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O presidente Lula virou um ‘pato manco’?
Cientista político Rogério Schmitt discute a crise de popularidade do presidente e as perspectivas para os pouco mais de 21 meses de governo que ele ainda tem
Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
No jargão acadêmico da ciência política, o termo “pato manco” (ou “lame duck”, no original) é largamente utilizado para batizar governantes que chegam ao final de seus mandatos politicamente muito isolados e/ou enfraquecidos.
Um “pato manco” seria, assim, um líder político que, ao mesmo tempo: 1) já não conta mais com maioria no legislativo, 2) se tornou extremamente impopular e 3) sequer consegue influenciar a própria sucessão.
Essa seria uma combinação letal de fatores para quaisquer governantes, que dela deveriam fugir como o diabo foge da cruz. O caso do ex-presidente Joe Biden, nos Estados Unidos, talvez tenha sido um exemplo de manual do que seria um “pato manco”.
Na atual conjuntura brasileira, é legítimo perguntar se o presidente Lula também teria se tornado um “pato manco”, principalmente diante do fato de que os seus índices de popularidade atingiram neste início de ano o seu pior patamar de todos os tempos.
No entanto, não me parece haver sustentação empírica suficiente para tal avaliação. Os diagnósticos de que “o governo Lula já acabou” ou de que o presidente seria um “líder em decadência” têm muito mais de torcida do que de análise.
Comecemos pela popularidade. Na média de todas as pesquisas feitas desde o começo do ano, Lula tem hoje 43,4% de aprovação e 52,1% de desaprovação. É a primeira vez em seus três mandatos que o saldo de aprovação do petista é consistentemente negativo.
Mas estes não são números desesperadores. Estudos comparativos internacionais revelam, por exemplo, que “qualquer governante que tem 45% de aprovação popular seis meses antes do pleito ganha em 78% das vezes e, com 40% de aprovação vence em 58%” (ver o recente artigo do cientista político Christopher Garman).
Em outras palavras, mesmo com o forte declínio nas pesquisas observado nos últimos meses, o presidente Lula ainda se encontra num patamar de relativo conforto. Os reais problemas só começariam se a sua taxa binária de aprovação vier a se aproximar da casa dos 30%. Por outro lado, também não é impossível descartar a hipótese de que a aprovação de Lula volte a subir no futuro, superando a casa dos 50%.
Examinemos agora o quadro sucessório. O presidente Lula também está longe de ser considerado uma carta fora do baralho para as próximas eleições. De fato, ele segue liderando quase todas as pesquisas de intenção de voto para presidente em 2026, tanto no primeiro como no segundo turno. O ex-presidente Jair Bolsonaro está inelegível, e o seu campo político ainda está à procura de um nome que possa substitui-lo na disputa contra Lula.
Existem até pesquisas que mostram que Lula, caso não seja candidato, conseguiria transferir seus votos para nomes como o do ministro Fernando Haddad, por exemplo. Se o petista fosse mesmo um “pato manco”, o seu campo político sequer apareceria bem cotado nas pesquisas eleitorais.
Finalmente, em terceiro lugar, devemos olhar para o poder de agenda do governo Lula diante do Congresso. Os dois primeiros anos de mandato do petista mostraram que a base aliada do governo é amplamente majoritária na votação de itens das pautas econômica, ambiental e social. O isolamento do núcleo de esquerda que compõe o governo aparece quase que exclusivamente nas pautas comportamentais e identitárias.
Um bom termômetro para, neste ano e no próximo, monitorar o apoio legislativo ao governo Lula nos temas estrategicamente mais importantes será a tramitação dos projetos incluídos na atual pauta de prioridades do Ministério da Fazenda. Essa agenda inclui, entre outros, projetos como a regulamentação da reforma tributária sobre o consumo, a reforma tributária sobre a renda, a reforma da previdência dos militares e a limitação dos supersalários no funcionalismo público.
Não tenho nenhuma bola de cristal. Lula pode tanto acabar sendo derrotado em 2026, como também ser reeleito para um quarto mandato. Nesse artigo, procurei somente avaliar se – neste momento do tempo (março de 2025) – o presidente pode realmente ser considerado um “pato manco”. Como vimos, as evidências apresentadas acima não corroboram esta hipótese.
Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkO Brasil tem saída, mas não é pelo populismo
Medidas sancionadas às pressas visando somente interesses políticos e de grandes empresários não contribuem para o crescimento, escreve Roberto Mateus Ordine
Roberto Mateus Ordine, advogado, presidente da Associação Comercial de São Paulo e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum Os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil são cada vez mais acentuados e longe de uma expectativa de melhora do cenário. A política fiscal não corresponde com a realidade do País. Diariamente somos surpreendidos negativamente com medidas populistas impostas pelo governo. Ao contrário do que é proposto pela política fiscal do governo e, principalmente o que tem sido executado, não são garantias do crescimento econômico sustentável e da estabilidade econômica. Pelo contrário, são pautas de populismo econômico que já se mostraram negativas. A alta das taxas de juros, que tem impactado diretamente no desempenho do varejo e, consequentemente, na empregabilidade, é consequência da política de aumento dos gastos públicos e da excessiva taxação, estimulados por essa agenda populista totalmente voltada para o Estado e que reflete negativamente na confiança dos investidores. O populismo é um conceito que possibilita soluções imediatas, mas na prática seus efeitos não se sustentam por muito tempo. Medidas sancionadas às pressas visando somente interesses políticos e de grandes empresários, como a Reforma Tributária, que vai trazer sérios impactos negativos para os pequenos empreendedores no médio e longo prazo, não contribuem para o crescimento por marginalizar a grande massa dos empreendedores, os micro e pequenos empresários abrigados no Simples. Com a Selic em alta, o poder de compra diminui e o varejo perde. Entretanto, manter essa política de juros é fundamental para segurar a inflação e estabilizar a moeda. Mas sem uma política fiscal coesa que vise o longo prazo, o resultado será a recessão. Pagar impostos é uma necessidade para que o Estado possa cumprir suas funções, é um ato de cidadania. Reformas estruturais com contenção de gastos públicos, desburocratização e incentivos para os pequenos empreendedores podem contribuir para o crescimento sustentável da economia. A desaceleração da atividade econômica, refletida pela redução na criação de empregos, além do aumento da inflação (aumento dos preços dos itens essenciais como alimentos, bebidas, medicamentos e combustíveis), tem acontecido em um momento de alto endividamento das famílias, o que impacta negativamente nas decisões de compra fazendo com o que o consumidor fique mais cauteloso diante dos gastos. Resultado disso: a economia não gira. Sou otimista e acredito na melhora do cenário econômico brasileiro, mas isso só será possível por meio de políticas fiscais e econômicas que aumentem a produtividade para tornar a economia brasileira sólida e competitiva. Menos burocracia e menos Estado geram mais competitividade. Infelizmente o que temos visto ultimamente é um retrocesso fiscal e burocrático inaceitável com a sanção da reforma tributária, cujo vetos não a tornaram mais racional. Publicado originalmente na edição de 20 de fevereiro de 2025 do Diário do Comércio Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkMercosul unido na produção de alimentos e energia limpa
Os brasileiros precisam conhecer o movimento de integração das cadeias produtivas de alimentos e energia que está em curso, escreve Cesario Ramalho
Cesario Ramalho, produtor rural, coordenador do Conselho do Agro da Associação Comercial de São Paulo e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira Edição Scriptum Tive a felicidade e honra de ser convidado pela DATAGRO para coordenar um dos painéis do Global Agribusiness Fórum (GAF), em Punta del Este, no Uruguai, no final de janeiro. A iniciativa marcou a internacionalização do evento – já consolidado no Brasil –, que busca tratar dos desafios e oportunidades globais para o agro brasileiro e dos países do Cone Sul. No mesmo dia e local aconteceu a reunião do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), com os ministros da Agricultura do Mercosul, e o que se viu foi uma união e empenho em favor do bloco. Em particular, o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, falou sobre o COP, acordo com a União Europeia e seguro rural. E o anfitrião, o ministro uruguaio Fernando Mattos, uma vez mais se mostrou uma grande liderança em ascensão. A região do Cone Sul (Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai) se fortalece dia a dia como protagonista na produção de alimentos e energia limpa e renovável, cada qual em determinada especialidade. Aqui no Brasil há, em especial, um virtuoso movimento de integração das cadeias produtivas de alimentos e energia que vem promovendo entregas positivas tanto do ponto de vista econômico e social quanto do ambiental. Exemplo é a expansão do etanol fabricado a partir do milho. O resíduo do grão que é utilizado para produzir o biocombustível tem elevado valor proteico e cresce como insumo para alimentação animal. Isso favorece a intensificação da pecuária, o que libera mais hectares para agricultura, diminuindo a necessidade de abertura de novas áreas. Ao mesmo tempo, a industrialização do grão agrega valor à produção primária, gerando mais renda e consequente desenvolvimento para o polo produtor. Este fenômeno é apenas um exemplo do que vem acontecendo. E só tende a crescer. Entretanto, isso precisa ser levado ao conhecimento da população brasileira e da comunidade internacional. Este desafio cabe ao setor produtivo e o GAF vem fazendo sua parte.
Card link Another linkProdução de cimento também mostra queda de investimentos
Para o economista Roberto Macedo, o governo deve aumentar os investimentos públicos, que caíram muito ao longo dos anos
Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum Segundo dados do IBGE, a taxa de investimentos como porcentagem do PIB chegou a números próximos de 20% entre 2008 e 2014, mas caiu muito até 2017, quando bateu em 14,9%, e entre 2021 e 2024, quando esteve próxima de 18% (dados de 2024). Esses dois últimos números são ingredientes do baixo crescimento do PIB no período. Para a economia crescer bem mais, essa taxa deveria ficar próxima de 25%. Muitos investimentos utilizam cimento e a demanda desse produto foi afetada de modo correspondente. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo do dia 3 de março traz este título em reportagem de página inteira: “Consumo de cimento patina e indústria vive década de estagnação”. É interessante constatar que dados dessa reportagem têm movimentos que coincidem com os citados acima sobre a taxa de investimento relativamente ao PIB. Assim, o subtítulo da reportagem foi: “Crise de 2015 a 2018 levou ao fechamento de pelo menos 21 fábricas e fornos; melhor ano foi 2014”, cerca de 10 anos atrás. Além disso a matéria termina com uma nota com este título: “Declínio veio após fase áurea do setor, vivida entre 2008 e 2014”, quando, como visto acima, a taxa de investimento como proporção do PIB foi maior. Esses números também dão suporte ao meu repetido argumento de que o PIB do Brasil precisa crescer muito mais e tenho sugerido uma meta de 5% ao ano para começar a atingir esse objetivo. Mesmo taxas próximas de 3% ao ano não são satisfatórias – ou só o são para quem tem baixas aspirações para o País. Ademais, têm sido conseguidas, vez por outra, pelo efeito do agronegócio e também por medidas populistas, em prejuízo das finanças públicas. O governo faria melhor se aumentasse os investimentos públicos que caíram muito. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
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