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Milícias do Rio são tema de novo Caderno Democrático
Em entrevista, jornalista Rafael Soares conta como as milícias nasceram e se desenvolveram no Rio de Janeiro
Redação Scriptum O surgimento e crescimento do fenômeno das milícias no Estado do Rio de Janeiro é o tema da mais recente edição da série Cadernos Democráticos, já disponível para leitura on-line ou download gratuito no site da fundação para estudos e formação política do PSD. A publicação traz a íntegra da entrevista do jornalista Rafael Soares para o programa Diálogos no Espaço Democrático, disponível no canal de Youtube da fundação. Repórter do jornal O Globo, ele é autor do livro Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele (Editora Objetiva, 320 páginas). Na entrevista concedida ao sociólogo Tulio Kahn e aos jornalistas Sérgio Rondino e Eduardo Mattos, Soares detalha como as milícias, que nasceram no bairro de Rio das Pedras, na zona Oeste do Rio – pelas mãos de comerciantes que queriam se defender de bandidos – foram capturadas por ex-policiais, que trocaram a farda pelo crime. “O Estado tem grande responsabilidade no fato de policiais civis e militares se juntarem ao crime”, diz o jornalista. [caption id="attachment_38020" align="alignright" width="411"] O jornalista Rafael Soares[/caption] Ele usa como exemplo do seu argumento o ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, que denunciou os mandantes do crime recentemente. “O Lessa era considerado uma lenda na corporação, um cara que teve carreira meteórica, que foi de soldado a sargento em dois anos, o que aconteceu em razão dos muitos elogios, congratulações, gratificações por bravura, ou seja, a ficha dele era a de um robocop”, conta. “Mas quando comecei a apurar detalhadamente as ocorrências que alavancaram essa carreira meteórica, percebi que em todas elas havia suspeitas ou indícios de violações aos direitos humanos: tortura, execução, desvio de drogas ou armas; casos que não foram investigados como deveriam pela PM”. Para o jornalista, na época em que Lessa foi envolvido nesses muitos casos o Estado tinha como saber o modus operandi dele. “A política de segurança pública do Rio, e não estou me referindo a apenas um governo, deu faca e queijo na mão para o Lessa, que virou um criminoso porque o Estado formou ele para isso, fechando os olhos para os crimes que ele cometia e incentivando a cometer esses crimes com elogios, promoções”.
Card link Another linkAprovação de Lula piora, mas ainda supera a de Bolsonaro
Cientista político Rogério Schmitt analisa os números mais recentes de popularidade do presidente
IFood e a catástrofe
Parece que o pensamento crítico não sustenta a perspectiva de transformação revolucionária e o progresso, como está indo, leva à catástrofe, escreve Rubens Figueiredo
Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático Edição: Scriptum Impossível deixar de reconhecer: a esquerda intelectual brasileira pode estar meio enferrujada, mas é boa demais em marketing. Anuncia sua própria morte para estar em evidência. Assisti, até onde aguentei, a entrevista do filósofo Vladimir Safatle no site (ou blog) “A terra é redonda”. Vale o registro: o entrevistador é incansável na arte de concordar com o entrevistado. Reencontrei na explanação conceitos que jaziam tranquilos na primeira juventude dos meus neurônios. “Novas dinâmicas da acumulação primitiva”, “processos de autogestão operária”, “formas inovadoras de aprofundar as contradições do capitalismo”. Neurônios deram uma acelerada e me lembraram do “valor de uso e valor de troca”, “exército industrial de reserva”, “lei da queda tendencial da taxa de lucro”, “comitê executivo dos interesses da burguesia”... Os eixos da crise sistêmica estão nos espaços do trabalho, do desejo e da linguagem, que operam todos através de estruturas de sintaxe que reproduzem a ordem estabelecida. “As crises conexas, que devem ser analisadas dessa forma (por isso eu falei do 6 + 1), na base dessa crise existe uma crise sistêmica, dos regimes do saber”, explica Safatle. Há uma diferença entre a violência de esquerda e a fascista. A violência comunista, União Soviética no caso, era operada contra “setores descontentes” da população. Interpretei como algo, digamos, aceitável. Já o fascismo traz em si o germe de sua própria destruição: é mais do que um Estado totalitário, é um Estado “suicitário”, continua. O governo Bolsonaro operou a “suspensão do cálculo do interesse individual, mudou a ideia do risco da morte”. O discurso do empreendedorismo, que é uma realização de uma ideia de liberdade onde cada um procura resolver seus problemas por si só, é a expressão do individualismo egoísta. O empreendedorismo deve ser combatido, pois é anticoletivista, refratário ao Estado, sindicatos, associações. As causas identitárias têm potencial de causas universalistas. A própria luta de classes é uma luta identitária. A reconfiguração do capitalismo, que opera em uma “necessidade de crise”, força a cooptação do ativismo. Isso explicaria a presença de tantos representantes do ativismo nas campanhas publicitárias. O capitalismo tenta mostrar que é possível uma “integração bem-sucedida” com os identitários. Confesso que não consegui entender tudo, mesmo revendo os trechos mais profundos, nos trinta e poucos minutos que assisti ao programa. Mas é impressionante a desenvoltura e a segurança com as quais Safatle conduz raciocínios muitas vezes nebulosos. Entendi que o pensamento crítico não sustenta (mais) uma perspectiva de transformação revolucionária. E parece que o progresso, do jeito que está indo, leva à catástrofe. Não vou arriscar. Vejo no celular que a temperatura é de 30 graus. Enquanto a catástrofe não vem, vou ligar o ar-condicionado e assistir um filme que concorreu ao Oscar no “streaming”. Depois, peço um sorvete no IFood.
Card link Another linkTalentos, tecnologia, tesouros e tolerância
Economista Luiz Alberto Machado escreve sobre as características que levam uma cidade a ser considerada criativa
Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
O título deste artigo é o do subtítulo do livro Cidades criativas, em dois volumes, de autoria do professor Victor Mirshawka (São Paulo: DVS Editora, 2017). Li o primeiro volume às vésperas da publicação, pelo Espaço Democrático, da primeira edição do livro Economia + Criatividade = Economia Criativa (Scriptum, 2022), que tem uma seção dedicada às cidades criativas brasileiras. Agora, na iminência da publicação da segunda edição – revista, ampliada e atualizada do mesmo livro –, li o segundo volume.
Mirshawka discorre sobre 45 cidades - 15 na Europa, 13 na América do Norte, sete na Ásia, três na América do Sul, três no Oriente Médio, duas na Oceania e duas na África - que ele considera criativas, por razões que explica detalhadamente na descrição de cada uma delas.
Entre os especialistas, alguns indicam determinadas características para identificar uma cidade criativa. Ana Carla Fonseca, consultora brasileira reconhecida nacional e internacionalmente, afirma que três são os pré-requisitos fundamentais de uma cidade criativa: ser fonte de inovações, conexões e cultura.
No livro objeto deste artigo, Mirshawka utilizou como base teórica a visão de Richard Florida, urbanista canadense que é autor de um livro tido como referência sobre economia criativa, A ascensão da classe criativa (Porto Alegre: L&PM, 2011). Sua visão da economia criativa tem como foco o comportamento e os hábitos dos indivíduos que atuam nos setores por ela abarcados e que se distinguem claramente daqueles que atuam nos setores tradicionais, como agricultura, indústria de transformação, comércio e finanças.
Florida aponta a existência de três “tês” como identificadores de uma cidade criativa: tecnologia, talento e tolerância. No seu entender, "cada uma dessas condições é necessária, mas sozinha é insuficiente para atrair indivíduos criativos, gerar inovação e estimular o crescimento econômico; um lugar precisa reunir as três".
Segue-se uma descrição sumária dessas três condições:
Tecnologia - Dois indicadores são fundamentais no que se refere ao primeiro “T”: o índice de inovação, medido pelo número de patentes concedidas per capita, e o índice de alta tecnologia, que avalia a economia de uma cidade ou região (tanto em termos de tamanho quanto de concentração) em setores de crescimento acelerado como a indústria de software, a eletrônica, os produtos biomédicos e os serviços de engenharia.
Talento - Este segundo “T” depende da eficácia de uma cidade ou região em atrair talentos, um indicador de capital humano simples que corresponde ao percentual da população com curso superior ou mais. Ser um centro universitário importante costuma ajudar muito, pois as universidades contribuem para a atração de cientistas e pesquisadores eminentes, a captação de alunos e a geração de empresas, provocando um ciclo de crescimento que se auto alimenta.
Tolerância - Este terceiro “T” é avaliado em função do grau de diversidade existente em cada cidade ou região, caracterizado pelo que os economistas chamam de “baixas barreiras de entrada”, o que serve para explicar tanto a vitalidade no plano empresarial, na medida em que permitem o fácil acesso de novas empresas, como no plano individual, uma vez que permitem que pessoas recém-chegadas sejam aceitas rapidamente em todo tipo de esquema social e econômico.
A essas três condições previstas por Florida, Mirshawka adicionou uma quarta, tesouros, quer sejam representados por suas belezas naturais, quer sejam construídos e preservados pela sua gente, como museus, templos, palácios, teatros, centros culturais, parques etc.
Ao discorrer sobre as 45 cidades por ele selecionadas, Mirshawka inicia com um breve histórico de cada uma delas. Segue-se uma análise de suas contribuições tecnológicas, dos talentos lá nascidos ou que para lá foram atraídos, da tolerância que facilita o ingresso e a convivência de diferentes pessoas, empresas ou outros organismos, bem como dos principais tesouros que as qualificam como criativas e que justificam o elevado grau de visitabilidade das mesmas. Por fim, encerra com sugestões de lições que cada cidade oferece e que podem, eventualmente, servir de inspiração para gestores municipais de qualquer lugar do mundo.
Considerando a importância crescente da economia criativa, fica minha recomendação de leitura não apenas para os interessados nesse tema, mas a qualquer pessoa que aprecie - e quem não aprecia? - conhecer novos lugares, uma vez que na descrição de cada cidade há um verdadeiro roteiro para qualquer indivíduo que viaje a turismo ou a negócios.
Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
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