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{ ARTIGO }

Para o jovem brasileiro, a pandemia está longe de acabar

Rafael Auad, especialista em gestão pública, analisa dados obtidos por pesquisa do Conselho Nacional da Juventude

Rafael G. Auad, especialista em gestão pública

Edição: Scriptum

 

Com a diminuição dos casos de covid-19 nos últimos meses, quase 80% da população totalmente vacinada e a quarta dose da vacina já sendo aplicada, o cenário, no Brasil, é positivo. Pelo menos é o mais esperançoso que vivemos durante os últimos anos. Mas, então, por que os jovens, que hoje representam 23% da população, segundo o IBGE, continuam sendo afetados pela covid-19? Por que essa população passa por dificuldades quando falamos de trabalho e renda? E o ensino remoto não ajudou essas pessoas, como era esperado?

Um estudo feito pela Conjuve (Conselho Nacional de Juventude) em maio de 2021 (Juventude e Pandemia) apontou dados essenciais para ajudar a entender mais a fundo o problema. Segundo a pesquisa, mais de um ano após o início da pandemia, seis de cada dez jovens relataram ansiedade e uso exagerado de redes sociais; cinco a cada dez sentiam exaustão ou cansaço constante; e quatro de cada dez tinham insônia ou tiveram distúrbios de peso.

O aumento da ansiedade, desconforto, insônia e estresse estão interligados e hoje são efeitos duradouros da pandemia, que muitos jovens enfrentam diariamente. Sem acompanhamento psicoterapêutico, os sintomas persistem e reflexos como o aumento do uso das redes sociais são sentidos. A dificuldade de foco também é presente, influenciando diretamente nas atividades remotas, em especial ao ensino a distância, que foi adaptado para a quarentena.

Somado a isso, a pesquisa nos apresenta o reflexo econômico no âmbito do trabalho e da renda – desde 2020 houve uma tendência de os jovens buscarem por complementação de renda no período que o auxílio emergencial foi extinto. Com o aumento para 38% dos jovens que buscam por complemento financeiro, o reflexo direto se deu na esfera da educação. Comparando os dois últimos anos, houve uma diminuição de jovens que trabalham e estudam ao mesmo tempo, de 40% para 37%, e em paralelo houve a redução da quantidade de jovens que trabalham, porém não estudam, de 32% para 25%. A quantidade de jovens que se autodeclaram financeiramente dependentes também sofreu uma alteração, aumentando de 37% para 40%. E houve também o aumento dentro dessa própria categoria – agora jovens mais velhos, na faixa de 25 a 29 anos, se autodeclaram dependentes do dinheiro familiar para viver.

Com necessidade de trabalho e o aumento do desconforto emocional, a evasão escolar se tornou um caminho para essas pessoas. O motivo principal é o financeiro, mas também há a dificuldade para se organizar com o ensino remoto. Assim, o abandono do ensino se tornou uma realidade. A educação a distância, por si só, pode ser fator importante quando falamos em adaptação ao estudo. Muitos jovens se depararam com a falta de estrutura para conseguir acessar as aulas, desde o acesso à rede móvel até a obtenção dos equipamentos necessários em local adequado. Enquanto a faixa etária mais alta entra em evasão escolar por causa das questões financeiras e de trabalho, as faixas etárias mais baixas enfrentam dificuldades de outro tipo, como o engajamento no estudo remoto e nos conteúdos trabalhados on-line. O aumento de jovens fora da sala de aula (ou de um ambiente remoto de ensino) foi de 26% em 2020 para 36% em 2021, aumento significativo para essa parcela da população que precisa se desenvolver academicamente.

Neste cenário de jovens sofrendo de ansiedade e insônia, mais a diminuição do tempo dedicado aos estudos para seguirem no mercado de trabalho, é necessário o apoio do Estado. O apoio psicoterapêutico é ótimo para criar suporte emocional nas escolas e centros de ensino, dado que 48% dos entrevistados gostariam de atendimento psicológico especializado e 37% acreditam que o acompanhamento psicológico é necessário em toda a comunidade escolar. Assegurar também uma estrutura de suporte para a permanência do jovem no ensino, atrelado a redução da pressão de renda, pode ser viável para que essa população se mantenha aprofundando seus conhecimentos escolares.

Segundo o estudo, garantir renda é a condição para 36% dos jovens voltarem a estudar. Não podemos ser pragmáticos ou radicais quando o assunto é estudo da nossa população jovem. O jovem não deveria precisar escolher entre o trabalho e o estudo, pois a decisão financeira de curto prazo é muitas vezes a prioridade. Cabe ao estado dar esse apoio necessário para aqueles que irão formar o nosso mercado de trabalho, e que com sua força e conhecimento, vão gerar rendas e riquezas para a nação.


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