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Taxonomy - Destacão
A estreita ligação entre liberdade e criatividade
Economista Luiz Alberto Machado mostra como a liberdade é um dos principais vetores da criação
Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum
"Tudo que é realmente grande e inspirador é criado pelo indivíduo que pode trabalhar em liberdade."
Albert Einstein
De acordo com pesquisa sobre o futuro do trabalho, feita em 2020 pelo World Economic Forum, a criatividade é uma das habilidades mais valorizadas no mundo de hoje, devendo assim permanecer por um bom tempo, razão pela qual aparece como uma das 15 habilidades mais importantes no futuro¹. Os relatórios anuais posteriores divulgados pela instituição continuam apontando a relevância cada vez maior da criatividade num mundo complexo e em constante mudança em que alguns trabalhos deixarão de existir enquanto outros surgirão. Diante disso, qualquer indivíduo deve estar preparado para mudar de cargo ou, ao menos, para se adaptar a novos processos e formas de trabalhar. Afinal, é possível que seja necessário fazer isso diversas vezes ao longo de uma carreira. Essa constante requalificação para ocupar novos postos de trabalho, que exige uma evolução permanente dos métodos de aprendizagem, foi chamada pelo World Economic Forum de reskilling. Embora seja quase unanimidade, pouca gente tem noção do que é criatividade, quais são suas dimensões, sua profunda relação com o empreendedorismo e a inovação, bem como sua estreita ligação com a liberdade. Das diversas definições de criatividade, as que mais me agradam são: "a capacidade de olhar a mesma coisa que todos os outros, mas ver algo diferente nela", e, numa versão mais empresarial ou de mercado, "a capacidade de fazer existirem coisas novas ou únicas e que agreguem valor". Considerando que a criatividade é absolutamente transdisciplinar e resulta de fatores inter-relacionados, uma abordagem esquemática favorece a compreensão da natureza e do cultivo da criatividade, quer do ponto de vista da pesquisa quer da aplicação. Nesse sentido, foi fundamental a contribuição de Mel Rhodes, que num artigo de 1961 dividiu a criatividade em quatro dimensões: pessoa, processo, produto e ambiente. Essa divisão é chamada normalmente de 4Ps, sendo que o quarto “p”, decorrente de ambiente, justifica-se pela pressão que o ambiente pode exercer no desenvolvimento da criatividade. Rhodes estabeleceu que criatividade é um fenômeno em que uma pessoa comunica um novo conceito – produto. A pessoa chega até esse produto por meio de um processo mental. Como nenhum ser humano vive ou opera num vácuo, precisamos considerar também o ambiente. [...] Rhodes observou que, até então, as pesquisas tinham se centrado em apenas uma das dimensões – em geral a pessoa ou o processo. No entanto, afirmava ele, o fenômeno só seria plenamente entendido se estudássemos suas quatro dimensões constitutivas. Apesar de ser possível identificar diferentes exemplos de transformação de uma ideia criativa num bem ou serviço criativo, ela ocorre, basicamente, de duas formas: inovadora, caracterizada por mudanças radicais ou disruptivas, quando há quebra de paradigma, com o surgimento de algo totalmente novo ou desconhecido; ou adaptadora, caracterizada por mudanças incrementais, que os japoneses chamam de kaizen. Por fim, para que haja criatividade − pessoal ou empresarial − um pré-requisito fundamental é a existência de liberdade, quer para que o indivíduo tenha estímulo para agir e empreender visando satisfazer seus interesses e maximizar seus ganhos, quer para que as empresas utilizem as ideias criativas para produzir qualquer bem ou serviço inovador que atenda os interesses dos consumidores num ambiente marcado pela concorrência e pela competição, e não por excesso de regras que servem apenas para aumentar os custos de transação, definidos por Douglass North como aqueles a que estão sujeitas todas as operações de um sistema econômico... ¹As 15 habilidades relacionadas pelo World Economic Forum foram: aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado; pensamento analítico e inovação; criatividade, originalidade e iniciativa; liderança; inteligência emocional; pensamento crítico; resolução de problemas complexos; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; programação; ser orientado aos serviços para o cliente; raciocínio lógico; experiência do usuário; uso, monitoramento e controle de tecnologias; análise e avaliação de sistemas; persuasão e negociação. Essas 15 habilidades podem, segundo Guilherme Dias, ser agrupadas em quatro grandes áreas: 1ª) Estratégias de aprendizagem; 2ª) Tecnologia; 3ª) Competências interpessoais e intrapessoais; 4ª) Pensamento crítico guiado para resolução de problemas. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. Card link Another linkOlímpica ansiedade
Ex-atleta, o economista Luiz Alberto Machado fala sobre a expectativa do desempenho brasileiro nos Jogos de Paris
A mulher, o genro e a sogra
José Paulo Cavalcanti Filho escreve uma parábola para abordar o direito constitucional à liberdade de expressão
José Paulo Cavalcanti Filho Edição Scriptum A Liberdade de Expressão, garantida no Brasil pela Constituição (arts. 5º, IV e 220), está ficando arriscada para quem fala. O ministro do Supremo Alexandre de Moraes, na condução de um Inquérito absolutamente ilegal (basta conferir os arts. 103 e 129 da Constituição), alegremente censura, por decisões monocráticas (única Corte, no mundo, em que isso é possível), mais de mil cidadãos que não podem mais dizer o que pensam. Tudo em sigilo. O Big Brother, de George Orwell, convertido em realidade. E tantos que se dizem libertários permanecem mudos, num silêncio cúmplice, como se fosse algo natural na Democracia. Assim, por mera prudência (Baltazar Gracian até escreveu livro sobre isso, A arte da prudência), decidi hoje falar do Brasil por outros caminhos. De propósito. Em uma parábola. E já digo que tudo começou quando um casal decidiu lembrar a lua-de-mel, passada em Buenos Aires. Como antes, iriam de carro. Problema é ter a mulher decidido que também iria, na viagem, a mãe dela. Bem velhinha, coitada, enfim teria chance de conhecer um país estrangeiro. E lá se foram, os três, em busca de emoções. Na primeira noite, já hospedados, tiveram que jantar sozinhos. Por estar a velha cansada. Na volta, de madrugada, encontraram seu corpo imóvel na cama. Em paz. Que para desgraça de todos, sobretudo da própria, teve a coitada a infeliz ideia de falecer. Por cima das dores, a realidade. Começavam, ali, os infortúnios do casal. Era preciso fazer autópsia. E também, como informou o gerente, investigar as causas dessa morte. Haveria inquérito policial, com depoimentos e perícias. Teriam que passar, na cidade, pelo menos um mês, antes de poder voltar ao Brasil. Angústia. Dinheiro não tinham. E ele seria despedido quando não aparecesse no trabalho. Foi quando surgiu, no quarto, o médico do hotel com uma ideia tresloucada. A de aplicar formol, no corpo da velha, permitindo que fizessem a viagem de volta. Para enterrá-la no Brasil. Com todas as honras que merecia. Foi dizer e fazer. Colocaram o pequeno corpo em uma mala e puseram no carro. Partindo, antes mesmo do nascer do sol, na direção de casa. Chegando no interior do Paraná, aliviados por terem escapado aos riscos que correram na fronteira, pararam para um lanche. Problema é que, quando voltaram para retomar viagem, o lugar do carro estava limpo. Sem o próprio. Que nunca mais apareceu. Decidiram dar por perdido e voltaram, para casa, de avião. Aos familiares, versão foi terem enterrado a velha em Buenos Ayres. E, junto com o carro, levaram também certidão de óbito e papéis do cemitério argentino. Nem sabiam mais, sequer, onde a pobre velha foi enterrada. Todos acreditaram. E ninguém mais falou disso. Faltando apenas dizer que engraçado, nessa história, é ser ela real. A verdade nem sempre é crível. Como dizia Flaubert, comentando seu romance Madame Bovary, “quando se escreve sobre a vida, às vezes é preciso falseá-la”. Certa vez pediram, ao amigo Millôr, para dar o exemplo de uma parábola. Atendeu, “o fogo da paixão, como qualquer outro fogo, não vive sem oxigênio”. Silêncio na sala, que ninguém entendeu. E ele completou: “Agora vocês me digam o que significa oxigênio aí, nessa parábola que acabo de inventar”. Para não deixar o leitor na dúvida, indico logo qual o oxigênio dessa historinha que contei. Já dizendo que vejo, naquela pobre velhinha, o povo brasileiro. Como ela jogado, de um lado para o outro, sem voz, nem vez, incapaz de escolher seu próprio destino. E vejo, naquele carro, a representação de nossas esperanças. Levadas embora, pelos que se preocupam só em enriquecer, para lugar incerto e não sabido.
- Semana passada, escrevi sobre a Inteligência Artificial - IA. Entre os comentários dos leitores, peço licença para citar parte de (apenas) três, que fugiram do convencional:
- FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES, mestre. Duvidando que a Inteligência Artificial seja capaz de responder pede que transfira, aos confrades na Academia Brasileira de Letras, essas 10 questões: “a) Como alguém encontra a felicidade? b) Qual o segredo do processo criativo? c) Quais são os limites do conhecimento? d) O que todos nós devemos aprender? e) Como viver sem estresse? f) Qual a responsabilidade dos seres humanos? g) Por que há tanto mal no mundo? h) O que é sabedoria? i) Qual é o caminho para a paz interior? j) Do que devo ter medo?”.
- IGNEZ BARROS, erudita. “Flaubert é um autor admirável, pela elegância do estilo e por sua coragem ao tratar de assunto que ofendia a moral pública e religiosa e os bons costumes, do Século XIX, comMadame Bovary. O romance foi censurado e Flaubert condenado, sendo absolvido só em 1857. Madame Bovaryc’ est moi, disse à frente dos Tribunais. Abro ainda um parêntese para falar de André Maurois, com sua Thérèse Desqueyroux (Séc. XX), cuja temática era similar à de Madame Bovary”.
- JESSIER QUIRINO, poeta. “Meu bom e velho cumpadre Zé Paulo. Você, um vivente analógico de alto calado, fez o teste com refinado grau de exigência e o animal foi lá e pimba! Ofereceu um resultado pei-bufo, pleno de convencimento. Só resta agora os nossos gestos largos nas inflexões das falas, no brusco dos fatos e no manso do viver. A máquina se atrapalha nessa filigrana de emoção que só o cristão sabe fazer. Que Deus tape as oiças dessa IA e seja louvado, JQ”.
Cortes de gastos públicos: de opção à imposição
Para Samuel Hanan, além de ser a solução mais adequada, é a única capaz de produzir os efeitos necessários a melhoria de qualidade de vida dos brasileiros
Samuel Hanan, ex-vice-governador do Amazonas, engenheiro especializado em economia e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum O grande fato econômico da segunda semana de junho foi a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo irá rever as despesas. Foi uma forma de o ministro tentar acalmar o mercado que reagiu mal às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o qual disse não pensar a economia do Brasil separada de medidas voltadas ao desenvolvimento social. Haddad prometeu rever o gasto primário e cortar privilégios, tendo sua fala endossada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. Uma notícia boa, sem dúvida, mas que não pode ficar somente na retórica, limitando-se a desfazer momentaneamente o mau humor do mercado. A questão é que reduzir gastos públicos já deixou de ser mera opção do presidente da República, de ministros de Estado ou de outros governantes. A medida é, agora, a última oportunidade - impositiva e inadiável - para se evitar desastres maiores ao País, como o aprofundamento das desigualdades regionais e sociais. É a bala de prata para estancar o crescente déficit público nominal (de R$ 967 bilhões em 2023) e o brutal aumento do endividamento público, já superior a R$ 8,1 trilhões em 2023, e que provavelmente atingirá R$ 9 trilhões em dezembro próximo. Não há outra expressão para definir a real situação do setor público: o governo brasileiro não cabe mais no PIB nacional. Esta não é uma opinião e, sim, a mais pura constatação resultante da análise de números oficiais, isenta de qualquer viés político-ideológico. Vejamos o exemplo dos gastos da União. O funcionalismo público federal consome anualmente R$ 490 bilhões, o correspondente a 4,5% do PIB. Outros R$ 421 bilhões/ano são destinados a cobrir déficits previdenciários (Regime Geral da Previdência Social (RGPS) com R$ 311 bilhões/ano, Servidores Federais civis e militares com R$ 110 bilhões/ano). São mais 3,86% do PIB. Os precatórios da União custam R$ 91 bilhões, ou 0,83% do PIB, e mais R$ 644 bilhões (5,91% do PIB) são empregados no pagamento de juros incidentes sobre as dívidas da União. A soma revela o comprometimento anual de R$ 1,646 trilhão, o equivalente a nada menos que 15,10% do PIB nacional. Vamos agora às receitas da União, deduzindo as receitas previdenciárias porque no cômputo geral consideramos apenas os déficits. A União soma receitas no total de R$ 1,605 trilhão, o correspondente a 14,73% do PIB. O déficit, portanto, é de 0,37% do PIB, ou R$ 41 bilhões anuais. A primeira conclusão que se tira é a de que a União somente conseguirá oferecer à população serviços de educação, saúde, segurança pública, saneamento, habitação, e programas sociais como Bolsa-Família, Benefícios de Prestação Continuada (BPC’s) e outros, mediante a geração de déficits gigantescos. Isso, por sua vez, implicará em mais endividamentos, alimentando, portanto, um círculo vicioso insustentável e altamente prejudicial à nação. A hipótese de o governo buscar ajustes via aumento de tributação está muito perto da exaustão. Essa medida recorrente já sacrifica demais a população – notadamente a mais carente – e, certamente, estimularia a sonegação e a informalidade, retrocesso indesejável. Portanto, o corte de gastos é, além da solução mais adequada, a única solução capaz de produzir os efeitos necessários a melhoria de qualidade de vida dos mais de 200 milhões de brasileiros. Imprescindível, no entanto, que seja expressivo para não se tornar mais um remédio paliativo. É possível de ser feito, por meio da redução do gigantismo do Estado, dos privilégios e da impunidade – que consomem entre 2% e 3% do PIB -, do efetivo combate à corrupção – a redução pela metade significaria diminuir os custos desse mal dos atuais 2,50% do PIB para 1,25 % do PIB - e do controle da farra das renúncias fiscais, muitas delas ilegítimas. O corte pela metade do que hoje é chamado de gastos tributários reduziria as despesas dos atuais 4,80% do PIB para 2,40% do PIB. É factível e apenas essas medidas de controle reforçariam os cofres da União em valores correspondentes a 6,65% do Produto Interno Bruto o que equivale a mais R$ 700 bilhões. Seria um bom começo e efetiva sinalização de que o governo está, de fato, disposto a mudar a realidade econômica do País. Os números são claros e a realidade grita. O Brasil precisa sair da ilusão para a era da verdade. A redução dos privilégios significaria ganhos palpáveis para a classe trabalhadora – ou seja, melhores condições de vida –, maior crescimento da economia, ampliação da oferta de emprego e melhores salários. Seria, além disso, um passo fundamental para viabilizar, por exemplo, a melhoria da educação com implantação de escolas em tempo integral e melhor remuneração dos professores; a expansão e avanço dos serviços do SUS, e a oferta de serviços públicos de maior qualidade à população. Eis um caminho seguro para a redução das desigualdades regionais e sociais, medida tão necessária para fazer do Brasil um País mais justo e igualitário, dando concretude ao que diz a Constituição Federal. Afinal, os direitos precisam sair do papel e chegar efetivamente à vida dos cidadãos. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
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