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Não está certo
Jurista e escritor José Paulo Cavalvanti Filho aponta três razões pelas quais considera errado o cancelamento das penas de Marcelo Odebrecht
José Paulo Cavalcanti Filho Edição Scriptum A decisão do ministro Dias Toffoli, semana passada (em 22 de maio), cancelando as penas de Marcelo Odebrecht, não veio sozinha. Na mesma penada, também foram absolvidos José Dirceu, Renan Calheiros e Romero Jucá. Poucos dias antes já havia anulado todas as provas contra o mesmo Marcelo e suspendido o pagamento das multas milionárias de sua construtora, a Odebrecht. Empresários e políticos na mesma barca. Sobre essa decisão de agora considero que pode ser vista por, ao menos, três ângulos ‒ o jurídico (1), o ético (2) e o dos comportamentos (3). Em breves linhas, vamos a eles.
- Nossa legislação sobre escutas telefônicas, em parte, baseia-se na norte-americana dos Ware Tips. Com tratamentos iguais em alguns temas, como o de reconhecer como prova gravações autorizadas por juízes. E diferentes, como no caso das Consensual Ware Tips, não autorizadas, que nos Estados Unidos são equiparadas a provas circunstanciais. Em outras palavras, sozinhas, não; mas quando junto de outras provas, e diferentes do Brasil, lá são aceitas.
- Segundo Marcelo Odebrecht, nas colaborações premiadas que fez, o “amigo do amigo de meu pai”, que consta nas escriturações de propinas da Odebrecht, seria o próprio ministro Toffoli ‒ ver Malu Gaspar em O Globo (23/5). Por sua gravidade, essa questão deveria ter sido examinada melhor pelo Ministério Público. Para, no caso de ser improcedente, ficar livre o ministro de acusação tão grave quanto à sua honra. Podendo ainda processar, quem o denunciou, por calúnia (art. 138 do Código Penal). E, acaso procedente, para que se promovesse o devido processo legal por corrupção passiva que, acaso provado, poderia levá-lo à prisão.
- Quanto ao combate à corrupção, antes de tudo, cumpre lamentar que, por mais duas gerações (pelo menos), ninguém terá coragem de enfrentar os poderosos do País ‒ essa conjunção perversa entre elites políticas e grandes empresários que tenham contratos com o governo. Por conta do que está acontecendo, agora. Todos os corruptos livres, e rindo de nós. Alguns, novamente candidatos a cargos públicos; ou fazendo selfies; um deles, condenado a 390 anos de cadeia, dando repetidas declarações na TV; os demais, na vida boa, sem mais preocupações financeiras. Certos de que nunca serão punidos. Prisão é só para pobres, ou gente de quem o Supremo não gosta ‒ assim, acredito, consideram. E quem combateu a corrupção continua penando. Juízes, afastados de seus cargos. Procuradores, cassados. Outros, proibidos de ter acesso às mídias sociais ‒ para evitar fake news, assim justificam Supremo e TSE uma censura que degrada nossa Democracia.
Invasão holandesa, há 400 anos, teve guerrilha na BA, resistência de bispo e impacto global
Esquadra com 26 navios, 500 canhões e 3.400 homens ocupou a Baia de Todos os Santos e em menos de um dia Salvador capitulou
[caption id="attachment_38195" align="aligncenter" width="584"] Reprodução de pintura de Hassel Gerritsz sobre a invasão[/caption]
Texto Estação do Autor com Folha de S.Paulo
Edição Scriptum
Em maio de 1624, uma esquadra com 26 navios, 500 canhões e 3.400 holandeses ocuparam a Baía de Todos os Santos em Salvador, na Bahia. Apesar da resistência inicial, em menos de um dia, a capital da América portuguesa capitulou e foi tomada pelos invasores. Casas foram saqueadas, o governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso e as tropas percorreram a cidade em busca de uma carga valiosa: o açúcar.
A invasão holandesa, que completou 400 anos, acirrou a disputa entre potências da Europa em torno de interesses comerciais. Se tornou uma espécie de guerra santa e o primeiro evento histórico de escala global em solo brasileiro. Além de ser um polo produtor de açúcar, com engenhos na região do Recôncavo, Salvador era um importante centro político da colônia. A cidade tinha entre 10 mil e 12 mil habitantes, com reduzido poder militar. No dia da invasão, contava com pouco mais de 450 homens preparados para proteger a cidade.
Reportagem de João Pedro Pitombo para a Folha de S.Paulo (assinantes) registra a tomada da Capitania da Bahia, em mais um capítulo da disputa entre a Espanha e os Países Baixos, que travaram a Guerra dos 80 anos.
A Espanha retaliou impondo embargos aos holandeses, que tinham uma das mais sólidas frotas comerciais do mundo. Foi suspenso o comércio entre os Países Baixos e Portugal, que desde 1580 fazia parte da União Ibérica. Os holandeses foram então apartados do comércio do açúcar, um dos mais cobiçados e rentáveis na época. A solução encontrada foi eliminar intermediários e buscar o produto na fonte, daí a invasão e ocupação militar na América.
Estrategicamente, a Holanda criou em 1621 a empresa Companhia das Índias Ocidentais e decidiu tomar Salvador, principal porto do Atlântico Sul. Para custear a operação, houve uma espécie de parceria público-privada, parte bancada pela empresa, parte pelas Províncias Unidas dos Países Baixos. A ocupação prosseguiu até 1º de maio de 1625, quando os invasores se renderam com a chegada de 52 navios e 12.563 homens espanhóis.
Os holandeses voltariam ao Brasil em 1630, invadindo Pernambuco e mantendo uma ocupação que durou 24 anos, com marcas mais profundas na história política, social e cultural do Nordeste brasileiro.
Letalidade policial em São Paulo
Sociólogo Tulio Kahn, especialista em segurança pública analisa o resultado da Operação Escudo, na Baixada Santista: 30 mortos até agora
Card link Another linkCuriosidades sobre a histórica passagem de Charles Darwin pelo Brasil
Naturalista britânico se encantou com a exuberância da natureza e indignou-se com a crueldade da escravidão
[caption id="attachment_37901" align="aligncenter" width="889"] Imagem de Charles Darwin sobreposta a um cartão postal do Rio de Janeiro[/caption]
Texto Estação do Autor com Revista Galileu/globo
Edição Scriptum
Em 1832, quando esteve no Brasil, Charles Darwin ficou impressionado com o que viu. Considerado um dos cientistas mais importantes da história por sua teoria evolutiva, ele experimentou diferentes sensações. Ao mesmo tempo em que se encantou com a exuberância da natureza, indignou-se com a crueldade do regime de escravidão vigente à época.
Depois de quase dois meses de viagem a bordo do lendário HMS Beagle, navio no qual passou cinco anos visitando diferentes continentes e coletando informações cruciais para sua teoria, o cientista chegou ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, na costa brasileira.
Reportagem de Marilia Marasciulo para a Revista Galileu (assinantes) destaca impressões de Darwin, registradas em anotações e diários. Entre as curiosidades sobre a empreitada, registrou sua primeira vez sozinho em uma floresta baiana e o contato com uma tempestade tropical. Ao buscar abrigo debaixo de uma árvore com uma copa densa, ficou surpreso ao ver que em poucos minutos “uma pequena cachoeira já descia por seu tronco”. Foi quando, segundo ele, conheceu o verdadeiro significado da chuva. Darwin ficou encantado também com a beleza das flores, a fertilidade do solo e semelhanças entre espécimes tropicais e europeias.
Em Pernambuco, ao mesmo tempo em que se chocou com a sujeira da capital, considerou curioso o recife que forma o porto da cidade. “Duvido que no mundo todo exista outra estrutura natural de aparência tão artificial”, escreveu. Já sua passagem por Salvador coincidiu com o carnaval. O criador da Teoria da Evolução não gostou da tradicional festa brasileira. Na época, era comum entre os foliões atirar bexigas cheias d’água e farinha. “Difícil manter a dignidade”, registrou.