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Taxonomy - Destacão
O populismo vem aí
Cientista político Rubens Figueiredo analisa a pesquisa Ipsos e lembra: algo em torno de quatro bilhões de pessoas votarão em 2024
Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático Entre 22 de novembro de 2022 e 6 de dezembro de 2023, o Instituto Ipsos, terceira maior empresa de pesquisa de mercado do mundo, realizou um levantamento de opinião sobre populismo – survey – em 28 países, Brasil incluído. Os achados principais foram os seguintes:
- O sentimento anti-estabilishment aumentou em relação à pesquisa anterior.
- 58% dos entrevistados acham que seus países estão em declínio.
- Há uma grande má vontade com os imigrantes.
- As elites são vistas com suspeição.
- Os entrevistados querem uma presença mais efetiva do governo na resolução dos principais problemas.
Do plano empresarial para o pessoal
Economista Roberto Macedo mostra como a técnica conhecida como SWOT, aplicada em empresas, pode auxiliar no desenvolvimento das pessoas
Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum A análise SWOT vem dos termos em inglês strengths (pontos fortes), weaknesses (fraquezas), oportunities (oportunidades) e threats (ameaças) e usualmente é aplicada a empresas. Um artigo publicado pelo site Smart Brief, que circulou na internet, propõe aplicá-la no plano pessoal. O S passou a self (você mesmo), W a world (o mundo em torno de você), o O a others (outros em sua vida e a qualidade do seu relacionamento com eles) e T a dois deles time e treasure (tempo e tesouro) – o primeiro como foi utilizado e o segundo diz respeito a como foi gasto o dinheiro do mês passado. Então, SWOT passou a SWOTT como um SWOT pessoal. O artigo acrescenta que o SWOTT ajuda a pessoa a se entender de uma perspectiva diferente e que quanto melhor você entender a si mesmo, mais poderá crescer e mudar. O texto para por aí e o que se segue veio da minha própria cabeça. Creio que entender a si mesmo é um aspecto importante do comportamento individual. Quais são as suas reações diante dos vários aspectos e problemas da vida, se são corajosas ou cautelosas; se busca resolver problemas ou é um procrastinador; vê obstáculos como triviais ou não; busca atuar nas decisões e não empurrá-las aos companheiros de trabalho; e outros aspectos, como ter aspirações a liderança. Ao fazer esse exercício você já estará tratando de pontos fortes e fraquezas, sempre procurando corrigir estas últimas. Oportunidades vêm de circunstâncias, que podem ser boas ou más, mas não se pode depender delas passivamente. É preciso procurar as boas e enfrentar as más. Já dizia o filósofo espanhol, Ortega y Gasset: eu sou eu e minhas circunstâncias. É preciso saber reagir diante delas, sempre procurando as melhores. Tempo é dinheiro e como economista recomendo que a pessoa pense na sua produtividade, fazendo mais e melhor por unidade de tempo. A minha, trabalhando com pesquisas e redação, aumentou muito com o desenvolvimento da internet, dos computadores e impressoras pessoais e do smartphone. No início da carreira ainda trabalhei muito com máquinas de escrever e calculadoras mecânicas, ambas já numa fase de transição para modelos elétricos. E só havia telefones fixos. Telefonemas interurbanos e internacionais envolviam uma enorme dificuldade. O WhatsApp tem ajudado muito. E há a questão financeira. Eu escolhi o caminho da educação e cheguei ao doutorado me qualificando para a docência, a pesquisa e a gestão educacional. Não tenho queixas do retorno financeiro e vejo esse trajeto como o melhor investimento que fiz na vida. Mas não é o único caminho. Tome-se, por exemplo, os casos de empresários, artistas e esportistas de sucesso. Eu colocaria este com a letra S a mais no SWOTT. É preciso estar sempre pensando nele e isso ajudará a pessoa a ir em frente. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkSolução contra os desastres no Brasil: Reforma Política
Não haverá evolução se os brasileiros continuarem acreditando em discursos fáceis e sem profundidade, escreve Samuel Hanan
Samuel Hannan, engenheiro especializado em economia e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum Não é de hoje que o Brasil evoca a época das capitanias hereditárias, período em que os donatários e seus familiares possuíam todos os direitos e privilégios enquanto os demais - quase totalidade da população - viviam como vassalos condenados a uma existência de necessidades e modernamente hoje denominados de classe D e E. É triste, porém verdadeiro. Nossa nação parece sentenciada a assistir sempre à repetição que já nos tirou do mapa do desenvolvimento socioeconômico e humano e nos levou ao atraso de mais de 30 anos. Um ciclo nefasto que somente será rompido com uma ampla e inadiável reforma. Isso nos remete à histórica frase de Karl Marx, segundo a qual “a história repete-se sempre, pelo menos duas vezes, a primeira como tragédia, a segunda como farsa”. O Brasil de hoje vive uma situação lastreada em mentiras e atos corruptos dos donatários do século 21. A se julgar pelo momento que vivemos e pelos sinais do governo que já completa o seu primeiro ano com indicadores das ações prometidas em campanha bem aquém do esperado. Nenhuma referência a metas de redução de desperdícios e das benesses ou ao combate efetivo da corrupção em todos os níveis, mas sim, no esforço predominante para obter de R$ 160 a R$ 180 bilhões para os gastos extras, ou seja, desconsidera-se que isso significa adquirir mais dívidas bancárias e pagar mais encargos financeiros anuais superiores a 10% a.a. Além disso, não se firmou qualquer compromisso para a redução do déficit fiscal brasileiro no presente exercício. Observa-se uma descoordenação evidente entre o atual presidente e o Ministério da Fazenda, caracterizada pela ausência de consenso, divergência de linguagem e os pronunciamentos presidenciais são capazes de desvalorizar os esforços empreendidos pelo Ministro da Fazenda e pelo Congresso Nacional, na busca pela credibilidade do comprometimento coeso e unânime do governo com a disciplina orçamentária. Pelo contrário. Para acomodar, aglutinar e, claro, recompensar os líderes políticos e partidários, será necessário onerar ainda mais o orçamento, elevando o já gigantesco custo da máquina pública por meio de brutal incremento do número de ministérios, que passaram de 23 para 37 e já em estudos para 38 (Segurança Pública). Não é demais lembrar, ainda, que o novo governo apoiou e negociou a alteração da Lei das Estatais para permitir que políticos, até então impedidos pela lei vigente, pudessem ser nomeados, e remunerados com os maiores vencimentos do serviço público. O Brasil caminha por estradas tortuosas há décadas e não tem mais tempo a perder. Somente uma reforma política pode evitar a perpetuação do desastre. É premente rever o instituto da reeleição, proibindo a recondução no Executivo e garantindo um mandato maior do que o atual, de forma a possibilitar a conclusão dos programas de governo. Tornar imprescritíveis os crimes contra a administração pública. Tal reforma, contudo, não será hábil se não for proibida a formação de chapas para o Senado, para os governos estaduais e para a presidência da República com familiares dos candidatos figurando como suplentes e vices. É preciso também aumentar o período de quarentena para membros do Judiciário e do Ministério Público que deixam o cargo para se candidatarem a cargos públicos. Para coibir o “toma-lá-dá-cá” e a “farra dos suplentes”, a reforma poderia limitar (talvez a 10%) a nomeação de parlamentares para ministérios, secretarias de Estado ou secretários de municípios, ou exigir que parlamentares renunciem aos cargos se quiserem ocupar pastas no Executivo. A ética e a moralidade recomendam, ainda, que os cargos de diretores e conselheiros de empresas estatais somente possam ser ocupados por ex-presidentes, ex-governadores e ex-prefeitos após o cumprimento de um afastamento de 10 anos, contados do fim do cargo eletivo. Além disso, os membros dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos municípios deveriam ser escolhidos exclusivamente por meio de concurso público. Para aperfeiçoamento da democracia, a reforma deveria abranger a exigência de ficha limpa para os cidadãos que desejem se filiar a algum partido político, condição estendida a candidatos a cargos públicos eletivos do Executivo e do Legislativo. Um país com falta de recursos para investimento em setores básicos precisa redimensionar os Fundos Partidário e Eleitoral, estabelecendo limites financeiros compatíveis com a realidade da Nação e definindo novos critérios de distribuição, tornando-os mais democráticos e transparentes, ao contrário de hoje, em que os dirigentes de partidos gozam de enorme poder graças à esfera discricionária de distribuição de recursos. O ideal, ainda, seria que coligações e federações partidárias somente fossem homologadas mediante a apresentação de programas de governo e/ou de metas, atualmente ignorados. Em outra esfera, é necessário também estabelecer limites ao Poder Judiciário, sem tolher sua autonomia constitucional, mas vedando a manifestação fora dos autos e a concessão de entrevistas sobre temas ainda não transitados em julgado, bem como reduzir as decisões monocráticas. Pelo contrário. Ninguém se compromete em acabar com a reeleição nem em combater efetivamente a corrupção, mal antigo que onera e envergonha o País, arruinando o sonho das futuras gerações. A leniência com que a questão é tratada e os maus exemplos transmitem a imagem de que não vale a pena estudar e trabalhar porque o crime compensa. Não haverá evolução, não existirá aprendizado se o País insistir nos mesmos erros em vez de corrigi-los, e se os brasileiros continuarem acreditando em discursos fáceis e sem profundidade, iludindo-se com a promessa vã de que as soluções para tudo serão trazidas por um ou outro político. Convém meditarmos sobre o que ensinou o economista e filósofo político norte-americano Thomas Sowell: “Quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfazê-las". Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkQuais são os campeonatos estaduais mais disputados?
Rogério Schmitt usa uma ferramenta analítica da ciência política para determinar qual é o estadual mais competitivo do Brasil
Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático Edição: Scriptum Todo ano é a mesma coisa. Enquanto não começa o Campeonato Brasileiro, o calendário do nosso futebol acaba sendo protagonizado, até março ou abril, pela disputa dos campeonatos estaduais. E ressurge a requentada polêmica sobre qual seria o melhor estadual do País. Agora em 2024 foi a vez do técnico Tite, do Flamengo, declarar que esta honra pertenceria ao Campeonato Carioca. Por isso, proponho a seguir uma análise comparativa dos campeonatos estaduais, utilizando uma célebre ferramenta analítica da ciência política. Mas já deixo claro que esta comparação não trata, em nenhum momento, do nível técnico dos campeonatos. Deixo esta avaliação para os corações apaixonados dos torcedores brasileiros. Na verdade, o objetivo do meu exercício é chegar a um ranking do grau de competitividade dos estaduais. Independentemente dos respectivos níveis técnicos, quero mensurar empiricamente quais campeonatos têm os desfechos mais imprevisíveis. Selecionei os campeonatos de futebol de dez estados da federação, considerados também as maiores praças do futebol brasileiro. Na sequência, arbitrei como linha de corte as últimas 21 edições de cada torneio (de 2003 até 2023). Este período também coincide com o atual formato de disputa do Campeonato Brasileiro (por pontos corridos, com turno e returno). O critério mais intuitivo para montar um ranking da competitividade dos campeonatos de futebol é simplesmente verificar quantos clubes diferentes foram campeões em seus Estados ao longo destas duas décadas. Vejamos então estes primeiros resultados da análise. Os campeonatos paulista, paranaense e goiano foram vencidos, cada um, por seis clubes diferentes nos últimos 21 anos. As ligas baiana e catarinense, por cinco clubes. Já os campeonatos mineiro, carioca e pernambucano tiveram, cada um, quatro campeões distintos. Finalmente, apenas três clubes venceram o campeonato gaúcho, e somente dois o cearense. Já temos, então, uma primeira escala de competitividade do futebol estadual brasileiro, liderada por São Paulo, Paraná e Goiás, e com o Ceará na última posição. Mas esta forma de comparação ainda pode ser aperfeiçoada, pois ela não leva em conta, por exemplo, o número de vezes em que cada clube se sagrou campeão em seu Estado. Felizmente, existe uma conhecida ferramenta analítica na ciência política capaz de resolver tal problema. É o índice de fracionalização (F), desenvolvido pelo norte-americano Douglas Rae, em 1967. O índice F, que varia entre 0 e 1, mede a probabilidade de que dois elementos de uma distribuição, tomados aleatoriamente, tenham valores diferentes. Assim, por exemplo, se um mesmo clube vencesse todas as 21 edições de um campeonato estadual, a estatística F seria igual a 0. Esta seria uma liga de futebol sem competitividade alguma (pois seria totalmente previsível). No outro extremo, se cada um dos 21 campeonatos tivesse sido vencido por um clube diferente, o índice F seria (tendencialmente) igual a 1. Neste caso, estaríamos falando de uma liga no limite máximo de competitividade (no sentido de incerteza). Temos, portanto, uma ferramenta bastante apropriada para elaborar um ranking mais preciso e sofisticado da competitividade dos campeonatos estaduais, tendo em vista os seus respectivos graus de imprevisibilidade/incerteza. E qual foi o resultado deste exercício? Na liderança isolada, aparece agora o Campeonato Paulista. O índice F igual a 0,76 indica 76% de probabilidade de que duas edições aleatórias do estadual de São Paulo tenham sido vencidas por clubes distintos. O maior campeão do período foi o Santos (7 títulos), seguido pelo Corinthians (6), pelo Palmeiras (4) e pelo São Paulo (2). Numa disputa acirrada, a vice-liderança do ranking de competitividade coube ao campeonato catarinense (F = 0,75), cujos maiores campeões no período foram Figueirense (7 troféus), Avaí (5), Chapecoense (5) e Criciúma (3). Fechando o pódio está o campeonato paranaense, com F = 0,69. Os maiores vencedores daquela liga foram o Coritiba (9 títulos) e o Athletico (7). Outros quatro campeonatos estaduais aparecem no pelotão intermediário. No Rio de Janeiro (F = 0,68), o Flamengo lidera com 10 títulos, seguido por Fluminense (4), Botafogo (4) e Vasco (3). No campeonato goiano (F = 0,66), os maiores vencedores foram o Goiás (9 títulos) e o Atlético (8). Os campeonatos pernambucano e baianos (ambos com F = 0,65) vêm logo na sequência. Em Pernambuco, despontam o Sport (10 troféus), o Santa Cruz (6) e o Náutico (4). Na Bahia, por sua vez, a hegemonia tem cabido ao Vitória (10 títulos) e ao Bahia (7). Finalmente, as três últimas posições deste ranking experimental de competividade dos estaduais de futebol são ocupadas pelas ligas mineira (F = 0,56), gaúcha (F = 0,54) e cearense (F = 0,44). Em Minas Gerais, brigam pela hegemonia o Atlético (10 troféus) e o Cruzeiro (9). No Rio Grande do Sul, a concorrência é entre o Internacional (11 títulos) e o Grêmio (9). E o Ceará é o estadual menos competitivo de todos, com um amplo domínio do Fortaleza (14 troféus), superando com folga o Ceará (7). Resumo da ópera. Em ordem decrescente, entre os dez maiores campeonatos estaduais do País, o ranking de competitividade ficou assim: 1) São Paulo, 2) Santa Catarina, 3) Paraná, 4) Rio de Janeiro, 5) Goiás, 6) Pernambuco, 7) Bahia, 8) Minas Gerais, 9) Rio Grande do Sul e 10) Ceará. E, para quem já se esqueceu, reitero o meu recado inicial. Torcedores, a classificação acima não tem nada a ver com o nível técnico desses campeonatos, ok? Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
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