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O alto preço da cultura de gorjetas nos Estados Unidos
Comércio norte-americano tem recorrido a truques cada vez mais criativos que provocam a inflação da gratificação.
Edição Scriptum com Estação do Autor e DW
Dar gorjeta sempre foi um gesto de reconhecimento aos serviços prestados em restaurantes, hotéis e outros estabelecimentos comerciais. No entanto, as regras variam muito de país para país. Nos Estados Unidos, o comércio tem recorrido a truques cada vez mais criativos que provocam uma verdadeira "inflação de gorjeta".
Reportagem de Timothy Rooks para o site DW trata da cultura da gorjeta, que, segundo historiadores, começou na Europa medieval, com os aristocratas distribuindo gratificações aos servos ou àqueles que trabalhavam em suas terras. No século 19, a ideia estava desaparecendo na Europa, mas chegou aos EUA. Mais tarde, seria reexportada para todo o mundo.
Na opinião de Michael Lynn, professor de marketing de serviços na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, a gorjeta é motivada principalmente por ajudar ou recompensar um bom serviço e alguns o fazem para cumprir uma sensação de obrigação. Outros ainda dão essa gratificação para obter ou manter um serviço preferencial futuro ou uma aprovação social, explicou Lynn.
Atualmente, as novas tecnologias mudam como e onde as gorjetas são esperadas. No passado, alguns dólares eram deixados na mesa do restaurante ou um pequeno troco era colocado na caixinha ao lado do caixa. O aumento do uso de cartões, aplicativos e sistemas de pagamento com telas sensíveis ao toque adicionaram opções de gorjeta. Durante a pandemia de Covid-19, muitas empresas deixaram de usar dinheiro em espécie e passaram a receber pagamentos sem contato e on-line. Dessa forma, as empresas que fornecem esses dispositivos digitais decidiram incluir um pedido de gorjeta.
Uma pesquisa realizada em 2023 pelo instituto YouGov nos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Espanha e Itália mostrou que a esmagadora maioria dos que dão gorjeta em restaurantes nesses países repassa de 5% a 10%. Os Estados Unidos foram um caso à parte, com dois terços dos entrevistados dando gorjetas de 15% ou mais. A pesquisa também revelou que muitos americanos deixariam a recompensa mesmo em um restaurante com um serviço ruim ou péssimo.
Outra pesquisa sobre a cultura da gorjeta nos EUA, publicada pelo Centro de pesquisas Pew, em novembro de 2023, analisou a chamada inflação de gorjetas (tipflation) nos EUA. O levantamento descobriu que 72% dos adultos afirmam que dar gorjeta aos funcionários do setor de serviços é esperado com mais frequência do que há cinco anos. Além disso, apenas 34% dos adultos entrevistados afirmam que é extremamente ou muito fácil saber quando é realmente apropriado dar gorjeta.
Card link Another linkBusca ativa levou mais de 300 mil crianças e jovens de volta à escola desde 2017
Apesar do esforço, ainda há 993 mil crianças e adolescentes de 4 a 17 anos sem frequentar aulas no País.
[caption id="attachment_40110" align="aligncenter" width="560"] Mesmo com o esforço, ainda há 993 mil crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, faixa etária na qual a educação é obrigatória, sem frequentar aulas no país.[/caption]
Edição Scriptum com Estação do Autor e Folha de S.Paulo
Desde 2017, mais de 300 mil crianças e adolescentes que estavam fora da escola no Brasil voltaram às salas de aula. Esse avanço é resultado da Busca Ativa Escolar, uma estratégia criada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em parceria com a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). O programa apoia Estados e municípios no enfrentamento à exclusão e ao abandono escolar por meio do mapeamento dos estudantes nessa situação. Depois, cabe ao poder público devolvê-los ao ensino. Reportagem de Bruno Lucca para a Folha de S.Paulo (assinantes) traz mais informações sobre o assunto.
Mesmo com o esforço, ainda há 993 mil crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, faixa etária na qual a educação é obrigatória, sem frequentar aulas no país. O dado é da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, publicada em 2024, que ainda revela uma informação preocupante: quase 60% das crianças de 0 a 3 anos estão fora da creche. Nessa fase, a educação não é obrigatória, mas é um direito. O Plano Nacional de Educação previa chegar em 50% das crianças nos berçários até 2024.
Segundo análise do Busca Ativa, meninos representam 55% do total de crianças e jovens fora das escolas, enquanto meninas são 45%. Com relação a raça e cor, 67% são pretas, pardas ou indígenas. O grupo de 15 a 17 anos concentra o maior índice, sendo 440 mil adolescentes excluídos do sistema educacional quando deveriam estar concluindo a educação básica. A exclusão também tem forte relação com a renda. Do total de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora do contexto formal do ensino, quase 400 mil vivem nas famílias 20% mais pobres.
Em relação ao território, 195 mil dos que não frequentam o ambiente escolar vivem na zona rural, enquanto 797 mil estão na zona urbana. Conforme o Unicef e a Undime, 36% dos bebês e crianças que não tem acesso a creche (2,4 milhões) vivem entre famílias mais pobres. Segundo o levantamento, esse dado evidencia a necessidade urgente de ampliar a oferta de educação infantil, especialmente em comunidades vulneráveis, e de realizar ações de busca ativa para que bebês e crianças pequenas tenham o direito à educação garantido desde os primeiros anos de vida.
A Pnad mostrou ainda que a falta de oferta não é o único motivo por trás dos dados, que parecem indicar um fenômeno mais cultural, ligado principalmente a decisão dos pais. Em 2024, 60% das crianças de 0 a 3 anos que não frequentavam creches estavam fora por opção dos pais ou responsáveis.
A verdade e os números primos
A matemática não é bolsonarista nem petista, não é tucana nem neutra; ela apenas é, escreve o cientista político Rubens Figueiredo
Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Nesse momento, no Brasil, a verdade, tal como a entendíamos, é inalcançável, perdeu o valor. Na teoria, existe uma concepção clássica: verdade é aquilo que se adequa à realidade. Simples. Mas o problema está justamente aí: cada grupo passou a construir uma realidade própria, ancorada nos seus pressupostos, suas paixões e seus medos. E, se cada realidade é diferente, a verdade, que deveria ser uma só, se fragmenta em verdades particulares.
Na matemática, não há espaço para delírio. Número primo é definido como um número natural maior que um e que tem exatamente dois divisores positivos: um e ele mesmo. Três, por exemplo, sempre será primo — não importa se você é de esquerda, direita, centro ou se prefere não se posicionar. Trata-se de uma evidência objetiva.
Mas, na sociedade de hoje em dia, está perigoso: até o número primo pode se tornar uma questão de gosto. Cada lado inventaria o seu conjunto de números “primos”, onde os julgados inconvenientes podem deixar de ser primos, e outros, por pura conveniência, passam a ser. O absurdo ganha status de argumento e a coerência fica fora da equação.
A história é a dos vitoriosos. Mas ela também passou a ser escrita e reescrita ao sabor das crenças e conveniências. O passado deixou de ser registro para virar território de disputa, de narrativas. O embate intelectual acabou. Quem discorda não é só alguém que discorda: é inimigo, é mentiroso, é herege, fascista ou comunista. O argumento virou ofensa pessoal.
O livro A vingança de Tocqueville, de Fábio Giambiagi (Rio de Janeiro, Alta/Cult Editora, 2024, 384 páginas), é uma obra que faz algo quase subversivo: trata números como números e fatos como fatos. Não são opiniões, nem interpretações, nem desejos: são dados. E os dados contam uma história que muitos preferem ignorar.
Giambiagi mostra, desfilando capacidade técnica e bom humor, como chegamos ao atual descalabro fiscal, com uma carga tributária alta, dívida pública crescente e um orçamento engessado. É um problema gravíssimo. A sequência histórica ajuda a colocar cada personagem em seu devido lugar.
No governo FHC houve avanço importante no controle da inflação e criação de regras, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Foi também o período que consolidou o tripé macroeconômico: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário. Não era perfeito — tirando torresmo com cerveja gelada, nada é –, mas foi um esforço claro de disciplinar as contas.
Veio então Lula, que manteve no primeiro mandato boa parte da política econômica de FHC (embora o petista afirmasse ter recebido uma “herança maldita”) e colheu frutos de um cenário externo favorável, com superávits primários robustos e reduzindo a relação dívida/PIB por alguns anos. Mas já no segundo mandato começaram a surgir sinais de afrouxamento fiscal, ampliados ainda mais sob Dilma.
Com Dilma Rousseff, houve uma virada de fato: renúncias fiscais em larga escala, manobras contábeis (“pedaladas”) e aumento expressivo do gasto público corrente. Resultado: deterioração rápida das contas públicas e disparada da dívida. E, segundo o economista Samuel Pessoa, a maior recessão em dois anos que um país já enfrentou em tempos de paz. Evoluímos do “nunca antes na história desse país” para o “nunca antes na história da humanidade”.
Na página 240 do livro, está o resumo da ópera. Entre 2003 e 2014, o Brasil cresceu 3,7% a.a. enquanto as despesas primárias cresceram 5,4% a.a. Nas palavras de Giambiagi: “o resultado disso foi que o superávit primário consolidado de 3,2% do PIB em 2003 se transformou num déficit de 0,6% do PIB em 2014. O governo conseguiu a proeza de piorar as contas fiscais em quase 4% do PIB com a economia crescendo perto de 4% durante 11 anos!”. Qual a herança maldita?
E que Giambiagi faz, com serenidade quase provocativa, é lembrar que a matemática não é bolsonarista nem petista; não é tucana nem neutra: ela apenas é. Se o País gasta persistentemente mais do que arrecada, a dívida cresce. E crescerá ainda mais se não forem feitas reformas impopulares — porque, como lembrava Tocqueville, as democracias têm dificuldade em conter gastos que agradam ao eleitorado de curto prazo.
Em um ambiente onde até número primo pode virar questão de opinião, A vingança de Tocqueville parece quase um ato de resistência: é a tentativa de recolocar a discussão fiscal no terreno da realidade — esse território cada vez mais esquecido no debate público. Afinal, três é um número primo. Quatro não é.
Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkPortugal assina lei que cria ‘polícia de estrangeiros’; brasileiros são o maior grupo no país
O último dado oficial que o Ministério de Relações Exteriores dispõe é de 2023 e indica 513 mil brasileiros em terras portuguesas
Edição Scriptum com Estação do Autor e Estadão
As fronteiras estão se fechando à imigração ao redor do mundo. Em Portugal, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa promulgou nesta quinta-feira (17) a lei que cria a Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras (UNEF). A nova força especial de segurança está sendo chamada de “Polícia de Estrangeiros” porque entre as suas atribuições está fiscalizar a permanência de cidadãos de fora do país e o controle de fronteiras.
Reportagem publicada no Estadão (para assinantes) traz detalhes do pacote anti-imigração aprovado pelo Parlamento, que afeta diretamente os brasileiros que representam o maior grupo de estrangeiros em Portugal. O último dado oficial que o Ministério de Relações Exteriores dispõe é de 2023, indicando 513 mil brasileiros em terras portuguesas. Em 2018, eram 111 mil.
A nova força especial de segurança vai instruir e gerir os processos de afastamento coercivo, expulsão, readmissão e retorno voluntário de cidadãos estrangeiros. Com isso, a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) passaria a exercer funções apenas de natureza administrativa sobre a entrada, permanência e saída de estrangeiros.
Essas restrições a imigrantes se somam a um movimento de fechamento do país já adotado pelo governo português, que havia anunciado, em junho, que 34 mil imigrantes seriam notificados a sair do país, entre eles 5 mil brasileiros que tiveram o pedido de residência por manifestação de interesse negado.
A lei extingue a manifestação de interesse, estabelecendo um período transitório, até 31 de dezembro de 2025, para que pedidos de autorização de residência baseados em manifestações de interesse sejam apresentados. Ao mesmo tempo, institui um visto para a procura de trabalho qualificado. O texto não detalha o conceito, mas atribui uma diferença ao visto que era concedido até então, em que o estrangeiro podia entrar legalmente e permanecer por 120 dias (prorrogáveis por mais 60) para procurar emprego, sem a necessidade de ter uma oferta de trabalho formal.
No caso de membros da família que já se encontram em território português, o direito ao reagrupamento é concedido apenas aos menores de idade, dependentes do requerente e que tenham entrado legalmente no país. Para membros da família que estão fora de Portugal, o direito ao reagrupamento seria concedido a familiares de estrangeiros que residam legalmente no país há pelo menos dois anos. Essa alteração impactaria diretamente muitas famílias que imigram para Portugal por conta do visto do pai ou mãe e que pediam o agrupamento familiar dos outros membros da família já estando no país.
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