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Ignorância fabricada pela desinformação é tema de Caderno Democrático

Entrevista com o jornalista e professor Eugênio Bucci trata do risco para a sociedade de confundir realidade e ficção

[caption id="attachment_39671" align="aligncenter" width="560"] Eugênio Bucci: "É rigorosamente impossível antever a evolução desse quadro"[/caption]

Redação Scriptum

 

Uma sociedade que não distingue a realidade da ficção, que não distingue o fato da opinião, no limite não distingue a verdade da mentira. O alerta é do jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Eugênio Bucci, personagem do Caderno Democrático Ignorância fabricada: a humanidade ameaçada por usinas de desinformação, mais recente publicação do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD.

O caderno, já disponível para download ou leitura on-linetraz a íntegra da entrevista de Bucci ao programa Diálogos no Espaço Democráticodisponível no canal de YouTube da fundação. Entrevistado pelo jornalista Sérgio Rondino, o economista Luiz Alberto Machado, o cientista político Rubens Figueiredo e o advogado e professor Vilmar Rocha, o professor destacou que quando desprezamos a política, mergulhamos no radicalismo. Ele falou sobre os perigos da ignorância fabricada, segundo ele resultado da ação de grandes “usinas” especializadas em produzir e distribuir desinformação por meio de atrações como memes, mistificações e crenças sem fundamento, que distorcem o modo de pensar de uma grande parcela da população, gerando consequências políticas e sociais.

Bucci aponta, na entrevista, que quando as pessoas perdem a relação com os fatos, começam a tomar decisões com base em crenças fabricadas, como já se observa em muitos países pelo mundo afora. “É rigorosamente impossível antever a evolução desse quadro”, afirmou.

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Saneamento e o ‘case’ de Botucatu: emprego do lodo de esgoto para compostagem e agricultura

Refletir sobre os potenciais do reaproveitamento do lodo é estratégia para quem atua em saneamento básico, escreve Mario Pardini

Mario Pardini, engenheiro civil, administrador de empresas e ex-prefeito de Botucatu (SP), e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

Como já apresentei em publicação recente, o emprego do lodo proveniente de estações de tratamento de esgoto tem impacto positivo no planejamento em saneamento básico, e hoje menos de 5% do volume sanitário gerado nas ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto) tem reaproveitamento no País. Ora, como trata-se de um resíduo que pode ter aproveitamento econômico e exploração de maneira funcional, é preciso refletir sobre ampliar o seu aproveitamento e seus potenciais.

Neste sentido, gostaria de destacar iniciativa no âmbito da unidade da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) de Botucatu (interior de São Paulo).

Antes de entrar propriamente no tema, repasso brevemente o que havia mencionado no texto anterior e destaco a importância das boas soluções em saneamento e a perseguição dos bons objetivos que estão estabelecidos no marco legal do setor, a Lei 14.026/20. A universalização dos serviços de saneamento no Brasil prevê, por exemplo, redução dos gastos decorrentes de doenças à população e o SUS (Sistema Único de Saúde). Também brevemente, estudo do Instituto Trata Brasil, que sugere que a universalização do saneamento básico pode gerar mais de R$ 1,4 trilhão em benefícios socioeconômicos para o Brasil em menos de 20 anos.

Dado que o saneamento tem enorme impacto social e econômico, as estratégias inteligentes e ambientalmente corretas para gestão do setor – para além do fim em si, já que tratar de saneamento tem total aderência às questões ambientais – devem ser sempre perseguidas.

O lodo de esgoto é um material de complexa composição, cuja destinação deve ser sempre analisada, já que vemos também esgotamento da capacidade dos aterros hoje existentes para recepção desses resíduos. E as Estações de Tratamento de Esgoto geram lodo de forma diária ou em períodos, dependendo do tipo de tratamento recebido. A grande maioria das ETEs, contudo, transporta e deposita este lodo em aterros.

No caso de Botucatu, temos a destacar a experiência adotada na compostagem desses resíduos, gerando como produto final material com teor de nutrientes (como nitrogênio, fósforo e potássio) e ausência de contaminantes/adequada presença de elementos químicos dentro de limites permitidos. Material apropriado ao emprego em agricultura.

A ETE de Botucatu, localizada na Fazenda Lageado, conta com baias de compostagem para a secagem do lodo de esgoto e sua transformação em composto orgânico, gerando um produto com umidade abaixo de 30% e nutrientes de interesse das plantas. Cada tonelada de composto de lodo contém nutrientes que equivalem ao valor de R$ 227,00 se comparado ao preço dos fertilizantes comerciais.

O processo de transformação do lodo em material de compostagem é um ciclo de 82 dias de duração, produzindo material que atende a resoluções e normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente, sob o nome “Sabesfertil”, devidamente registrado.

Defendo que conhecer mais sobre o assunto e refletir sobre os potenciais do reaproveitamento do lodo deve ser uma estratégia para quem atua em saneamento básico, no setor privado ou público, e também para interessados em questões ambientais e da gestão pública.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Adolescência impenetrável

A humanidade nunca teve tanta informação circulando como agora; e essas informações se acomodam em nichos com cultura própria, escreve Rubens Figueiredo

Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum                                       Você pode se lembrar de cenas ou frases marcantes de alguns filmes. Em Casablanca, uma Ingrid Bergman, com seus olhos de acolher caravelas e sonhando com Rick (ninguém menos que Humphrey Bogart), pede ao pianista cúmplice: “Play it again, Sam”. Depois de exaustiva jornada, Arnold Schwarzenegger, manda um inesquecível “Hasta la vista, baby” ao inimigo, em O Exterminador do Futuro 2. Ou do tiro irônico que o caçador da arca perdida, vivido por Harrison Ford, acerta na testa do incauto beduíno que o ameaçava fazendo malabarismos assustadores com uma espada brilhante a afiada. Um filme e uma série vão muito além de cenas marcantes. Têm direção, enredo, fotografia, performance dos atores, música, suspense, drama, emoção e risos. Também é verdade que, dependendo do tempo de vida das sinapses que transmitem os impulsos nervosos e habitam nosso cérebro, a lembrança favorece aquilo que vivemos recentemente. Seja como for, impressionam a dinâmica e intensidade da série Adolescência (Netflix), de apenas quatro episódios. Já começa com a prisão de Jamie (na brilhante interpretação de Owen Cooper), um menino de 13 anos suspeito de assassinato. É impressionante. Chama a atenção a absoluta desproporcionalidade entre a energia demonstrada pela polícia na invasão da modesta casa da surpresa família – tem-se a impressão de que duas incursões dessa natureza extinguiria o tráfico de drogas no Rio de Janeiro – e a suposta ameaça representada pelo sonolento delinquente mirim. A tensão inicial já nos deixa em estado de alerta. Wimer Bottura é um médico psiquiatra da USP especializado em relações entre pais e filhos. Ele diz que os pais não foram treinados para ser pais. Você faz cursos para ser engenheiro, cirurgião, eletricista, podólogo, jogador de xadrez, baterista – ou até outras ocupações mais exóticas, como cientista político. Mas ninguém é treinado para ser pai. A paternidade é exercida quase por tentativa e erro. Fazemos o que julgamos ser bom, a partir do que observamos e de nossa experiência como filhos. A autoridade como pais, diz Bottura, não deriva da função, mas de nossa capacidade de fazer os filhos perceberem que temos algo a ensinar. Pais erram. E erram muito. Mas erram tentando acertar. Adolescência trata do abismo, do fosso que se estabelece entre compreensão e vivência. Família, educadores, escola, polícia – ninguém tem a mínima noção do que está acontecendo no universo dos adolescentes. Eles vivem seu mundo particular no meio das instituições que deveriam prepará-los para o mundo de todo mundo. Os valores, a linguagem, os gestos, até os sorrisos – tudo é diferente, tem significado identificável só para e entre eles. Esse descolamento expõe a fragilidade e a impotência dos adultos. Prenderam meu filho e ele pode ser um assassino. O momento da percepção do pai (protagonizado por Stephen Grahan) que falhou como pai tendo a certeza de que fazia o melhor para seu filho, tem o efeito de um vírus deletando nossos valores mais arraigados. Onde errei? Apanhei muito do meu pai e prometi que jamais faria isso com meus filhos, desabafa. Cumpri. Levei meu filho para fazer o que a maioria dos pais faz: jogar futebol, lutar boxe... Tentei me conectar com ele da maneira que eu imaginei que fosse certa. Do meu jeito, amei-o com a intensidade que os pais amam os filhos. Fui muito melhor com ele do que meu pai foi comigo. E deu no que deu. Outro momento de altíssima carga emocional é a entrevista da profissional responsável por fazer o laudo psicológico de Jamie. Aqui, o ator menino mostra-se diferenciado. Aos poucos, vamos entendendo toda a complexidade da personalidade do aparentemente inofensivo assassino. Também é elucidativa a cena da conversa entre o policial (o ator Ashley Walters) e seu filho, que não se davam bem e ensaiam uma reaproximação por conta do assassinato. Vendo seu pai trabalhando na investigação e fazendo o papel de um paspalho, o filho o chama para explicar como é que funciona a sociedade dos adolescentes, suas regras e símbolos. A série incomoda e assusta. Gera perplexidade e reflexão. A humanidade nunca teve tanta informação circulando como agora – e essas informações se acomodam em nichos com cultura própria, linguagem peculiar e simbologias inexpugnáveis. Eles estão no quarto ao lado, sempre com laptop ligado. Sentamo-nos juntos à mesa todos os dias, mas não temos a mais pálida noção sobre a excitação e o sofrimento que eles encontram nas redes, o bullying que nos escapa à compreensão, o que pensam e quem podem estar planejando matar.   Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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Instabilidade decisória de Trump pode impactar empresas

Economista Roberto Macedo aponta o sério risco para companhias que queiram investir para aproveitar uma decisão favorável que pode ser suspensa dias depois

Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático

Edição Sriptum

   

Vez por outra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trata de questões discutíveis. Por exemplo, no dia 10 deste mês baixou um decreto que aumenta a quantidade de água que passa pelos chuveiros, de modo a reduzir o tempo que se gasta para lavar o que chamou de seus “lindos cabelos”. Disse que estava tomando 15 minutos com um pinga-pinga.

Tratando de coisas sérias, no dia 2 de abril ele anunciou a imposição de tarifas sobre bens importados pelos Estados Unidos vindos de um grande conjunto de países, com taxas iniciais de 10% para alguns, como o Brasil, e taxas maiores para outros, em particular para a China, cujo percentual mínimo passou a 34% –essas tarifas passaram a vigorar no dia 5 deste mês. Já no dia 8 Trump ordenou que a tarifa sobre importações da China passasse a 125% e no dia 9 definiu o prazo de 90 dias para a vigência das tarifas dos demais países tributados com taxas superiores a 10%. No dia 10 esclareceu que a tarifa imposta à China passaria a 145%. Esses aumentos da taxa também responderam a aumentos das taxas chinesas sobre importações dos EUA. Da última vez que vi, essa taxa havia passado de 34% para 84%.

Diante desses movimentos, percebe-se que Trump aumentou a tarifa para a China, mas reduziu a de muitos países, que por 90 dias passaram a ter 10%, como a taxa brasileira usual, exceto no caso do aço e do alumínio, que continuam com 25%.

Agora, imagine-se o leitor tentando lidar com esse vai e vem de tarifas, este último movimento por 90 dias, no governo ou em empresas envolvidas no comércio internacional de países afetados. Antes da referida suspensão das tarifas maiores que 10% por 90 dias, ouvi gente do governo e empresários brasileiros dizendo que o Brasil poderia recorrer ao seu status relativamente privilegiado de uma tarifa de 10% para ampliar suas exportações para os EUA.  Mas, para isso, as empresas deveriam aumentar sua produção, investir em armazéns para estoques que seriam levados aos portos e aeroportos. E tudo isso exigiria mais investimentos, ou seja, mais dinheiro. Mas agora, depois dos 90 dias, o que vai acontecer com as tarifas de 10% dos nossos concorrentes? Mais recentemente ainda, no dia 12 foi anunciado que Trump recuou novamente e isentou de tarifas as importações de smartphones, computadores e chips.

Assim, há um risco de perdas de quem se aventurar a investir para exportar no contexto de uma decisão de Trump, pois sua instabilidade decisória leva a mudanças que podem inviabilizar recursos necessários para ampliar exportações para os Estados Unidos. É melhor esperar para ver se vem uma estabilidade duradoura e não esse vai e vem da instabilidade decisória.

    Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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