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Recrutamento militar no Império era ‘caçada humana’ e mirava ‘vadios’

Os jovens tinham pavor do serviço militar e por isso, quando os recrutadores apareciam, eles fugiam e se escondiam

  Ricardo Westin, da Agência Senado Edição Scriptum   O posto de soldado deixará de ser exclusivo dos homens. No mês passado, o governo federal anunciou que, pela primeira vez na história, as mulheres também poderão se alistar no Exército, na Marinha e na Aeronáutica. As primeiras recrutas entrarão nas Forças Armadas em 2026. O serviço militar feminino, porém, será voluntário. A medida foi anunciada 150 anos depois da assinatura da lei imperial que determinou a primeira grande modernização do meio militar brasileiro. Trata-se da Lei 2.556, sancionada pelo imperador D. Pedro II em 26 de setembro de 1874, que mudou as regras de alistamento no Exército e na Marinha (a Aeronáutica foi criada em 1941). De acordo com a norma, os novos recrutas deixariam de ser “caçados” pelas autoridades. Em vez disso, passariam a ser sorteados entre os jovens de 19 a 30 anos aptos para o serviço militar. A lei de 1874 se originou de um projeto discutido e aprovado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados. O Arquivo do Senado, em Brasília, guarda todos os debates. Os documentos da época mostram que a expressão “caçada humana” era corrente e não configurava exagero. Os jovens tinham pavor do serviço militar. Por isso, quando os recrutadores apareciam, eles fugiam e se escondiam. No entender do senador Manuel de Assis Mascarenhas (RN), a “caçada” era um mal necessário. Ele discursou: — Quem não se arrepiou com os imensos abusos que se praticam na execução das ordens do governo a esse respeito? Eu poderia falar com três anos que tive na prática de chefe de polícia e seis anos de presidente [de província]. Mas, senhores, ponhamos isso de parte. O recrutamento é um meio violento que a necessidade nos obriga a empregar, porque sem ele não teríamos gente nem para tripular a vigésima parte dos nossos navios de guerra. O senador Holanda Cavalcanti (PE) pensava diferente. Para ele, a estratégia era humilhante e abusiva e deveria ser abandonada. Citando o caso da província do Pará, ele afirmou: — A maneira pela qual se faz o recrutamento dos índios é uma verdadeira caçada. Eles, com muito justa razão, tratam de abandonar seus lares para se acolherem aos vizinhos. Grande parte das povoações da província está deserta. Para evitar as fugas, os recrutadores costumavam chegar de surpresa às vilas. [caption id="attachment_38760" align="aligncenter" width="560"] Trecho do projeto que deu origem à lei de 1874: “A designação dos alistados para os contingentes anuais será feita por sorteio público pelas juntas da paróquia”[/caption]   Não se pode culpar os jovens pela repulsa ao serviço militar. As condições de vida no Exército e na Marinha eram desumanas. Da tribuna do Palácio Conde dos Arcos, a sede do Senado imperial, o senador Montezuma (BA) disse: — O prazo longo [eram vários anos de serviço militar] é avaliado como escravidão. Vossas Excelências hão de ter ouvido, quando o indivíduo é recrutado, dizer-se: “Vai ser escravo”. No nosso país, o povo julga que o recrutamento é uma espécie de escravidão. O senador Fernandes Chaves (RS) denunciou: — É preciso mencionar a crueldade com que alguns comandantes castigam os soldados com chibata, chegando a ponto de mandarem dar até que o castigado perca os sentidos e caia por terra. Ainda há pouco morreu um soldado do 6º Batalhão que levou 800 chibatadas. Outro problema foi apontado pelo senador Saraiva (BA): — Senhores, qual é o obstáculo imenso que faz com que os nossos concidadãos tenham horror à vida militar? É que um homem do Pará ou do Amazonas, um pescador que nunca deixou o grande rio, que não sabe o que é frio, de repente é recrutado e marcha para o Rio Grande do Sul, onde vai sofrer os rigores de um clima muito diverso daquele a que está acostumado e lá morre em pouco tempo. Segundo Saraiva, esses longos deslocamentos ocorreram na Guerra do Paraguai (1864-1870) e produziram resultados catastróficos: — O primeiro batalhão, que veio do Pará com 300 a 400 praças, todos índios belíssimos, meses depois só tinha a quarta parte da gente que o compunha. Morreu quase toda. Eis aí por que o alistamento voluntário tem sido difícil. Além dos muitos anos de serviço, dos castigos físicos e da transferência para regiões remotas, pagava-se um soldo irrisório aos soldados, oferecia-se alimentação deficiente e o trabalho era extenuante. O senador Saraiva afirmou que era preciso oferecer algum tipo de vantagem aos soldados para que, assim, o serviço voluntário se tornasse atrativo e não fosse mais preciso recrutar à força. Ele sugeriu: — Se o indivíduo que se apresentasse a servir no Exército pudesse contar com o cumprimento da promessa solene de que ele iria aprender a ler, escrever e contar, isso atrairia muita gente para os corpos, porque a praça teria muito interesse em aprender a ler e escrever de graça, para depois aspirar a lugares superiores. De acordo com o Censo de 1872, nada menos que 82% da população brasileira era analfabeta. O senador Fernandes Chaves fez outras sugestões: — Convinha que se aumentassem os soldos, de modo que guardassem alguma proporção com os salários dos trabalhadores. Convinha, mais, que se garantisse um futuro aos soldados contratados, como se pratica na Inglaterra e em outros países, que se lhes desse direito à reforma [aposentadoria] como têm os oficiais, que se criasse mesmo uma caixa econômica em seu favor. Com estas e algumas outras medidas, se poderia por certo obter muito melhor resultado no engajamento. Quando foi ministro da Marinha, o senador Holanda Cavalcanti afirmou que os cofres imperiais não tinham dinheiro suficiente para melhorar as condições dos recrutas: — Sim, reconheço que o recrutamento [para a Marinha] é um flagelo. Eu queria que não se violentasse ninguém com recrutamento, que tudo fosse feito por contrato. Mas a diferença está no dinheiro. Deem-me [o Senado e a Câmara] o dinheiro necessário para se realizarem os contratos, que eu prometo que não hei de violentar ninguém.   [caption id="attachment_38761" align="aligncenter" width="560"] Pintura de Augustus Earle mostra autoridade perseguindo negros no Império: "vadios" eram alvos preferenciais da "caçada humana" do recrutamento militar[/caption]   A “caçada humana”, contudo, não era generalizada. Escapavam do recrutamento forçado os ricos e também os pobres que estavam dentro da rede de proteção de algum chefe político local. No caso dos ricos, a dispensa ocorria porque as leis do Império não exigiam o serviço militar dos jovens que estudavam ou se dedicavam a determinados tipos de trabalho formal. Eles também tinham a possibilidade de pagar uma quantia em dinheiro ao governo para livrar-se do recrutamento. No caso dos pobres sob proteção, a dispensa ocorria porque quem operacionalizava o alistamento eram as autoridades locais, que evitavam convocar os seus empregados e afilhados políticos e direcionavam a mira recrutadora para os seus adversários. O senador Holanda Cavalcanti discursou: — O recrutamento é recomendado às autoridades policiais ou administrativas e não há mais outras regras para o desempenho dessa comissão do que o arbítrio dessas autoridades. Cada um de nós deve saber o que se pratica no recrutamento, as injustiças e favores que se fazem e o quanto é difícil resistir aos pedidos das amizades em favor de um ou outro recrutado. Cada um de nós sabe que a ocasião de um recrutamento é a ocasião de vinganças miseráveis. É ocasião de se vingar daqueles com quem teve suas quizilas [inimizades] e dizer: “Amigo, para o recrutamento. Você assente praça para a Marinha. Você, para o Exército”. As presas preferenciais das “caçadas humanas” eram os pobres que não serviam a nenhum senhor poderoso. Como muitos deles eram desempregados ou faziam serviços informais ou esporádicos, eram considerados “vadios”. Normalmente se tratava de escravizados que haviam conseguido a alforria. No Império, nem mesmo a liberdade da população negra liberta estava 100% garantida. O senador Fernandes Chaves disse que muita gente de bem evitava alistar-se na Exército e na Marinha porque não desejava conviver com aquelas pessoas de má índole: — Cumpre enobrecer a profissão de soldado, não colocando nas fileiras, como até aqui tem sucedido, homens que são quase sempre as fezes da sociedade. Na avaliação do senador Bernardo Pereira de Vasconcelos (MG), o serviço militar era uma boa forma de corrigir aquelas “fezes da sociedade”: — Considero a lei do recrutamento que atualmente vigora no Império uma lei econômica, que tem feito muitos benefícios, porque não só nos tem dado soldados para o Exército, mas tornado trabalhadores muitos homens vadios. Como primeiro-ministro do Império, o senador Visconde de Paraná (MG) avaliou que, considerando a composição social das Forças Armadas, estava fora de cogitação abolir os castigos corporais: — A nossa legislação sobre o recrutamento excetua a maior parte das classes que se dão ao trabalho e à indústria, de sorte que o recrutamento recai quase exclusivamente sobre vadios, réus de polícia e mal procedidos. Ora, num Exército que pela maior parte assim se compõe e que talvez seja vantajoso que assim se componha, não é prudente abolir os castigos corporais. Abolindo-se esses castigos, não se poderia manter a disciplina. O historiador e professor Vinícius Campelo dos Santos, autor do livro A Revolta dos Rasga-Listas: a subversão do recrutamento militar na província de São Paulo (Dialética Editora), explica que foi nessa época que a palavra “praça” entrou no vocabulário militar: — Como esses vadios ficavam nas praças, onde eram capturados para prestar o serviço militar, os soldados rasos, aqueles sem graduação, passaram a ser conhecidos como “praças”. É um termo que se usa até hoje. Os soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, foram batizados de “pracinhas”. De acordo com Campelo dos Santos, o recrutamento militar forçado no Império era utilizado pelo poder público, no fim das contas, como instrumento de controle social: — A população negra, fosse ela escravizada ou liberta, era considerada perigosa. Temiam-se tanto ações criminosas individuais que ameaçassem as elites quanto insurreições ou levantes coletivos que ameaçassem a segurança do Império. O recrutamento forçado da população negra livre era uma forma de mantê-la constantemente vigiada e subjugada. [caption id="attachment_38762" align="aligncenter" width="560"] Trecho do documento original da Fala do Trono de 1874 em que D. Pedro II agradece ao Parlamento a aprovação da lei do sorteio militar[/caption]   Além da fuga pura e simples, os jovens recorriam a outros expedientes na tentativa de escapar do recrutamento militar. Um deles era o casamento. Nas discussões do projeto que daria origem à lei do sorteio militar de 1874, o ministro da Guerra, senador Junqueira (BA), pediu que essa isenção fosse retirada da legislação imperial: — Se estabelecermos como isenção os casamentos, teremos de ver muitos deles prematuros e infelizes. Conta-se que durante a Guerra do Paraguai muitos moços, para se livrarem do recrutamento naquela época, casaram-se e, na pressa de contraírem esse enlace, não escolhiam muito, unindo-se até alguns a mulheres que tinham o duplo da sua idade, o que deu causa a muitas infelicidades. Junqueira também pediu que se acabasse com a isenção concedida aos estudantes: — Com esta vasta rede de isenções, neste país ninguém deixará de ter uma matrícula de qualquer instrução secundária. Ele prosseguiu nas críticas às isenções exageradas: — Para fazermos 2 mil recrutas, precisamos mandar prender dez vezes esse número, isto é, cerca de 20 mil cidadãos, para poder depois proceder à apuração.   [caption id="attachment_38763" align="alignleft" width="326"] Joaquim de Castro, voluntário na Guerra do Paraguai[/caption] A diferença de tratamento entre ricos e pobres no recrutamento militar era gritante e provocava diferentes reações. Havia os que concordavam com ela, como o deputado e futuro senador Manuel Francisco Correia (PR): — Senhores, para fazer a guerra, necessita-se tanto de sangue como de dinheiro. Sobre o rico, pesa mais o segundo imposto. Sobre o pobre, carrega mais o tributo de sangue. Mas isso está na natureza das coisas. “Imposto de sangue” era uma forma comum de se referir ao serviço militar. O senador Marquês de Paranaguá (PI), por sua vez, discordava do tratamento desigual: — Não há igualdade nem proporcionalidade nesse imposto, de todos os mais oneroso, no imposto de sangue, quando um paga o tributo com o sangue e a sua vida e outro com o supérfluo da sua renda. O senador Holanda Cavalcanti também criticou: —  É uma infração flagrante da Constituição, que estabelece que todos hão de contribuir para as necessidades do Estado na proporção dos seus haveres. Digam-me todos os que estão aqui sentados e também na Câmara dos Deputados de seus filhos são recrutados. Todos os senhores não pediram alguma vez [a dispensa de seus filhos]? A Constituição não nos deu esse privilégio, não diz que os filhos dos senadores e dos deputados não são recrutados. Ele continuou: — Esses pedidos e obséquios querem dizer que se falta à justiça, porque o que se dispensa em uns recai sobre outros. Eis a marcha do recrutamento! Depois de milhares de violências, vem só o desgraçado que não tem nenhum padrinho. A Constituição diz: “Todos serão obrigados a servir o país”. E vós dizeis: “Todos, menos estes e aqueles”. Isto é, todos os desgraçados, exceto os ricos e poderosos. Esses se divertirão em dar chibatadas nos pobres que se expõem aos perigos da classe militar. [caption id="attachment_38764" align="alignleft" width="292"] Livro de 1875 sobre a lei do recrutamento mostra como devem ser anotados os casos em que os jovens ficam isentos de prestar o serviço militar[/caption] A preocupação com o recrutamento militar vinha desde o nascimento do Império. Como o Brasil praticamente não dispunha de combatentes próprios, D. Pedro I precisou recorrer a soldados mercenários da Europa para travar as guerras da Independência, na década de 1820. Várias discussões a esse respeito se deram ao longo das décadas seguintes no governo, no Parlamento e no meio militar. O Império, inicialmente, resistiu a fortalecer o Exército e “militarizar” a sociedade, por temer que, tal qual nas repúblicas vizinhas, surgissem líderes militares carismáticos capazes de provocar revoluções contra o poder nacional. A insuficiência de soldados se tornou gritante quando explodiu a Guerra do Paraguai. No princípio, as tropas brasileiras contaram com o reforço dos chamados voluntários da pátria, mas a adesão deles não se sustentou ao longo da guerra. O Brasil precisou recorrer a escravizados. Foi em 1869, em meio à Guerra do Paraguai, que uma comissão formada por generais e jurisconsultos apresentou à Câmara dos Deputados o anteprojeto que daria origem à lei de 1874, abolindo as “caçadas humanas” e estabelecendo a convocação militar por meio de sorteio.         [caption id="attachment_38765" align="aligncenter" width="497"] Jovens assistem a sorteio militar, feito com bolinhas numeradas, em 1918[/caption]   O ministro da Guerra, senador Junqueira, avaliou que o sorteio enfim garantiria a abolição dos privilégios e das injustiças no recrutamento: — Rendeu-se homenagem ao princípio da igualdade. Agora ficaremos livres de um recrutador arbitrário. Há de ser o nosso direito pleiteado perante as mesas inscritoras dos nomes, haverá os recursos estabelecidos por lei e finalmente ainda apelaremos para o juízo de Deus, que é o juízo da sorte. Esse juízo é imparcial. O deputado Araújo Lima (CE) fez graça: — Não se deve anunciar com pompa os nomes dos sorteados, porque isso é o mesmo que espantar a caça. Muitos outros, porém, não viram o sorteio com bons olhos. O senador Pompeu (CE) o chamou de “loteria de sangue”. Outro crítico foi o senador Saraiva. Segundo ele, já que o sorteio seria conduzido pelas autoridades locais, elas poderiam manipular o processo e decidir de antemão o nome dos sorteados: — As juntas de paróquia e do sorteio cometerão fraudes com o mesmo sangue frio e com a mesma indiferença com que hoje as mesas eleitorais escrevem atas falsas e negam a identidade do votante. No interior, só serão sorteados os filhos dos adversários ou dos desvalidos. E depois o sorteado será procurado como criminoso e teremos de ver reproduzida em muitos lugares a caçada de homens, mas de homens legalmente designados para o serviço militar. Para comprovar a tese de Saraiva, o senador Barão de São Lourenço (BA) contou uma história: — Vossas Excelências não fazem ideia de se há de fazer por esses lugares [do interior] o sorteio. Há de dar-se o caso do sorteio que houve em uma certa embarcação que partiu daqui para a Europa nos tempos coloniais. A fome exigiu que se lançasse dentro de uma urna os nomes dos passageiros e da tripulação a fim de sortear-se um para ser comido. A sorte designou o único e pobre caboclo que ia bordo! Mas ele, que já se havia refugiado no alto de um mastro, disse: “Eu bem sabia que a sorte havia de cair em mim, mas os senhores não me hão de comer”. E lançou-se ao mar e desapareceu. Após de uma longa risada, ele prosseguiu: — Até aqui o recrutamento dava lugar a repetidos abusos e violências, mas em algum caso o abuso havia de ser punido. Porém, o sorteio sem nenhuma garantia a mais pode ser falseado impunemente. [caption id="attachment_38766" align="alignleft" width="386"] Notas do jornal O Cearense noticiam casos de "rasga-listas" no interior da província de São Paulo: pipocaram pelo Império motins contra a lei do sorteio militar[/caption] Na Fala do Trono do encerramento do ano legislativo de 1874, o imperador D. Pedro II agradeceu ao Senado e à Câmara a aprovação da lei do sorteio militar. Apesar das expectativas de modernização do meio militar, a lei não saiu do papel. O sorteio foi combatido tanto por ricos quanto por pobres. Os ricos boicotaram a lei de 1874 porque ela reduziria o seu poder de decidir quem seria e quem não seria recrutado para as Forças Armadas. — E a produção do café estava no auge. Os fazendeiros não queriam perder a sua mão de obra para o Exército e a Marinha — acrescenta o historiador Vinícius Campelo dos Santos. Os pobres que estavam inseridos nas redes de proteção clientelística e não se enquadravam na classe dos “vadios”, por sua vez, temiam passar a ser recrutados pelo novo sistema e reagiram com violência. Pipocaram por todo o império os “rasga-listas”, motins que tomavam à força das autoridades as listas com os nomes dos possíveis recrutas e as destruíam. As “caçadas humanas” continuaram ocorrendo até os primórdios da República. Em 1908, uma lei foi aprovada prevendo novamente o sorteio militar. O primeiro sorteio ocorreu apenas em 1916, com a presença do presidente Venceslau Brás. O sorteio foi extinto em 1940, quando se adotou o atual modelo, pelo qual todos os brasileiros, ao atingir a maioridade, precisam apresentar-se para a prestação do serviço militar obrigatório.

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Debates se afastam cada vez mais da discussão de propostas de governo

Reunião semanal do Espaço Democrático analisou como os conflitos e as ofensas tomaram lugar das ideias

[caption id="attachment_38757" align="aligncenter" width="559"] Sérgio Rondino: "As propostas de governo atraem pouco a atenção dos espectadores, que acabam se interessando mais por conflitos e bate-bocas"[/caption]   Redação Scriptum   O bizarro episódio ocorrido no debate de candidatos à Prefeitura de São Paulo no último domingo (15), quando José Luiz Datena (PSDB) deixou o seu púlpito para golpear Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeira, foi o pano de fundo para a o tema da reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD – nesta terça-feira (17). “Para que estão servindo, principalmente, os debates eleitorais?”, perguntou o jornalista Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da fundação, antes de apresentar uma série de eventos ocorridos em debates desde a redemocratização. “Infelizmente, para a formação política do eleitor brasileiro, os debates têm servido menos do que deveriam. Desde que começaram a ser exibidos pela TV - e apesar dos esforços das emissoras - as propostas de governo atraem pouco a atenção dos espectadores, que acabam se interessando mais por conflitos e bate-bocas. Já para os partidos e candidatos, debates acabam sendo muito úteis para produzir material de campanha na televisão e, agora, os cortes para as redes sociais”, disse o jornalista, que foi mediador de vários debates, um dos quais lembrado até hoje, quando Paulo Maluf e Marta Suplicy, candidatos à Prefeitura de São Paulo, se enfrentaram na Rede Bandeirantes em 2000 e, aos berros, um mandou o outro calar a boca. Para embasar as análises, além da discussão entre Maluf e Marta, Rondino exibiu mais quatro vídeos: o bate-boca entre Maluf e Leonel Brizola, então candidatos a presidente da República, em 1989; um trecho das falas de Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, no debate do segundo turno da eleição presidencial e o depoimento do jornalista Armando Nogueira, à época diretor de jornalismo da TV Globo, sobre como subordinados seus manipularam a edição compacta apresentada no Jornal Nacional para favorecer Collor; e também uma discussão de 1998 entre Mario Covas e outra vez Maluf, candidatos ao governo de São Paulo, em debate na Rede Bandeirantes que também teve Sérgio Rondino como mediador. Rondino explicou como as redes de televisão buscam forçar os candidatos a discutir temas de gestão pública, que não despertam muito interesse do telespectador médio, que volta mais sua atenção para os conflitos e a troca de ofensas entre os candidatos, viés que começou a ser explorado na campanha paulistana por Pablo Marçal, no que foi seguido por quase todos os outros. Marçal cunha apelidos para os seus adversários e questiona não suas propostas de governo, mas episódios da vida privada de cada um.   [caption id="attachment_38758" align="aligncenter" width="560"] Reunião semanal de colaboradores do Espaço Democrático[/caption]   O cientista político Rubens Figueiredo lembrou que, apesar da audiência da televisão aberta ter caído bastante com a popularização das redes sociais, ela ainda é a melhor ferramenta de campanha, basta ver a evolução das intenções de voto em Ricardo Nunes, atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, depois que o horário eleitoral começou. Ele acredita que os debates são restritos a um público mais escolarizado e àquele eleitor que já decidiu seu voto e lembra que o nível dos debatedores era muito melhor no passado. “A qualidade da classe política mudou muito, até os escândalos parecem diferentes: antes era um romance entre dois ministros de Collor ao som de Besame Mucho, hoje é uma avacalhação só”. O gestor público Januario Montone apontou o que considera um problema: o excesso de debates. “São muitos e em sequência, o que acaba desvalorizando o produto”, disse. “Na campanha presidencial dos Estados Unidos, por exemplo, são apenas três”. O cientista político Rogério Schmitt lembrou que o formato dos nossos debates foi copiado da campanha eleitoral americana, que tem apenas dois partidos e, portanto, dois candidatos debatendo, o que qualifica a conversa. “A legislação brasileira obriga que apenas candidatos de partidos que tenham uma bancada de no mínimo cinco deputados federais participem, mas o partido do Pablo Marçal, por exemplo, não tem e ele está lá”. Isto sugere que, conhecendo o perfil do candidato do PRTB, as emissoras talvez estejam estão mais preocupadas com a audiência que com a qualificação do debate. Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, além dos cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, do jornalista Sérgio Rondino e do gestor público Januario Montone, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, o sociólogo Tulio Kahn, o gestor público Júnior Dourado, o advogado e empresário Helio Michelini e o jornalista Eduardo Mattos.

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Eleição é tema de duas palestras no Espaço Democrático

Cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt falaram ao grupo de consultores da fundação

  [caption id="attachment_38713" align="aligncenter" width="560"] "Ele representa o que as pessoas querem ser, um cara que veio de baixo e se transformou em empresário de sucesso", disse Rubens Figueiredo sobre Pablo Marçal,.[/caption]   Redação Scriptum   As eleições foram o principal tema de debate da reunião semanal do Espaço Democrático, a fundação para estudos e formação política do PSD, nesta terça-feira (3). O cientista político Rubens Figueiredo falou sobre a influência das redes sociais e do algoritmo em sucessivas eleições no Brasil e de um novo fenômeno eleitoral nascido dessas tecnologias - o candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, que tem crescido rapidamente nas pesquisas de intenção de voto apenas com o uso de redes sociais. Outro cientista político, Rogério Schmitt, mostrou dados sobre como o sistema político brasileiro favorece os chamados incumbentes – aqueles que já estão no exercício de um cargo legislativo – na disputa eleitoral, e que, no entanto, esse favorecimento não tem impedido a renovação do Congresso nas últimas eleições. Figueiredo fez uma análise do sucesso que Pablo Marçal vem fazendo na campanha eleitoral, seja por meio da repercussão de sua performance nos debates e sabatinas, seja pelo conteúdo postado em suas redes sociais, que atraem dezenas de milhares de seguidores. Antes de apontar as razões pelas quais acredita que Marçal tem sido bem-sucedido nesta etapa inicial da campanha paulistana, o cientista político enfatizou uma combinação de eventos contemporâneos que favorece a ascensão de personalidades deste tipo. “A sociedade está cansada e sem paciência para os aspectos institucionais da vida, há a ascensão da direita em todo o mundo, grandes mudanças nas relações de trabalho, há grande insegurança sobre o futuro e somos bombardeados pelas redes sociais”, disse, destacando que o Brasil é o segundo que mais usa o WhatsApp no mundo e o terceiro que mais utiliza o Instagram. O cientista político elencou algumas das características que fazem de Pablo Marçal um fenômeno na campanha: “Ele representa o que as pessoas querem ser, um cara que veio de baixo e se transformou em empresário de sucesso”, disse. “Além disto, é um rico que usa uma linguagem simples, é criativo – consegue cunhar expressões e colar apelidos nos concorrentes – e domina as redes sociais como ninguém”. O debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pela TV Gazeta teve a maior audiência da história da emissora – 1,4 ponto em média e pico de 2,5 (cada ponto representa 73 mil domicílios ligados). Parte deste resultado se deve à participação de Marçal, que tem 3,5 bilhões de marcações no TikTok, 12 milhões de seguidores no Instagram e, segundo Figueiredo, já é mais forte que Jair Bolsonaro na capital paulista. “Ele tem vida própria, representa algo para os eleitores”, define.   [caption id="attachment_38714" align="aligncenter" width="560"] Rogério Schmitt: taxas de renovação parlamentar no Brasil talvez sejam as maiores entre todos os países democráticos[/caption]   A força dos incumbentes Em sua fala, Rogério Schmitt abordou uma questão que afeta em especial as eleições proporcionais: o sistema político brasileiro favorece as chances de reeleição de vereadores, deputados e senadores que já estão no exercício do cargo, dificultando a renovação? Schmitt disse que os estudos apontam que a variável chave na predição das taxas de reeleição e renovação parlamentar é o sistema eleitoral do país estudado. Por motivos diferentes, as maiores taxas de reeleição são observadas onde se adota ou o chamado voto distrital ou a representação proporcional de lista fechada, aquela na qual os partidos políticos definem quem são os candidatos em uma lista e os eleitores votam na legenda. Segundo ele, as taxas de renovação são maiores em países que, como o Brasil, adotam a representação proporcional de lista aberta, ou seja, os eleitores votam nos candidatos de sua preferência. Para dar um exemplo prático da teoria da ciência política, ele mostrou um gráfico sobre a taxa de reeleição para o Congresso dos Estados Unidos entre 1964 e 2022. Neste período, a taxa de renovação média foi inferior a 10%. No Brasil, ao contrário, em média um a cada dois deputados não se reelege. “A taxa de renovação da Câmara Federal, em 2022, foi de 44,24%”, apontou o cientista político. Mas houve casos como o de 1990, quando a renovação foi de 61,82%, percentual que não se repetiu outra vez. Segundo Schmitt, “as taxas de renovação parlamentar no Brasil talvez sejam as maiores entre todos os países democráticos e isso se deve, fundamentalmente, à combinação entre lista aberta e circunscrições eleitorais de grande magnitude, o que torna extremamente incertas as chances de reeleição de deputados e vereadores”. Ele acredita, ainda, que as mudanças recentes no financiamento de campanhas e na alocação de emendas orçamentárias ainda não parecem ter produzido efeitos significativos sobre as taxas de reeleição e renovação. Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, além dos cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, o economista Luiz Alberto Machado, o sociólogo Tulio Kahn, a secretária do PSD Mulher nacional, Ivani Boscolo, o gestor público Júnior Dourado e os jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da fundação do PSD.

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Eleição não vai mudar percepção americana sobre o Brasil

Doutor em Relações Internacionais, Daniel Buarque fez palestra na fundação de estudos e formação política do PSD

[caption id="attachment_38688" align="aligncenter" width="560"] "Os americanos nos veem como um parceiro pouco confiável, porque percebem que há uma postura brasileira anti-hegemonia americana", disse Daniel Buarque.[/caption]   Redação Scriptum   Seja qual for o resultado da polarizada eleição americana, a imagem do Brasil nos Estados Unidos permanecerá inalterada. A percepção em relação ao País continuará sendo muito positiva quando ele for visto por meio das manifestações culturais ou como um bom destino de férias; mas o Brasil manterá o status de ator de segunda linha nas discussões dos grandes temas internacionais. Quem defende essa tese é o jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP Daniel Buarque. Em palestra na reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política para o PSD –, Buarque, que é editor-executivo do portal Interesse Nacional, fez uma análise dos eventuais impactos, para o Brasil, de uma vitória do republicano Donald Trump ou da democrata Kamala Harris na eleição de novembro. Ele é autor do livro Brazil, um país presente, para o qual fez mais de 100 entrevistas com a comunidade de política externa americana – diplomatas, jornalistas, acadêmicos e integrantes de think tanks republicanos e democratas para entender a percepção sobre o País. Veja em vídeo os principais trechos da entrevista:  

  “Uma das questões centrais é que os americanos enxergam o Brasil como um país que está na sua periferia, que não é uma prioridade, mas que poderia ser um parceiro importante para representar os interesses americanos na América do Sul”, diz ele. “Os americanos também nos veem como um parceiro pouco confiável, porque percebem que há uma postura brasileira anti-hegemonia americana”. Outro ponto captado por Buarque no estudo da percepção americana é o de que o Brasil é um país que não toma partido, que não escolhe um lado. “Essa postura de neutralidade da diplomacia brasileira é vista de forma crítica, o que atrapalha a projeção mais forte do Brasil no mundo: um país que não toma partido não pode ser líder”, afirma. Buarque avaliou os impactos do resultado da eleição americana para o Brasil. Segundo ele, se a disputa fosse hoje é provável que Kamala Harris ganhasse por uma pequena margem. E, no caso de uma vitória dela, temas como direitos humanos, a crise climática e a democracia, todos de interesse do País, seriam prioritários. Já no caso de uma vitória de Trump, a orientação seria de viés contrário: “Ele é contra as regulamentações ambientais rigorosas, por exemplo”. Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, com perguntas para Buarque, os cientistas políticos Rogério Schmitt e Rubens Figueiredo, os economistas Roberto Macedo e Luiz Alberto Machado, o sociólogo Tulio Kahn, o gestor público Januario Montone, a secretária do PSD Mulher nacional, Ivani Boscolo, e os jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, coordenador de comunicação da fundação do PSD.

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