Pesquisar
Taxonomy - Destaquinho
Entre o dantesco e o pornográfico
O Brasil deve retomar o posto de 10ª maior economia do mundo. Um contraste com os vergonhosos indicadores de mortalidade infantil, educação, desigualdade de renda e IDH, escreve Rubens Figueiredo
Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum Segundo a consultoria Austin Rating, o Brasil deve recuperar, em 2023, o posto da décima maior economia do planeta. Ou seja, no mundo todo, apenas nove países terão um PIB maior do que o nosso. Em termos de PIB per capita, nossa performance não é tão exuberante: ocupamos um modesto 63º lugar, segundo dados do FMI. A renda per capita brasileira, de U$ 11.075,00 fica um pouquinho abaixo da média mundial, que é de U$ 11.365,00. Se pensarmos em IDH, a coisas ficam um pouco mais incômodas. Estamos em 87º lugar, num ranking que enumera 191 países. Os dados são de 2022 e estão no PNUD (Programa Nações Unidas para o Desenvolvimento). Apenas a título de ilustração, a Argentina, com todos os problemas que tem e em crise quase permanente, está quarenta postos acima da gente, em 47º lugar. É conhecida a piada de uma Companhia de Ópera que estava se apresentando num grande teatro, durante uma turnê. Primeira a subir no palco, a apresentação da soprano foi trágica, totalmente abaixo da crítica. As cortinas se fecharam ao som de uma de estrondosa vaia. A soprano abriu um pouco a cortina, botou o rosto para fora e disse: “Esperem só o barítono...” Então, podemos piorar. É o que acontece quando a referência é a mortalidade infantil. Segundo dados de 2011 das Nações Unidas, nosso País ostenta um vergonhoso 105º lugar, abaixo de nações muito mais problemáticas que a nossa. Em termos de indicadores sociais, nosso desempenho é medíocre, pífio mesmo. Mas é agora que o barítono entra no palco. Em dois indicadores, o que já era horroroso descamba para o pornográfico. Somos, também segundo dados do PNUD, o oitavo pior país em desigualdade de renda. A exuberante décima maior economia do globo tem a oitava pior divisão de renda! Entre os quase duzentos países do mundo, somos melhores apenas que a África do Sul, Namíbia, São Tomé e Príncipe, República Centro-Africana, Suazilândia e Moçambique. E, para fechar com “chave de ouro”, a questão educacional: estudo divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em 12 de setembro último, apontou o gasto por aluno na educação básica do Brasil como o terceiro pior num estudo que contemplou 42 países. Ficamos inclusive atrás dos latino-americanos Argentina, Chile e Costa Rica. Nossos gastos representam um terço da média encontrada entre os países da OCDE. Uma lástima. Mas pelo menos existe um dado alvissareiro nessa abominável sequência de tragédias estatísticas. O QS World University Rankings 2024, elaborado pela Quacquarelli Symonds, considerado um dos mais relevantes do mundo, apontou a USP como a melhor Universidade da América Latina e do Caribe. A Unicamp ficou em terceiro lugar. Vamos comemorar, mas tomando água com gás. No ranking mundial da mesma instituição, divulgado em junho, minha querida a USP aparece pela primeira vez entre as top 100, no 85º lugar. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkOs valores políticos do mercado financeiro são uma bolha
Cientista político Rogério Schmitt compara pesquisas que mostram a popularidade do governo entre gestores de fundos e economistas e a população em geral
Card link Another linkO sucesso do Pix no Brasil
Ferramenta criada pelo BC caiu no gosto popular; economista Roberto Macedo criou até um neologismo para se referir à operação: o verbo pixar
Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático O Pix brasileiro é ainda jovem, tendo começado em novembro de 2020. O Banco Central, que o instituiu, publicou recentemente um relatório sobre a gestão da ferramenta, na forma de uma apresentação com 30 páginas. Está acessível aqui. A apresentação cobre muitos temas ligados ao Pix, mas me interessei mais pelos seus números, que são impressionantes. Conforme o relatório, tanto “...a quantidade de transações quanto o volume financeiro cresceram progressivamente desde seu lançamento. Em dezembro de 2022, considerando as transações liquidadas ... foram realizados 2,9 bilhões de Pix, crescimento de 1.900% em relação a dezembro de 2020, segundo mês de operação do Pix, o que demonstra a grande aceitação na sociedade e no ambiente de negócios brasileiros. Em relação ao volume transacionado, houve crescimento nominal de 914% em 24 meses, chegando a R$ 1,2 trilhão em dezembro de 2022”. Vejam só: 2,9 bilhões de transações num único mês! E a maioria delas foi de baixo valor, demonstrando que o Pix chegou aos brasileiros que têm menos recursos. Conforme o texto, considerando “...todas as transações desde o lançamento do Pix até dezembro de 2022, quase 61% delas foram inferiores a R$ 100,00, o que mostra que o Pix tem sido utilizado principalmente para transferências de valores mais baixos. Quando consideradas transações cujos pagadores são apenas pessoas físicas, 93,1% dessas ordens são abaixo de R$ 200,00, o que reforça a natureza de baixo valor desse tipo de transação. Já considerando transações apenas entre pessoas jurídicas privadas, ainda há certa concentração na faixa até R$ 500,00, porém já se nota uma contribuição maior de transações de valor mais elevado: 18,6% das transações têm valor a partir de R$2.000,00”. Fui um dos muitos milhões de brasileiros que aderiram ao Pix. Antes usava a TED para fazer transferências entre bancos e era cobrado por isso. E costumavam demorar um tempo considerável para chegar ao destino. Com o Pix, chegam instantaneamente. Creio que a ferramenta deve ter aumentado a chamada “bancarização” dos brasileiros ao se difundirem entre eles as boas informações sobre o Pix. No meu caso, criei até um verbo para referir-me à transação. Quando faço um Pix para uma pessoa costumo dizer ou escrever: “Pixei R$150 para você!” Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkDireita envergonhada e extrema direita
Os verdadeiros liberais precisam se reposicionar, sem a vergonha do passado e a radicalismo do presente, escreve Vilmar Rocha
Vilmar Rocha, professor da Faculdade de Direito da UFG e coordenador de Relações Institucionais da Fundação Espaço Democrático Edição Scriptum O campo liberal, no Brasil, passou por uma profunda transformação desde a redemocratização, saindo da condição de uma direita envergonhada, no período pós-regime militar, e se aproximando perigosamente da extrema direita, mais intensamente a partir dos movimentos populares de 2013. Nenhuma das duas posições refletem o pensamento liberal, que é fundamentalmente refratário ao autoritarismo e às políticas econômicas estatizantes dos governos militares das décadas de 1960 e 1970, e também não coaduna com o conservadorismo reacionário e autoritário da direita considerada radical. No Brasil, ainda não vimos emergir um campo político essencialmente liberal, conceito que se traduz pela defesa intransigente das liberdades política, individual e econômica. Não que não haja representantes desse pensamento no País. Existem e militam desde o império, quando se opunham aos conservadores. O liberalismo perdeu espaço eleitoral com o fim da ditadura militar e, nos anos 1980 e 1990, a impressão que se tinha era que não havia partidos de direita no Brasil. Todas as siglas se posicionavam do centro para a esquerda no espectro ideológico. A vergonha da ditadura contaminou também o pensamento liberal nesse período. Nos anos 2000, as pautas econômicas liberais voltaram a ganhar força no País, mas não dentro de um ideário que envolvia também liberdades políticas e civis. Compuseram a chamada nova direita no Brasil, de traços conservadores e autoritários da extrema direita mundial. Alguns liberais, com a justificativa de combater a esquerda, alinharam-se ao pensamento dessa direita retrógrada e populista. Em uma democracia saudável, os campos políticos coexistem, cada um ocupando espaços próprios de pensamentos; no caso da direita liberal, aqueles já citados anteriormente. Por estratégia eleitoral e de poder, a maioria dos partidos brasileiros passou a se denominar de centro, buscando o voto não apenas de eleitores cujos anseios convergiam com seu pensamento político. Os liberais acompanharam esse movimento centrípeto e fizeram concessões ideológicas para se encaixar nesse campo político central, que reúne um grupo de partidos políticos sem identidade e de princípios desconexos. Não podemos nos furtar de observar que a debilidade da direita liberal contribuiu para esse quadro partidário disforme que temos no Brasil. Ao longo de sua história no País, o liberalismo optou por combater pensamentos antagônicos, sem, no entanto, defender seus princípios, que, como comprovado, combinados a valores que fogem do seu espectro, colocaram em risco sua identidade e bandeira. Agora, diante de uma polarização que nos ameaça com um déjà-vu a cada quatro anos, os verdadeiros liberais precisam se reposicionar no espaço político, sem a vergonha do passado e a radicalidade do presente. Afinal, é o único que pode ostentar de forma legítima a bandeira da liberdade. Publicado originalmente na edição de 19 de setembro de 2023 de O Popular, de Goiânia Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another link