Por Antônio Paim
Tomo por base a descrição do historiador e escritor pernambucano José Maria Belo (História da República. São Paulo, Organização Simões, 1952. Capítulo XXII. Presidência Washington Luís, págs. 330/34).
A praxe da prática da presidência da República exercida pelos Estados indicava que, em 1930, seria a vez de Minas Gerais. O principal postulante ao cargo seria Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946), presidente do Estado de Minas Gerais entre setembro de 1926 e setembro de 1930. Pela tradição da política “café com leite”, como era chamado o acordo entre os governadores de Minas Gerais e São Paulo para que os Estados se revezassem no poder, era a vez de Arthur Bernardes escolher. Cabia-lhe a indicação pelo simples fato de que Washington Luís, o presidente em final de mandato, representava São Paulo.
Mas Washington Luís dispôs-se a preterir o acordo, tentando inaugurar nova modalidade de alternância, equivalente nada mais, nada menos, que a “café com café”. Seu candidato seria o então presidente de São Paulo, Júlio Prestes (1882-1946).
Minas vetou a candidatura Prestes e formou-se, então, a denominada Aliança Liberal, que registrou a chapa de oposição liderada por Getúlio Vargas, que se transferira do Ministério da Fazenda para o governo do Rio Grande do Sul em decorrência do fim das reeleições de Borges de Medeiros, imposta pela reforma constitucional de 1926.
As lideranças mais experimentadas da época perceberam claramente que o comportamento de Washington Luís punha em risco a sobrevivência da “política dos governadores”. Tentou-se, então, a conciliação. Foi aberta ao presidente a possibilidade de indicar um tertius mediante a renúncia simultânea das duas candidaturas em confronto. Ainda assim, como aponta José Maria Bello, “autoritário, altivo e obstinado”, Washington Luís “não se inclinaria jamais a qualquer transigência, repelindo, ao que parece duramente, qualquer alvitre em semelhante sentido.”
As eleições aconteceriam muito tempo antes da posse. O pleito ocorria em março e a posse a 15 de novembro. Consumada em março a farsa da vitória de Júlio Prestes, começou, abertamente, a conspiração para contestar o resultado pelas armas. O início da revolução foi sucessivamente adiado, até eclodir em 3 de outubro.
O movimento ocorreu simultaneamente nas regiões Nordeste e Sul, além do Estado de Minas Gerais.
No Nordeste, começou pela Paraíba. O contingente ali formado, em seu deslocamento, encontraria resistência apenas na capital pernambucana. Ocupada Recife, deslocou-se sem dificuldade até a Bahia.