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Viva Zé Cláudio!
José Paulo Cavalcanti, jurista e escritor, homenageia um amigo querido: Zé Cláudio
José Paulo Cavalcanti Filho, jurista e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras Edição Scriptum Dizia Fernando Pessoa (no Desassossego), “Ah, quem me salvará de existir? Não é a morte que quero, nem a vida: é aquela outra coisa que brilha no fundo da ânsia como um diamante possível, numa cova a que se não pode descer”. O que vem a propósito do amigo querido Zé Cláudio, que agora nos deixou. E começo por lembrar um belo texto seu, publicado em 2014 (Lugar de Morrer), em que diz: “O lugar de morrer tem importância fundamental para nosso sossego. Felicidade, segundo Sto. Agostinho, só no outro mundo. Morrer, se morre em qualquer lugar, dirão. O que interessa é o lugar de viver, e viver bem. Mas eu direi no entanto que só quem sabe o lugar de morrer, quem já escolheu onde terminar os seus dias, onde ficar até que a morte nos separe, demonstra maturidade para viver”. Seguindo nessa trilha vale dizer que Zé Cláudio, nascido em Ipojuca, rodou pelo mundo e veio baixar âncora em Olinda. Só que, no coração, nunca saiu de Ipojuca. Ou, talvez, Ipojuca é que nunca saiu dele. E pela vida foi sempre a mesma criança, na venda que era do pai, curioso com o mundo que viu com seus próprios olhos. Como escrevo mais de uma semana depois de sua perda, e tantos já se manifestaram, prefiro fazer diferente. Lembrando nosso grande poeta Marcelo Mario de Melo (se esquecer o “de”, ao falar seu nome, ele briga comigo), no seu Manifesto de Esquerda Vicejante (tive a honra de escrever o prefácio desse grande livro), em que diz: “Devemos lembrar nossos mortos não pelas chagas de seus martírios, mas por seus jeitos de rir”. E assim farei, agora, lembrando um Zé Cláudio que continua vivo em nossos corações. Oiti coró. Era a única pessoa do planeta que gostava dessa fruta estranha, com gosto de areia. Um dia me deu um pé dizendo que, na sua casa, não frutificava. Pediu que plantasse em Gravatá. Como ouvi dizer que certas plantas só funcionam com um outro pé do lado, para polinizar, comprei mais 5 e fiz pequena floresta. Engraçado é que não se pode tirar o fruto no pé, tem que esperar apodrecer e cair. Assim fiz, sempre. E mandava, para ele, cestas de frutas quase podres. Como agora já não tenho para quem mandar os tais oitis corós, caso alguém aprecie, por favor me forneça endereço que ao menos tenho destino para a produção. Poeta. Vivia recitando, com graça, um poema horroroso, Que fim levou Doroteia? Louvando o órgão reprodutor de certo cortador de cana que morava perto de Ipojuca. Há quem entenda? ‒ Usina, só Catende Caminhão, 13 de maio Mais seu Júlio no charuto Benvenuto no caraio. Yevgeny Yevtushenko. Chegou para uma visita na sua casa, em Olinda. Conversaram em espanhol, que o romancista russo aprendeu quando viveu na Ilha (1964), redigindo roteiro para filme de propaganda – Soy Cuba. No meio do encontro levantou e, na parede da sala bem limpinha, escreveu com aquele carvão de marcar os quadros: – La felicidad es el sufrimiento que se cansó. E continuaram na prosa. Depois que saiu, Zé Cláudio repintou a parede com cal branca. Sem mais registros, afora lembranças, daquele dia mágico em que o autor de Autobiografia precoce passou pela casa. 71 anos. Quando fez 71 anos respondeu pergunta de um jornalista (O que é fazer 71 anos?) com as duas primeiras frases dessa décima. Sem nem perceber que tinham a métrica das cantorias. Completei os versos no próprio jornal e mandei, para ele, – “71 é desgraça A pior coisa do mundo” Nosso corpo vagabundo Se arreia em qualquer praça. Mas Zé Cláudio sua graça Atente ao que vou dizer Se alternativa é morrer Ir para lugar nenhum Pior que 71 Na verdade é nem fazer. E ainda bem que nos deixou só 20 anos depois disso. Caetano Veloso. Ligou Caetano e marcaram encontro, na sua casa, às 3 da tarde. Dando-se que, como todo bom baiano, chegou tarde, já escuro, e perguntou: – Zé Cláudio está? Cícera, que fazia uma sopa, respondeu sem maiores preocupações: – No dentista. – Posso esperar por ele aí dentro? – Claro que não. Uma resposta natural, para ela. Pouco antes, por exemplo, não deixou entrar Chico Buarque. Só que Chico se conformou logo. Pedindo apenas o acesso, à casa, para uma amiga que precisava fazer suas necessidades. – Ela que faça aí fora mesmo. O músico decidiu partir. Só que teve a infeliz ideia de não ficar com aquele táxi no qual chegou. Já se preparando para descer o ladeirão, com risco até de ser assaltado, insistiu: – A senhora, pelo menos, diz a ele que estive aqui? – Digo sim. Desconfiado, e sem certeza de que seu recado seria mesmo transmitido por aquela mulher tão estranha, fez uma última pergunta: – A senhora desculpe mas sabe quem sou? – Sei. É Caetano Veloso. Mas prefiro Tarcísio Meira. Já eu, diferente de Cícera, e mais que Caetano, Chico, ou Tarcísio, prefiro mesmo é Zé Cláudio. Sem nenhuma dúvida. E, tendo começado com Pessoa, encerro também com ele (igualmente no Desassossego): “A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final”. Foi agora. O fim da frase e de sua bela trajetória. É pena. Saudades. Viva Zé Cláudio. P.S. Bom Natal, para todos. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkNovo exame de sangue revela a idade real dos órgãos
Teste pode medir a exata idade de onze órgãos importantes, entre os quais coração, rins, cérebro, pulmões e fígado
[caption id="attachment_37652" align="aligncenter" width="776"] Com base em grupos de proteínas no sangue, teste mede a exata idade de onze órgãos importantes[/caption]
Texto Estação do Autor com DW
Edição Scriptum
Curiosamente, alguns órgãos podem envelhecer mais cedo ou mais tarde que outros. Ao longo da vida, isso não acontece de forma sincronizada. Se antes, para determinar a idade real dos órgãos, era necessário extrair custosas amostras de tecido, hoje a medicina pode realizar um exame de sangue simples e barato para isso.
O teste foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Stanford e, com base em grupos de proteínas no sangue, mede a exata idade de onze órgãos importantes, como coração, rins, cérebro, pulmões e fígado. Reportagem de Alexander Freund para o site DW revela como o novo exame amplia as opções de tratamento preventivo para doenças que podem ser desenvolvidas muito antes do órgão desgastado se tornar um problema.
O envelhecimento dos órgãos depende de vários fatores. Os com metabolismo mais acelerado, como coração, fígado ou rins, geralmente são expostos a um estresse maior e podem envelhecer mais rapidamente. Já os órgãos supridos com sangue têm um desgaste mais lento. As condições ambientais também influenciam o processo. Pele e pulmões expostos à forte radiação UV, fumaça ou poluição envelhecem mais rápido. Além da genética, a capacidade regenerativa também desempenha um papel importante. O sistema nervoso central, por exemplo, se regenera de maneira limitada.
Ao analisar dados de 5.676 adultos, pesquisadores descobriram que quase 20% da população apresenta envelhecimento mais acelerado de um órgão. O estudo mostrou ainda que o envelhecimento precipitado aumenta o risco de mortalidade de 20% a 50%. Pessoas com um coração envelhecido têm um risco 250% maior de sofrer insuficiência cardíaca. Também foi demonstrado que o desgaste acelerado do cérebro e dos vasos sanguíneos é responsável pela rápida progressão da doença de Alzheimer.
Entretanto, o cuidado com a preservação dos nossos órgãos vai além dos avanços da medicina de alta tecnologia. Um estilo de vida saudável com atividade física regular, dieta equilibrada, baixo consumo de álcool e tabaco, dormir o suficiente e minimizar o estresse são medidas que podem manter a vida dos nossos órgãos em forma.
Card link Another linkA cidade que ainda celebra a Saturnália, festa romana que antecedeu o Natal
Chester, na Inglaterra, comemora anualmente o ritual pagão da Saturnália, que homenageia o deus romano da agricultura e colheita
[caption id="attachment_37648" align="aligncenter" width="640"] A pequena Chester: ritual da Saturnália é tradicional. [/caption]Texto: Estação do Autor com BBC News
Edição: Scriptum
Em todo o mundo, o mês de dezembro é marcado por festividades como o Natal para os cristãos e o Chanucá para os judeus. Na pequena cidade inglesa de Chester, a comemoração é o ritual pagão Saturnália, que homenageia Saturno, o deus romano da agricultura e da colheita. A festa tem origem na Roma Antiga e confirma, assim, a ligação que a Grã-Bretanha tem com seu passado romano.
Chester já foi uma cidade romana chamada Deva Victrix. No início de dezembro, como acontece há dois mil anos, as ruas do lugar foram ocupadas pelo festival Saturnália. Reportagem da BBC News mostra essa tradição marcada por festas e procissão à luz de tochas ao redor da muralha medieval que cerca o município inglês.
"Chester é bem conhecida por sua herança romana e os moradores locais são muito orgulhosos disso", diz Cellan Harston, gerente de uma empresa de turismo que ajuda a organizar o desfile da Saturnália na cidade. Embora os romanos aderissem a regras sociais rígidas e todos tivessem o seu lugar na sociedade, durante a Saturnália eles se esqueciam dessas regras e até pessoas escravizadas podiam participar e se divertir.
Caroline Pudney, professora de arqueologia na Universidade de Chester, observa que as celebrações modernas da Saturnália não são exatamente como as romanas. Porém, há um momento que liga intrinsecamente o desfile ao antigo império, quando um ator reproduz um discurso do imperador Domiciano. "Não se engane, nós romanos ainda estamos aqui, em algumas épocas do ano vocês nos verão marchando novamente pelo nosso forte", diz ele à multidão reunida.
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