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3. Como surgiu a desigualdade, segundo Rousseau

Nesta obra, dividida em duas partes, o filósofo e pensador usa a passagem do estado natural para o estado civil, ou seja, o estado social que então conhecemos, para mostrar como surgiu a desigualdade entre os homens.

Outro livro fundamental de Rousseau é A origem da desigualdade, cujo título completo é o seguinte: Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, publicado em 1755. Indica que começou a meditar sobre o tema dois anos antes, inspirando-se numa proposição da Academia de Dijon, que abrira concurso tendo-a como tema. Dessa entidade, merecera prêmio anterior, relacionado a assunto diferente.

Para Rousseau, quando se instaurou a propriedade, à qual se atribui a desigualdade, outros passos deveriam ter sido dados naquela direção, que se propôs investigar. Nessa investigação, parte da suposição de que existiriam dois instintos básicos, presentes no “homem natural”, isto é, anterior à sociedade. O primeiro seria o instinto de conservação. O segundo, conforme suas próprias palavras, “nos inspira uma repugnância natural ao ver perecer ou sofrer qualquer ser sensível, principalmente os nossos semelhantes.” No estado de natureza não se poderia falar em virtudes ou vícios. Essa avaliação é posterior e nos permite, a partir da presença daqueles instintos, verificar que o homem é bom por natureza, tem uma inclinação social sadia e a desigualdade não os afeta. Foi a vida em sociedade que alterou esse quadro.

A passagem do estado de natureza para a vida em sociedade seria um processo espontâneo. Primeiro agruparam-se para viver em comum, os que tinham a mesma proveniência biológica. Nascem as famílias que, ainda espontaneamente, acabam por aproximarem-se. Dessa proximidade é que se instalam os germes da desigualdade. Sua descrição da vida selvagem é algo de róseo e bucólico. Exemplo: “Jovens de diferentes sexos moram em cabanas vizinhas, o relacionamento passageiro, exigido pela natureza, traz logo outro não menos doce e mais permanente, pelo convívio mútuo. À força de se verem já não podem passar sem se ver novamente.” Daí nasce o ciúme que acabará levando, como diz, “ao sacrifício de sangue humano”.

Tal é o sistema de raciocínio a que recorre Rousseau para identificar a origem dos vícios e das maldades que, a seu ver, caracterizam a sociedade dos homens Originariamente trata-se de impulso altruístico que determina a ação isolada. Esta, em contato com outros homens, degenera mais das vezes em forma irreversível.

O trecho a seguir é algo extenso mas muito expressivo da forma como construiu sua teoria. Senão vejamos: “Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram a costurar suas roupas de peles com espinhos de plantas ou espinhos de peixe; a enfeitar-se com penas e conchas; a pintar o corpo com diversas cores ou embelezar seus arcos e flechas… enquanto se aplicaram apenas às obras que um homem podia fazer sozinho e às artes que não precisavam de concurso de várias mãos, viveram livres, sadios, bons e felizes…. Mas a partir do instante em que um homem necessitou do auxílio de outro, desde que percebeu que era útil a um só ter provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as várias florestas se transformaram em campos que cumpria regrar com o suor dos homens e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinaram e medraram com as searas.”


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