderes ainda mais amplos que no Brasil, ao englobar alguns atos privativos aqui do Procurador Geral da República e do Advogado Geral da União.   CLEAR AND PRESENT DANGER. Não é só nome de filme (“Perigo Real e Imediato”, com Harrison Ford). Trata-se de teoria da Suprema Corte, de 1919, no case Shenck x United States, estabelecendo alguns limites à liberdade de expressão, mas só quando houver algum perigo iminente ao Estado. Confirmada em seguida pela do Gravity on Evil, em 1924, e neste mesmo ano revogada pela da Free Speach. Teoria hoje dominante na Suprema Corte é a das Umprotect Speech, de 1982, firmada na case Ferber x New York, garantindo uma Liberdade de Expressão ampla. Bem diferente da censura instalada pelo Supremo hoje, no Brasil, apesar da vedação que se dá por regras expressas de nossa Constituição: art 5º IV “É livre a manifestação de pensamento; e IX “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura e licença”. É que nossa Constituição nos dias atuais vale pouco, amigo leitor. Reproduzindo o que ocorreu com a Ditadura de 1964. Pena.   CONSPIRACY. Não é conspiração, como sugere uma tradução literal. Mas, na equivalência com o Código Penal brasileiro, Formação de Quadrilha, quando 2 ou mais pessoas se juntam para praticar algum ato ilegal. A notícia de que Trump acabou acusado pelo governo Biden, neste ano eleitoral de 2024, por ter feito uma conspiração com acusações falsas em relação ao sistema eleitoral americano, também não faz sentido. Mais corretamente, ele faria parte de um grupo (quadrilha) que desejaria intervir nas eleições. Só que não foi preciso; ganhou no Colégio Eleitoral e no voto popular. E, com sua posse, isso tudo com certeza vai ser esquecido.   ELECTORAL VOTES. São os votos dados no Colégio Eleitoral. Votos Eleitorais, poderia ser assim traduzido no Brasil, dados pelos Electors (ver a seguir).   GRAND JURI. Não se trata, como o título sugere, de um júri grande. Grand Juri não julga nada. É, apenas, juízo de admissibilidade. Que decide se alguém deve ser, ou não, processado. Pode demorar, ordinariamente, 12 meses (Grand Juri estadual) ou até 18 meses (federal). Júri mesmo, como conhecemos por aqui, é o Trial Juri. Diferentes, os dois, especialmente para os jurados que no Grand Juri são 23, com direito de ir para casa no fim das sessões (uma ou duas, por mês); enquanto, no Trial Juri, ficam presos num hotel próximo, sem televisões ou celulares, por todo o julgamento.   IMMUNITY GRANT. Não se trata de imunidade nenhuma. É acordo, promovido pelo Ministério Público, segundo o qual um Juiz decide que o cidadão deixa de ser investigado ‒ em troca de delatar terceiros, inclusive pessoas mais importantes, como seu chefe. Foi a inspiração para nossa Colaboração Premiada. Ver, a seguir, diferenças com o Plea Bargain.   JUDGE/JUSTICE. Judges são juízes, como no Brasil. Escolhidos por muitas maneiras, inclusive indicados por partidos políticos e até em eleições populares. Quase sempre com mandatos. Enquanto Justice é cada um dos 9 membros da Supreme Court, presidida por um Chief Justice. Diferente dos Judges, esses tem mandato vitalício. Equivaleria, no Brasil, a ministros do Supremo Tribunal Federal (aqui são 11). Diferente destes, não podem julgar por decisões monocráticas; e, em regra, dão apenas duas declarações ao público durante seus mandatos. Uma, quando assumem o cargo; outra, quando se aposentam (no caso de renúncia ou doença, claro, que mortos não tem tempo de fazer discurso nenhum).   PLEA BARGAIN. É acordo, com Ministério Público e Juiz, para reduzir penas, acelerar processos ou entregar algum outro criminoso ‒ inclusive mais importantes, como seu chefe. Em troca de ser condenado, em casos de multiples offenses, apenas pelo crime com mais leve pena. E deve sempre ocorrer antes do caso seguir para uma corte superior. Diferença do Immunity Grant é que, neste, o cidadão ainda não era réu; enquanto, no Plea Bargain, já o é em muitos processos.   PRESIDENT/ ELECT PRESIDENT. Os Estados Unidos foram o primeiro país do mundo a usar essa expressão, em 1788. Desde a antiguidade, o chefe do governo era tido como um enviado de Deus. Ou deuses, conforme o caso. Presidente, nos seus primórdios, era só pessoa que dirigia uma reunião. Até que veio a Revolução Francesa, o poder passou a ser reconhecido como algo que vem do povo, e a expressão americana ganhou mundo. Como curiosidade, lá, tem até direito a um hino oficial ‒ o Heil to the Chief.   Chama-se Elected President, ao fim da eleição, quem conquistou mais votos no colégio eleitoral. Mesmo não sendo exatamente assim, que sua eleição de verdade se dará só quando tiver os votos efetivamente dados pelos delegados de cada estado, os Electors.   SECRETARY OF STATE. Não é Secretário de Estado, mas Ministro das Relações Exteriores.  Poderoso, é o quarto na linha de sucessão do Presidente.   VOTER/ELECTOR. Voter é quem vota. No Brasil, corresponde a eleitor. Aquele que põe seu voto na urna. Votos auditáveis, claro, como quase TODOS os países do mundo ‒ exceção apenas para Brasil e, na Ásia, Bangladesh e Butão. Aqui, difícil de entender, por decisão do Supremo. É quem sai de casa e escolhe seu candidato. Nos Estados Unidos candidatos, no plural, que há sempre várias eleições em curso. Inclusive plebiscitos. Sem contar que Deputados são eleitos a cada 2 anos (e não 4, como no Brasil). Mais um Senador (mandatos de 6 anos), um deles sendo eleito a cada 2 anos. E Governador, como Presidente, uma eleição sim outra não, a cada 4 anos.   Candidatos garantem os votos de cada estado, independente dos que tiverem efetivamente recebido, mesmo quando a vitória na votação se dê por pequena margem. To call state seria, pois, declarar que o candidato tem todos os votos de um determinado estado.   Voters elegem Electors, que são os membros do colégio eleitoral. Aqueles que, verdadeiramente, escolhem quem vai governar. Cada Estado tem dois (District of Columbia, três), mais um número de eleitores atribuídos pelo Censo Demográfico do país. A eleição para Presidente se faz a partir de 538 delegados. Razão pela qual quem tiver 270 votos (maioria absoluta) desses Electors acaba sendo eleito. E viva a Democracia.   Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.  

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Duas ou três coisas sobre Arthur

José Paulo Cavalcanti Filho escreve sobre Arthur Moreira Lima: ficou só uma ausência que dói, na saudade sem remédio do amigo querido

José Paulo Cavalcanti Filho, jurista, escritor e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum

  1. Começo com Millor Fernandes. Como os jornais falavam mal de PC Farias, caixa 2 de Collor, escreveu na sua coluna do JB (maior jornal daquele tempo), em resumo, “Nem todo PC é ruim. E, aqui, homenageio meus amigos PC. Paulo Caruso, Paulo Casé, (José) Paulo Cavalcanti. Mais Ziraldo. Que não é P, nem é C, mas se publicar nome de amigos, sem falar nele, briga comigo”. Depois a relação azedou, quando Ziraldo recebeu gorda indenização por ter sido preso (todos foram, só ele requereu). Sem papas na língua, Millor disse “Pensei que o que fizemos no Pasquim fosse um ato de resistência política; nada, era só uma aplicação financeira”. Mas essa é outra conversa.
  2. A história que vou contar com o grande pianista Arthur Moreira Lima, que agora nos deixou, começa com dito Ziraldo. Presidente da Funarte, nos tempos de Tancredo/Sarney, e sem nenhum dinheiro no caixa, bom lembrar. Como soube que havia um piano de cauda nos depósitos do Ministério da Justiça, marca Steinway (melhor do mundo), avisou que dia seguinte iria no meu gabinete pedir fosse doado à mesma Funarte.
Como o instrumento teria muito melhor uso na área da cultura, que na das leis, pedi à área técnica do ministério para preparar a doação. Disseram que não podia. Então troquei por comodato (um tipo de empréstimo), sem prazo para devolver. Só que ninguém sabia como fazer isso, para eles era novidade. Então eu mesmo redigi o contrato, assinei e deixei na minha mesa. Dia seguinte, chega Zira com um monte de artistas juntos, os mais famosos do Brasil naquele tempo. Encheu a sala. Entreguei o contrato, assinou, me devolveu uma via e pôs a sua embaixo do braço. Sem ler.  Começou ‒ Vim pedir o piano. ‒ Dou não, como posso justificar isso ao público? ‒ Diga que ele fica melhor na Funarte. ‒ Não é tão simples. ‒ Então diga que é meu amigo. ‒ Agora é que não posso doar mesmo. A graça na história é que o piano já era dele. Então foi saindo da sala, cabeça baixa, sem nem se despedir dos amigos que vieram com ele. Quando ia já passando pela porta, lhe disse ‒ Zira, pelo menos leia o contrato que está no seu braço. Leu, voltou ligeiro e me deu um beijo, Deus do céu. Para fazer graça pus, no tal contrato, cláusula que dizia ‒ “Todas as vezes que for exibido deve ser avisado, ao público, se tratar de um Piano gentilmente cedido pelo Ministério da Justiça”. Um mês depois, teatro Nacional lotado, concerto de Arthur inaugurando o piano. Abre-se a cortina. E aparece em cima dele placa, com aquela letra de Ziraldo e bem grande, “Piano gentilmente cedido pelo Ministério da Justiça”; que arranquei, na hora, e hoje dorme junto de um piano de cauda Yamaha que temos em Gravatá. Pior é que Arthur ainda explicou, ao público, ser uma exigência minha. Só matando. Foi a maior vergonha que passei em Brasília. Culpa dos dois.
  1. Jantar para homenagear Arthur no Ristorante Arlechino, o mais grã-fino do Rio naquele tempo. Só gente importante, na mesa. Todos com terno. Até que chegou Arthur vestido com uma capa. Tirou na hora e, por baixo, estava só com uma camisa do Fluminense. Pode?
  2. Pré-estreia de show seu que, começando no Rio, iria correr o Brasil todo. Escrito por Millor. Arthur abre o piano. Senta no banco. Prepara-se para começar e toca uma nota. Mais nada. Então, vira-se para a plateia e conta essa história
‒ Americano chega em bar, de Copacabana, com um dicionário na mão. Vem o garçom e ele, depois de 10 minutos consultando o tal livrinho, afinal pede ‒ Eu querer uma copa d’água. Com o garçom, no melhor estilo dos malandros cariocas, ‒ Caxambú ou Lindoya? ‒ What? Esse tipo de graça era a cara de Arthur.
  1. Verão, ia sempre a nossa praia na Lagoa Azul. E, lá, formamos uma parceria, o “Duo Lima e Cavalcanti”. Eu na parte esquerda do piano, mais fácil, apenas com os acompanhamentos; e, ele, na mão direita, fazendo malabarismos inacreditáveis. Em Toquinho, nas casas com piano, chegávamos, pedíamos licença ao dono e tocávamos três músicas. Começando sempre com b Para uma pequena multidão que logo se formava. Depois, agradecíamos e seguíamos, na direção de outras casas.
  2. Agora, desfeita a dupla, ficou só uma ausência que dói, na saudade sem remédio do amigo querido. Viva Arthur Moreira Lima. Em nossos corações. Para sempre.
P.S. Eleição nos Estados Unidos. Ao ver os comentaristas de nossas televisões, acompanhando as eleições, lembro da canção de protestos que embalou a Revolução dos Cravos em Portugal, Grândola Vila Morena: ‒ O povo é quem mais ordena. Respeitem o povo, senhores. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Perdas de R$ 4 milhões por hora no varejo brasileiro sinalizam a importância de mudanças

É necessário reverter esse cenário negativo com investimento em melhorias direcionadas à prevenção, escreve Roberto Ordine

Roberto Mateus Ordine, advogado e consultor do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

As perdas no varejo são um fenômeno comum e não é uma exclusividade do segmento. Diversos setores têm essas estatísticas em seus registros e podemos até arriscar que é um fato natural dos negócios. Entretanto, quando os danos apresentam cifras exorbitantes e ameaçadoras, é hora de rever as estratégias e investir em melhorias para reverter o quadro.

Segundo levantamento feito pela Abrappe (Associação Brasileira de Prevenção de Perdas) junto à KPMG, as perdas no varejo brasileiro registram R$ 4 milhões por hora ao longo do ano. Somente em 2023, a cifra atingiu R$ 35 bilhões, seguido de R$ 31,7 bilhões em 2022. Os motivos para esses números alarmantes estão relacionados a danos financeiros, perdas de produtos, operação, entre outros.

Aquela máxima de que estoque é prejuízo se encaixa perfeitamente como um dos fatores contribuintes para tamanhas perdas. Mas não podemos jogar a responsabilidade apenas nele (estoque). Desde a pandemia o mundo se transformou. Todos nós tivemos que voltar para a escola e aprender a lidar com o “novo mundo” repleto de incertezas, inseguranças e uma economia mundial dilacerada. Resultado disso é um pós-pandemia ainda em processo de reestruturação.

As relações comerciais sofreram mudanças e foi necessário adaptar-se a esse cenário, em que durante a pandemia cresceram exponencialmente as operações de e-commerce, impactando assim os negócios físicos como a redução do número de colaboradores, falhas nas operações, furtos e uma gestão nada preparada para o quadro da época.

Os pilares de uma boa gestão consistem em identificar os problemas de forma rápida e eficaz, definir metas e objetivos, ter previsibilidade, informações claras visando a redução de prejuízos.

A solução é mapear o cenário e identificar em quais etapas estão acontecendo esses prejuízos. Sabemos que isso demanda tempo e investimento, mas é fundamental para traçar um plano de negócios de reestruturação. Ainda de acordo com a Abrappe, esses danos correspondem a dois grupos: as quebras operacionais que incluem perdas financeiras, administrativas e produtividade e as chamadas perdas invisíveis, que competem aos erros de estoque, furtos não identificados e até mesmo registros de valores errados. Otimizar essa cadeia é fundamental.

Percentual de perdas por segmento

  • Lojas de conveniência: 3,86%
  • Mercado de vizinhança 3,31%
  • Supermercado 2,50%
  • Perfumarias 2,33%
  • Hipermercado 2,03%
  • Moda 1,87%
  • Construção/lar 1,41%
  • Magazine regional 1,36%
  • Magazine nacional 1,30%
  • Atacado/atacarejos 1,25%
  • Artigos esportivos 0,96%
  • Calçados 0,90%
  • Drogarias 0,90%
  • Eletromóveis/informática 0,17%

A proposta para reverter esse cenário negativo é investir em diversas melhorias direcionadas à prevenção como, por exemplo, treinamento, segurança, políticas objetivas, mapeamento e gestão de estoque. Engajar equipes também é essencial para conscientizar e melhorar o entendimento entre os envolvidos nos processos. Só assim será possível focar os esforços para aumentar a margem de lucro e se tornar competitivo no segmento. Com a inteligência artificial é possível realizar um diagnóstico mais preciso para gerenciar essas demandas e evitar futuros prejuízos.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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